Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HISTÓRIAS DO JAZZ– n° 37

24 maio 2007

O "Laura" de Don Byas


Nos bons tempos das “Lojas Murray”, o pessoal de Niterói teve a oportunidade de conhecer Sylvio Tullio Cardoso e logo travar uma boa amizade com o critico de “O Globo”.
Sylvio conversava com todos, esclarecia dúvidas e dava conselhos sobre“ o que ouvir no Jazz “ . Logo logo os laços de amizade se estreitaram e surgiram os convites para que o amigo atravessasse a baia e participasse das nossas reuniões. Embora nessa época o famoso”Clube dos Saúvas” ainda não tivesse sido fundado, as reuniões aconteciam com o objetivo de se tomar conhecimento do que havia sido adquirido nos sebos pelos “atletas”.
Assim, em um sábado , Sylvio pegou a velha barca da Cantareira, atravessou a baía rumo a casa de Danilo Lemos na Alameda São Boaventura, sobraçando um pacote de discos que mostraria aos presentes. Sylvio vendia alguns, sorteava outros para quem acertasse um jazz teste e retornava com as “matérias” que levava só para audição. Foi nesse dia que fui surpreendido por uma gravação do saxofonista Don Byas. Desses discos que quando são tocados , todos param de conversar e prestam atenção a cada detalhe.
O tema era “Laura” , uma gravação com Byas e uma seção rítmica que primava pela beleza da interpretação. Pedi para ver o disco e me lembro que tinha um selo azul da marca Nixa ou Supraphon , europeu sem dúvida alguma, e que à partir daquele momento passou a figurar na minha lista . Esse foi um dos 78 que retornaram com Sylvio . Não estava à venda.
Catar 78 rotações nos sebos da Rua São José era tarefa diária mas, a esperança de encontrar aquela gravação de “Laura” era nenhuma. Encomendar então, nem pensar.
Os anos foram passando, chegaram os elepês e a esperança aumentou. Certo dia encontrei um 10 polegadas de Don Byas da gravadora Prestige, olhei as músicas e mais uma vez desanimei. o “Laura” não constava do repertório.
Quando Sylvio faleceu , fui avisado que o seu acervo estava sendo vendido e com alguns companheiros fomos até ao apartamento de Dona Mirinha (mãe de Sylvio) que ficava na rua do Catete. Lá estavam as preciosidades que o amigo colecionara durante tanto tempo.
Os livros, as revistas encadernadas , os elepês , os 45 rotações e os velhos 78.
Procurei entre as “pastilhas” o “Laura” de Don Byas, em vão. Alguém chegara primeiro ou até quem sabe, Sylvio já teria passado adiante . Nova frustração.
Certa ocasião, indo a São Paulo , conheci na casa de Pedro Cardoso o saxofonista e clarinetista Silvio Fats , então na Traditional Jazz Band. Contei-lhe a história e ele me informou que o problema estava resolvido . Possuía a gravação em CD e tiraria uma cópia para mim. Prometeu e cumpriu, me presenteando com um álbum intitulado “An introduction to Don Byas – his best recordings 1938-1946.”
Voltando para Niterói a primeira coisa que fiz foi colocar o CD na faixa 16, “Laura” e agucei os ouvidos. Belíssima interpretação mas, não era a gravação do velho 78 de Sylvio Tullio . O encarte indicava que a versão era de setembro de 1945, com Johnny Guarnieri, Slam Stewart e J.C.Heard nos acompanhamentos. Ainda asssim, valeu a tentativa.
Resolvi consultar a discografia de Charles Dalaunay e fui encontrar três gravações de”Laura” por Don Byas. A acima descrita, outra de Janeiro de 1947 com Peanuts Holland (tp)- Billy Taylor (p )-J.J.Tilché (g)- Jean Buchetti (b) e Bufford Oliver (dm) e finalmente a gravada em Paris em 17 de março de 1952 com Art Simmons(p)- Joe Benjamin( b) e Bill Clarke (dm). Só podia ser essa última a que procurei durante tanto tempo mas, o entusiasmo pela procura havia arrefecido
Certa ocasião, estava na antiga “Breno & Rossi” examinando algumas novidades quando me deparei com um CD intitulado : “Jazz – Club-Mainstream – Tenor Sax”.
Ao verificar os intérpretes levei um susto : Três pérolas do sax-tenor,da minha preferência constavam da lista : “Tenderly” por Ben Webster, “Port of Rico” com Illinois Jacquet e finalmente o “Laura” com Don Byas , aquele gravado em Paris que eu tanto procurei.
Finalmente poderia ouvi-lo depois de tantos anos. Enquanto soava o “glissandi” da abertura do tema, agradeci aos deuses do Jazz por mais uma graça alcançada.

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