Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho)*in memoriam*; David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels)*in memoriam*,, Pedro Cardoso (o Apóstolo)*in memoriam*, Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge), Geraldo Guimarães (Gerry).e Clerio SantAnna

HISTÓRIAS DO JAZZ n° 48

26 novembro 2007

“AS VAIAS”
Vaia é uma coisa deprimente. Primeiro porque geralmente é unânime , depois a “vítima” se torna totalmente indefesa na base do um contra todos. Assisti a duas vaias memoráveis. A primeira num jogo entre Brasil e Inglaterra com o Maracanã lotado. Ao ser anunciada a escalação de Julinho no lugar de Garrincha o estádio prorrompeu em calorosos apupos. Todos queriam Garrincha pelas maravilhosas atuações na Copa do Mundo. Julinho impassível deu a resposta em menos de dez minutos. Duas jogadas suas terminaram com os gols do Brasil que decidiram a partida.
A outra teve como vítima o cantor Sérgio Ricardo, em um dos Festivais da Canção. Sua composição “Beto bom de bola” foi mal recebida pelo público e logo logo a ira do cantor apareceu quando este quebrou o violão e arremessou contra a platéia.
Pois nós também fomos vítimas de uma estrondosa vaia, num momento em que tive que obedecer a uma “ordem superior” e conto como foi.
Em outubro de 1983 recebi correspondência da “Casa Thomas Jefferson” me convidando para ser o MC do VI Festival Internacional de Jazz de Brasília, nos das 28, 29 e 30 daquele mês. Aceitei a proposta e imediatamente viajei para a capital na certeza de encontrar entre os participantes muitos amigos. Lá estava a “Traditional Jazz Band”, um dos pontos altos do evento e seria um prazer reencontrar Cidão, Chaim, Eddo Calia etc.
Não pude ir ao coquetel de inauguração vitimado por tremenda dor de cabeça e pequenos derrames nasais . A famosa secura de Brasilia me pegou em cheio.
Dia seguinte fui para o Centro de Convenções assistir a algumas passagens de som e tomar conhecimento das minhas funções .Peguei a programação e não tive dificuldades em assimilar o que faria no palco.
No primeiro dia a coisa desandou. A Orquestra de Jazz de Brasilia, a primeira a se apresentar atrasou toda a programação em mais de meia hora mas, como é comum em nossa terra, o atraso faz parte .
Terminada a programação fui procurado pelo adido cultural da Embaixada
americana, miss Dotty Jones, uma negra baixinha, gorducha ,simpática e determinada que me cobrou o atraso na programação. Expliquei que o problema fora causado pala orquestra que abriu o espetáculo ,que aguardava músicos atrasados que demoraram a colocar as estantes com as partituras no lugar determinado. Insistiu que eu tinha responsabilidades e então informei que fora convidado para mestre de cerimônias e não para diretor de palco .Respondeu delicadamente mas com uma alfinetada : “que isso não se repita”.
Ao final do segundo dia quando tudo correu dentro dos conformes , veio miss Dotty Jones me cumprimentar dizendo :”Hoje sim, você foi competente”.
Aí veio o terceiro dia. No palco a “Traditional Jazz Band” apresentando uma atuação impecável e posso dizer que realmente foi o grupo mais aplaudido daquele festival. Um número atrás do outro despertando o entusiasmo da platéia. Quando vislumbrei na primeira fila Miss Dotty Jones apontando para seu relógio de pulso e cruzando as mãos dizendo que o tempo acabara.
Fiz sinal para Carlos Lima, então trumpetista da banda, que o tempo acabara e terminado o tema os músicos começaram a se retirar do palco. Mas,os pedidos de bis eram muitos, a platéia exigia pelo menos mais um número.Olhei para Miss Jones na esperança de que fosse concedido mais um número atendendo a platéia mas,os sinais da moça foram peremptórios.
Ocupei o microfone para explicar o que acontecia mas fui surpreendido com vigorosa vaia. Me senti um Sérgio Ricardo sem violão para quebrar e atirar na platéia. Quando perguntei “Posso falar ?” um não unânime barrou qualquer iniciativa nesse sentido.
Nos bastidores fui informado que fora decretado um “estado de emergência” e que o público deveria se retirar pelas saídas laterais do teatro.
Aproveitei a oportunidade e ao voltar ao palco disse mais ou menos o seguinte : “Gostaria de informar a vocês que ninguém aqui gosta mais do que eu de Jazz tradicional, principalmente quando tocado pela Traditional Jazz Band onde só tenho amigos. A determinação do encerramento do seu set veio de miss Dotty Jones a quem temos que obedecer. Informo também que estamos em estado de emergência e que vocês deverão deixar o teatro pelas
saidas laterais.”
Em seguida anunciei o ultimo grupo que encerraria a noite e o festival. Quinteto do saxofonista Billy Harper. Alguém veio me dizer que a decisão de miss Jones em cortar o bis da Traditional era para dar mais tempo a Billy Harper.
Na verdade, o tal estado de emergência determinava que todas as atividades fossem encerradas as 24 horas. Coisas do Jazz.

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