Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HISTÓRIAS DO JAZZ - N° 34

08 maio 2007

Victor Assis Brasil – Encontros

A primeira vez que ouvi e assisti Victor Assis Brasil , foi nos tempos do “Clube de Jazz e Bossa” quando ainda funcionava no “Golden Room” do Copacabana Pálace. Uma acalorada tarde de domingo,casa cheia e o palco ocupado pelos chamados “All-Stars” da época: Cipó,Aurino ,Juarez, Clélio Ribeiro, Vinhas, Tião Marinho e na bateria um rapaz que diziam ser um príncipe espanhol chamado Rafael. Enquanto os solistas se esmeravam em exibições técnicas, com as famosas escalas ascendentes e descendentes e os ruídos cacofonicos da moda, a platéia alegre ria, gritava, conversava e pouco ligava para o que estava acontecendo.
Foi quando apareceu um jovem, com um sax-alto pendurado ao pescoço, subiu ao palco e aguardou a sua vez. Esperou algum tempo mas, quando deram a deixa “entrou com tudo “. Lembro-me de um depoimento de Hoagy Carmichael, contando quando viu Bix pela primeira vez. Quando ouviu a primeira nota, apagou o cigarro, engoliu o resto da bebida e se fixou no artista até o final da improvisação. Aconteceu o mesmo, não só comigo mas com toda a platéia presente. Foi Victor emitir a primeira frase e as conversas pararam, as atenções se voltaram inteiramente para o palco. Ali estava uma nova voz. Sonoridade meio agressiva, fraseado fantástico e uma organização nos improvisos como não se ouvia há muito tempo. Ali estava um competente admirador de Jackie McLean.
Passam os anos e Victor grava o famoso álbum para a Odeon “Victor Assis Brasil Quinteto”. Foi marcada uma entrevista coletiva e eu,na época, escrevia uma coluna na “Tribuna da Imprensa” . Fui o primeiro a conversar com Victor, começando nosso diálogo às 12 horas. Iniciei contando a passagem do Copacabana e logo em seguida perguntando se Jackie McLean era a sua maior influência. Ele respondeu que no início sim mas, agora prestava mais atenção a Phil Woods. Falamos sobre o álbum “The Connection” com o quarteto de Freddie Redd e óbviamente McLean e ele me disse que não possuía mais a fita e perguntou se poderia lhe ceder uma cópia.
Claro ! respondi enquanto me levantava para sair. Ele me segurou pelo braço e falou:
“Lula, fique comigo até o final da entrevista, assim você me ajuda nas respostas.”
Concordei imediatamente e alí fiquei até as dezoito horas, em jejum mas, regiamente recompensado. Basta dizer que Victor colocou a seguinte dedicatória no meu disco:
“Lula, espero que esse autógrafo sedimente uma amizade duradoura. Um grande abraço, Victor"
Corria o ano de 1979 e Victor se apresentou na Sala Funarte com o seu quarteto, trazendo Luiz Avellar, Paulo Russo e Ted Moore na seção rítmica. Foi uma audição excelente, na qual, quando me distinguiu na platéia, inseriu em seu solo dois clichês do tema “Sister Salvation” do álbum ”The Connection”, que ambos apreciávamos. Fomos para os camarins para uma ligeira entrevista. Foi quando ele me apresentou a cantora Lenita Bruno. Quando ela pronunciou o seu nome,apertei fortemente a sua mão e disse :”Lenita, é muito prazer mesmo !”
Para os que não conhecem, Lenita Bruno era uma cantora diferente da maioria pois tinha voz de mezzo soprano . Foi casada com o maestro Leo Perachi e cantou muitos anos na Rádio Nacional. Seu repertório se dividia entre música americana e nosso folclore. Casou-se pela segunda vez com o baterista Paulinho Magalhães e foi para os Estados Unidos onde morou durante muitos anos. Lá gravou um álbum com Bud Shank e Laurindo Almeida intitulado “Work of love” . Foi também a primeira cantora a registrar em disco a música de Tom e Vinicius no álbum “Por toda a minha vida”.
Contei que tinha todos os seus discos e estava atrás do “Work of love”.
Respondeu que infelizmente não tinha um exemplar para me oferecer mas, tentaria conseguir. Anotamos os telefones e pelo menos uma vez por semana Lenita ligava e falava-mos sobre sua carreira nos Estados Unidos e da sua dificuldade em conseguir espaço para se apresentar no Rio. Dizia com tristeza : “Lula, esse tempo todo que estive fora foi o suficiente para não ser lembrada por aqui”. E o que mais me surpreendeu :”Você quer ser o meu empresário ?”
Agradeci o convite mas expliquei que não entendia do assunto e por isso não poderia aceitar . Certo dia, ao telefonar para ela,fui informado que não morava mais naquele domicílio. Só fui saber dela quando ,com tristeza,li no jornal que havia falecido. Uma pena.
Fui reencontrar Victor no complicado “Rio/Monterey Jazz Festival” realizado no Maracanãzinho em 1980. Ele integrou e dirigiu os “All-Stars” do evento,que contou com Slide Hampton, Richie Cole e Clark Terry. Lembro que quando estava na Sala da Imprensa,local onde fiquei praticamente durante todo o Festival, ele entrou no recinto com os outros músicos, me cumprimentou e em seguida espalhou partituras de músicas no chão,junto a parede . Os quatro se curvaram e em surdina tocaram os “ensembles” do arranjo que Victor escreveu . E sem dúvida nenhuma,a apresentação do grupo foi o que de melhor aconteceu naquele Festival.
Não demorou muito e a chamada infausta notícia de que Victor estava mal de saúde, vindo a falecer poucos dias depois . Muito triste !

Fotos C.Tibau

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