Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HISTÓRIAS DO JAZZ N° 42

06 julho 2007

No tempo do Colis Posteaux.

Essa história tem inicio em meados dos anos cinqüenta quando um jornalista aqui de Niteroi, José Torreão,que fazia a coluna social do jornal “O Estado”. foi para os Estados Unidos. Nós o conhecíamos por freqüentar sempre os mesmos lugares como o “Praia Bar” , o”Petit Paris”, clubes e casa de amigos onde esporadicamente faziam festas. Aniversários, casamentos, batizados ou simples reuniões lá estava Torreão fazendo a “varanda” para a sua coluna.
Entretanto, nunca soubemos que gostasse de Jazz . Porisso ,ao retornar dos “States”, foi uma surpresa para nós quando trouxe uma dúzia de elepês que levou em romaria na casa dos amigos para que tomassem conhecimento. Confesso que tais discos me causaram um grande impacto abrindo uma nova porta para o meu conhecimento jazzistico.
Alguns elepês de dez polegadas entre os quais “Shelly Manne and his men-volume 1”, “Chris Connor – Lullabys of Birdland “ com apresentação do produtor Bob Garrity. (A narração de Garrity só aconteceu nesse 10 polegadas), “Chet Baker Sextet”, “Daver Brubeck Quartet – Jazz at Oberlin”, “Bud Shank & three trombones” me colocaram nas nuvens. Que músicas bonita, bem feita, com arranjos sensacionais como os de Marty Paich para o disco de Shelly Manne .
Comecei a matutar como conseguiria adquirir tais discos. Nesse tempo as lojas não faziam encomenda e apenas o Jonas nas Lojas Murray importava alguma coisa quando tinha portador. Copiei os enderêços da Pacific Jazz e da Contemporary Records e com o auxílio de um amigo que me ajudou no inglês,escrevi para as gravadoras perguntando se poderia comprar seus discos pelo correio.
David Stuart (Contemporary) e Richard Bock (Pacific Jazz) não custaram a responder, informando que poderiam enviar os discos mediante pagamento por cheque em dólares. Por sorte tínhamos um amigo que trabalhava no City Bank e facilitou nosso trabalho. Fizemos o primeiro pedido,enviando os competentes cheques e ficamos aguardando a resposta . A remessa era via marítima e bastante demorada . Uns trinta dias depois recebí a comunicacão postal de que minha encomenda chegara. Deveria retirá-la no “Colis Posteaux” que ficava ali na Rua do Mercado.
Assim fizemos, pegando os discos num balcão , onde o conferente abria o pacote ,conferia o conteúdo e estipulava uma quantia que devíamos pagar em selos .
Umas cinco ou seis vezes a operação se repetiu sem nenhum problema. Chega-vam os avisos, eu ia ao “Colis Posteaux”, pagava os selos , retirava os discos e satisfeito ia para casa curti-los.

O PROBLEMA

Um dia, talvez por ter exagerado no pedido, eram cinco discos (três elepês de dez e dois de doze polegadas) tive a grande decepção. Ao apresentar o aviso no balcão o conferente pegou o pacote e informou que o mesmo estava retido. Para retirá-lo eu teria que fazer um requerimento a CACEX solicitando licença de importação e me mostrou o modelo . Abrí minha pasta, peguei uma folha de papel e ia começar a copiar quando perguntei ao funcionário quanto tempo demoraria. A reposta foi dura : de seis a oito meses. Fechei a pasta e perguntei quem era o chefe do setor. Queria falar com ele, explicar que não pagava pelos discos, tanto que no pacote tinha o carimbo “Duty Free”.
O bom conferente, notando minha ansiedade informou. O chefe é o Santana, ele é duro mas,se o chamar de doutor pode ser que ele quebre o galho. Olhei para o chefe, era um robusto mulato sessentão, óculos na testa e nenhum fio de cabelo a não ser nas têmporas. Folheava calmamente uma revista olhando de vez em quando para o balcão, fiscalizando o atendimento .
Humildemente me aproximei de sua mesa e pedindo licença indaguei :
“Dr. Santana, posso falar com o senhor ?
Colocou os óculos na testa mandou que eu sentasse e perguntou qual era o assunto.
Expliquei : “Dr. Santana, eu sempre recebí discos dos Estados Unidos e nunca tive problemas em retirá-los. Hoje fui surpreendido ao ser informado que meu pacote está retido .
Olhou para mim e disse que era uma questão de lei. Para importar qualquer coisa em transação comercial, era necessário uma autorização da CACEX .
Obtemperei, não gastava nenhum tostão com os discos, pelo contrário , como radialista, trocava discos de música brasileira pelos de Jazz com colegas americanos, tanto que nos pacotes sempre tinha o carimbo “Duty Free” e para comprovar minha condição, exibí minha carteira da Associação Brasileira de Rádio.
O velho Santana, cobra criada,respondeu. Esse carimbo de “Duty Free” é uma jogada que todo o mundo aplica pensando que nós somos bobos. Mas, vou acreditar na sua história . Agora depende do conferente .
Um “muito obrigado Dr.Santana” equivaleu a um suspiro de alívio. Voltei ao balcão e informei ao funcionário que o Dr. Santana liberara o pacote. O mesmo sorrindo sussurrou. “Chamou ele de doutor não foi ?” Paguei os selos devidos,recebi o pacote e nunca mais voltei ao “Colis Posteaux”. Afinal de contas ,não gostaria de mentir outra vez.

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