Foi em 1962 que o saxofonista Paul Winter veio ao Rio de Janeiro pela primeira vez, liderando um sexteto credenciado como “Vencedor do Festival Americano Inter-Universitário de Jazz de 1961” realizado na Universidade de Georgetown, em Washington, D.C. Como sempre, a Seção Cultural da Embaixada dos Estados Unidos providenciou os convites para o concerto que seria realizado nos estúdios da TV Continental, seguido de uma mesa-redonda.
Confesso que não me entusiasmei com o sexteto. Winter era , ou ainda é (será ?) um solista tímido e sem muita criatividade. Seu trompetista Dick Whitsell seguia o mesmo caminho, enquanto Les Rout, a terceira voz dos sopros, aparecia com “muito entusiasmo” em seu ruidoso sax-barítono. A rítmica era razoável, mostrando um Warren Bernhardt conciso e equilibrado em seu piano, tendo um apoio positivo do baixista Richard Evans e do baterista Harold Jones. Estes dois últimos logo se destacariam desenvolvendo carreiras brilhantes. Evans, como excelente compositor e Harold Jones, ainda hoje um dos mais requisitados bateristas da cena do Jazz.
O coquetel foi animado e contou com importantes presenças como o maestro Moacir Santos, o trombonista Astor e a crítica especializada, com Paulo Santos, Paulo Brandão, Leonardo Lenine, Sylvio Tullio Cardoso e nós, fechando a fila.
A pessoa mais requisitada foi Gene Lees, então ex-diretor da revista “Down Beat” e já um famoso letrista, rivalizando com Regina Werneck nas versões de músicas brasileiras,
que acompanhava o sexteto de Winter. Seguiu-se a apresentação na Escola Nacional de Música, onde tivemos altos e baixos.
Doxy (S.Rollins), I Remember Clifford (B.Golson), For Minors Only (J.Heath) , The Hustling Song (R.Evans), El Cid (?) – Makin’ Whoopee (G.Khan) – Hy-Fly (R.Weston)-
Home Cookin’ (H.Silver) - No Smoking (H.Silver) - Gertrude’s Bounce (R.Powell) - Leslie Leaps In (P.Winter) e Night in Tunisia (D.Gillespie).
Dia seguinte, Laranjeiras, onde ficavam os estúdios da extinta TV Continental, para mais uma apresentação e a mesa-redonda da qual honrosamente participei. Musicalmente, houve poucas alterações no repertório da véspera, com menos música, evidentemente, (tempo em televisão é super racionado). Já na mesa-redonda, o tema central foi a “divulgação do jazz no Brasil”.
Estava presente um animadíssimo diretor da gravadora CBS, o popular "Seu Silva", que indagado por Gene Lees sobre o número de discos de Jazz editados por ano, gaguejou e não respondeu com certeza. Sylvio Tullio entrou na conversa e informou que disco de Jazz era “avis rara”. As gravadoras não acreditavam no setor. Na minha vez, informei que figuras estelares do Jazz ainda eram inéditas aqui e citei Bix Beiderbecke, Fats Waller, Eddie Condon, Jack Teagarden, e até Charlie Parker. Gene Lees, então, interrogou mais uma vez o Silva: “Porque vocês não editam discos de Jazz?” e a resposta veio rápida. “Porque não tem público”.
Interrompi e contei sobre as casas cheias quando havia apresentações de Jazz no Teatro Municipal: Louis Armstrong e American Jazz Festival; Dizzy Gillespie no Teatro República, Buddy Rich e Ella Fitzgerald na TV Tupi, Woody Herman na TV Rio, e fui delicadamente interrompido por Gene Lees, que mais uma vez indagou ao Seu Silva: “Se vocês não lançam discos de Jazz, como é que sabem que o Jazz não tem público?
Alguns sorrisos iluminaram a mesa e então o locutor Waldo Moreira agradeceu a presença de todos e encerrou o programa com o LP de Winter em “play back”. Quase que esqueço do coquetel oferecido ao sexteto por Luiz Orlando Carneiro, em sua residência, quando vi e ouvi Gene Lees exibir seus dotes vocais acompanhado por Warren Bernhardt ao piano. E foi só.
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