Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COLUNA DO LOC

22 junho 2008

JB, Caderno B
22 de junho de 2008
cadernob@jb.com.br

A morte do E.S.T.

Com a precoce e chocante morte do pianista sueco Esbjörn Svensson, 44 anos ­ acidentado quando praticava mergulho nas águas do Mar Báltico, no fim da semana passada ­ morreu também o trio E.S.T., um dos mais premiados, polêmicos e originais pequenos conjuntos de jazz surgidos na Europa nos últimos 15 anos. Apesar de o líder ter suas iniciais na marca registrada do trio ­ que nasceu, na primeira metade da década de 90, como uma versão nórdica do Standards Trio de Keith Jarrett ­ o baixista (acústico e eletrônico) Dan Berglund e o baterista Magnus Oström passaram a atuar no grupo, com o correr do tempo, de maneira mais hiperativa (ou hipertensa) do que simplesmente interativa.

Em 2005, o E.S.T. foi uma das principais atrações e foco de muita controvérsia no Festival Tudo é Jazz, em Ouro Preto, como esperava a curadora do já consagrado encontro musical, Maria Alice Martins. Até porque, àquela altura, o enigmático (ou irônico) Svensson definia o trio como "a única banda de rock que toca jazz". Na ocasião, ao fazer um balanço do festival, escrevi neste mesmo espaço: "Na noite final, o E.S.T. surpreendeu quem não conhecia seus dois últimos discos, ao passar ­ em crescendos bem planejados ­ do andante ao allegro vivace, do romantismo quase chopiniano e das divagações a la Keith Jarrett de Svensson a extravagantes espetáculos sonoros provocados pelas engenhocas eletrônicas dos integrantes do trio, sobretudo pela arco preparado do baixo de Berglund. Números como Trepidation e Mingle in the mincing-machine (do CD Viaticum) chegaram ao fim depois de `viagens' virtuosísticas, sem rumos nítidos, sob nuvens sonoras bem próximas da zona de `tolerância zero' (título, aliás, de um álbum mal sucedido de Pat Metheny)".

A minha opinião sobre o conjunto que veio do frio e passou a ser sucesso garantido nos grandes festivais de verão do Hemisfério Norte (estava, neste sábado, na programação do JVC Jazz Festival de Nova York) não mudou. E foi confirmada pela audição do álbum Tuesday Wonderland (Emarcy/Act), lançado no fim de 2006. Como já foi dito, o jazz é "o som da surpresa". E esse era o negócio do E.S.T., que não era, absolutamente, "a única banda de rock que tocava jazz", nem produzia aquele tipo de fusão jazz-rock que a revista Downbeat costuma catalogar como beyond. A manipulação às vezes exagerada da eletrônica (sobretudo nos discos de estúdio) era com- pensada por um tipo de jazz de câmera acústico ou semi-acústico, com
swing explícito ou velado ­ neste último caso em divagações líricas e até etéreas, na linha conceitual predominante do selo alemão ECM.

Maria Alice Martins, ao saber da morte de Esbjörn Svensson, enviou um e-mail aos amigos, do qual destaco o seguinte trecho: "Quando tive o prazer de trazer o E.S.T. ao Festival de Ouro Preto, todos os que puderam assistir ao espetáculo ficaram maravilhados. Era uma música nova com grandes influências visuais, mostrando como o ambiente natural influencia o músico. Eu chamava de `jazz gelado' a música que faziam, por nos transportar aos lagos congelados e aos campos da Suécia no inverno. Além da forte presença do meio ambiente do país de origem, havia vanguarda e elegância no jazz erudito de Svensson". A vanguarda e a elegância do E.S.T. estão devidamente "congeladas" em Tuesday Wonderland, Seven days of falling (215 Records, 2003) e na compilação feita pela Sony, em 2000, de suas primeiras gravações, tendo como título a faixa Somewhere else before.

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