Certa ocasião Sylvio Tullio Cardoso chegou nas Lojas Murray com meia dúzia de livros e distribuiu a alguns freqüentadores. Fui agraciado com um exemplar e para minha surpresa a segunda edição do “Jazz Panorama” de Jorge Guinle veio com uma dedicatória do autor ( Ao Luiz Carlos Antunes, cordialmente, Jorge Guinle). Claro que ficamos envaidecidos, afinal de contas o famoso “Jazz Panorama” alcançara a segunda edição revista e aumentada e tínhamos recebido a atenção do autor. Esse foi meu primeiro contacto com Jorge Guinle.
Quando o “ Clube de Jazz e Bossa” foi fundado, comparecemos a algumas apresentações, inclusive na inauguração ocorrida na boite “Gaslight” ,em companhia de alguns amigos . Fomos também agraciados com o titulo de “sócio honorário” e logo convidados a participar das reuniões da diretoria que eram realizadas no apartamento de Jorginho às segundas feiras.
Pediram minha colaboração , embora eu não fizesse parte da diretoria. O problema é que alguns diretores não compareciam às reuniões e suas atribuições sobrecarregavam os demais . Não tinham quem secretariasse as reuniões e fiquei com o cargo de secretário executivo.
A primeira vez que fui ao apartamento de Jorge fiquei deslumbrado com a sua discoteca. Um armário baixo ocupava todo o comprimento da varanda e nele estavam guardadas algumas centenas de Lp’s.
Em cima do piano de cauda, mais algumas dezenas de discos “ajudavam” na decoração. Nessa noite conversamos muito antes da reunião. Falei sobre a cantora Lizzie Miles, cujas gravações ouvira no apartamento de Sylvio Tullio . Jorginho teceu elogios à Lizzie mas quis me mostrar outra vocalista que achava “formidável”.... Claire Austin. Colocou o disco e naquele momento eu fui apresentado a uma das mais surpreendentes vozes do chamado Jazz tradicional. Claire Austin . Branca, loura, quarentona (na época) , magra e com uma potente voz negróide . Os “blues” que cantou com acompanhamento do grupo de Kid Ory foram exaltados por todos os presentes. Para mim o mais emocionante foi o “Empty bed blues”.
Fui reencontrar Jorginho durante o curso “Introdução ao Jazz” realizado em 1990 no Museu do Ingá. Estávamos escalados para a palestra “Os grandes solistas de Jazz”. Jorge faria a primeira parte abordando o Jazz tradicional e eu na semana seguinte falaria sobre a fase moderna. Entre uma conversa e outra pedí a Jorge que autografasse a primeira edição do “Jazz Panorama” o que êle fez com prazer. (Ao Lula, um apaixonado do nosso Jazz e um grande “expert”. Com carinho, Jorge Guinle)
Uma semana antes dessa palestra fui convidado por Jorge para ir a sua casa. Queria falar comigo. Humildemente me perguntou se poderia incluir Charlie Parker na sua palestra, embora seu assunto fosse os solistas do Jazz tradicional. Nem permiti que ele justificasse o pedido. Claro que Jorge falar sobre Parker, a quem assistiu, com quem conversou e até sua foto com “Bird” saiu em livro, era obrigatório . Agradeceu bastante a “autorização” e entre um whisky e outro ouvimos as ultimas novidades que recebera.
No encerramento do curso “Introdução ao Jazz”, produzido por Pedro Paulo Medeiros, com festa e “jam session” realizadas no “Plaza Shoping Niterói”, houve a distribuição do troféu”Victor Assis Brasil” e eu estava entre os agraciados como produtor do “Melhor Programa de Jazz”, segundo os eleitores e tive a satisfação de receber o prêmio das mãos de Jorginho Guinle. Considerei mais uma divisa para “O Assunto é Jazz” .
O mesmo Pedro Paulo Medeiros conseguiu na época fazer um programa na Rádio Eldorado intitulado “Cotton Club”. No encerramento do ano, resolveu reunir em audição festiva os disc-jockeys que tinham programas de Jazz : Luiz Carlos Antunes, Arlindo Coutnho, Eduardo Tróia, Ana Lúcia Bizinover e Nelson Tolipan. Convidado especial : Jorginho Guinle. Aconteceu então um fato muito interessante. Falaram no Clube de Jazz e Bossa e eu aproveitei a oportunidade e mostrei aos presentes a minha carteira de sócio honorário. Jorginho satisfeito com o que viu exclamou : “Vocês estão pensando o que ? O Clube de Jazz e Bossa tinha até carteira ! “
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