Aproveitando as inúmeras citações recentes aqui no CJUB do pianista
Stefano Bollani, nada mais oportuno do que uma resenha de seu mais novo CD, ainda inédito, e que, se não é jazz de raiz, pelo menos deve despertar a curiosidade de qualquer apreciador da boa música.
Bollani dessa vez resolveu prestar uma homenagem à música brasileira, depois da visita ao Rio que fez em Dezembro último, como parte de um intercâmbio entre Itália e Brasil (Umbria Jazz Brasil). O italiano até fez uma apresentação gratuita numa favela em Laranjeiras para lançar o álbum, com a participação dos mesmos músicos brasileiros que atuaram no projeto. Bollani Carioca – é o título do CD – contou com
Marco Pereira (violão),
Zé Nogueira (sax),
Jurim Moreira (bateria),
Jorge Helder (contrabaixo) e
Armando Marçal (percussion), além dos cantores
Zé Renato e
Mônica Salmaso.
Bollani já havia homenageado
Jobim em 2003 com um bonito álbum chamado Falando De Amor. Gravou também temas da Bossa-Nova em duo com
Phil Woods. Dessa vez o repertório foi bem mais variado, como um retrato da música brasileira em todas as suas manifestações e épocas.
Aos 35 anos, o pianista de Milão já mostra maturidade e competência suficientes para se arriscar a qualquer projeto mais ousado. Bollani Carioca é uma prova, a partir de alguns clássicos da nossa música não muito familiares aos gringos, passando por Pixinguinha, Nelson Cavaquinho e Chico Buarque. O CD é agradável e criativo do início ao fim, com um momento no mínimo emocionante quando Mônica Salmaso canta Folhas Secas em duo com o italiano. Se Bollani foi eleito o músico do ano na Europa – prêmio Hans Koeller – não foi à toa. Além de jazzista, é um pianista completo. E já para 2008 tem mais de 200 apresentações agendadas.
01. luz negra
02. ao romper da aurora
03. choro sim
04. valsa brasileira
05. a voz do morro
06. a hora da razão
07. segura ele
08. doce de coco
09. folhas secas
10. il domatore di pulci
11. samba e amor
12. tico-tico no fubá
13. caprichos do destino
Repubblica e L’Espresso (2007)
Stefano Bollani – piano, arranger
Zé Nogueira – sax , producer
Jurim Moreira – drums
Marco Pereira – guitar
Jorge Helder – bass
Zé Renato - vocal (*6)
Mônica Salmaso - vocal (*9)
Armando Marçal - percussion
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PS. No Som na Caixa, uma aula de como um tema surrado (Tico-Tico No Fubá) ganha quando o músico sabe a importância da harmonia no jazz moderno. Aqui, um Bollani "monstruoso", expressão benechisniana...
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No estúdio com Stefano Bollani (Antônio Carlos Miguel)
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O tal disco carioca que o pianista italiano comentou na entrevista publicada neste domingo no Segundo Caderno está se material¡zando. Hoje, no fim da tarde, passei quatro horas no estúdio e pude ouvir algo do que eles gravaram ontem e acompanhei Marçalzinho botando sua percussão em algumas das faixas. Produção de Zé Nogueira e Alberto Riva (este um jornalista italiano especializado em música, autor da biografia do trompetista Enrico Rava, e que agora, casado com uma brasileira, trabalha como correspondente de agências italianas aqui no Rio), o repertório passa longe da obviedade, incluindo Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Zé Kéti ("A voz do morro"), um "Tico-tico no fubá" genialmente desconstruído e um maxixe do próprio Stefano, que também ouvi. Uma base brasileira, com o baterista Jurim Moreira, o baixista Jorge Helder e o violonista Marco Pereira, garante o balanço local, mas Bollani manja muito da música brasileira - Riva contou que ao conhecê-lo, dez anos atrás, ele já tocava samba. Dois músicos do seu quinteto, que se apresentará domingo, no palco Club do TIM Festival, também participam do "discacarioca": o saxofonista Mirko Ismael Silva que iria gravar em seguida e o clarinetista Nico Gori. Segundo Zé Nogueira, que também participa, num duo de piano e sax soprano, o disco sairá no Brasil pela gravadora MP,B (distribuida pela Universal), enquanto na Europa ficará por conta de Bollani e Riva o acerto com algum selo.
PS. (em 10 de novembro): acabei de falar com Riva, e ele me corrigiu: "Apenas Stefano que cuidará do lançamento na Europa").
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