
Pelas graças do amigo e confrade CJUBiano
Bené-X, caíram-me nas mãos, na última hora mas em horário confortável ainda, dois ingressos que ele tinha conseguido para o recital de
Pablo Ziegler e seus dois excepcionais acólitos, para a noite de sábado, no Centro do Rio.
Casa lotada, Teatro III do
CCBB, entulhado de mesas numa disposição tal que me fez rezar fervorosamente - e vejam, sou um agnóstico de carteirinha - para que nenhuma fagulha ou faísca ocorresse ali, fora do palco, ou seria o fim, ao som de Piazolla, ao menos. Não entendo como o Corpo de Bombeiros permite aquilo, mas, vamos ao que interessa.

Ziegler, que dispensa apresentações (e quem não o conhece, pode ler uma ótima entrevista sua neste link
AQUI) domina com largueza a técnica do piano jazzístico. Suas composições são calcadas no sentimento tristonho e denso do tango novo, como inventado por seu principal mentor e líder por inúmeros anos, Astor Piazolla - que ao final dos anos 60, "expulsou-se" para a Europa, em vista das críticas dos tradicionalistas portenhos. Ziegler, pianista de seu quinteto quando retornou a Buenos Aires, já dava vazão, nas interpretações dos temas de Astor - motivo principal, segundo ele mesmo, de sua contratação - aos improvisos e a um fecundo encontro entre as marcações cadenciadas do tango, principalmente na região mais grave do teclado, às filigranas de tempos e vozes, muito ricas, do
bandoneón. Ainda segundo Ziegler, era Piazolla quem o incentivava a "alegrar" as execuções atravpes dos improvisos, que só bem depois ele mesmo adotou.

Na apresentação de ontem, assim como na anterior, no Mistura Fina, há dois anos, esta tarefa esteve a cargo do excepcional
Walter Castro, jovem músico que estudou com o grande Nestor Marconi e que domina por completo o instrumento, trocando de andamentos e fôlegos com o líder por telepatia. Os improvisos encadeados de ambos em torno das temáticas sombrias as tornam mais instigantes e ricas e agem como sopros de vitalidade sobre elas, sem perder nada de sua dramaticidade intrínseca.

A arte de ambos é secundada pela segurança e o talento do não menos competente guitarrista
Armando de la Vega, cuja biografia o menciona como o Diretor Pedagógico do Instituto Superior de Música Popular, da Sociedade Argentina de Músicos. E que, tocando, é isso tudo aí mesmo. Suas bases foram criativas e integradoras e seu dedilhado, mesmo que bastante sutil no toque, me pareceu (nas raras oportunidades de destaque) extremamente inteligente e instigador, denotando um fervilhar de idéias que poderiam, em outras circunstâncias, ter bem mais espaço.
O belo concerto, que alternou temas de Piazolla e Ziegler, teve
Michelangelo 70,
Fuga y Misterio,
Chin Chin, e
Libertango, do primeiro e
La Fundición,
Blues Porteño,
Buenos Aires Report,
Milonga del Adiós,
Muchacha de Boedo e
La Rayuela, de Ziegler, criou uma atmosfera mágica e estimulante, e o bom público presente aplaudiu os artistas de pé, exigindo um bis, que se não me engano, foi o tema
Inverno Porteño, de Piazolla.
Cotação:
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