Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 8

14 fevereiro 2007

DA CERA AO RAIO LASER (final)

Finalmente, atingimos a gravação óptica digital a laser que são os fantásticos CD (compact disc). Processo criado pelo desenvolvimento da Philips e da Sony em 1980 e o primeiro CD de áudio comercial foi produzido em 1983.
A tecnologia é baseada em discos feitos de um plástico especial, o policarbonato, com 1,2mm de espessura revestido por uma camada de metal em alumínio e por cima uma de corante foto-sensível, geralmente contendo prata. Na conversão digital, cada microparte do som é transformada em uma palavra digital (byte) codificada em "uns" e "zeros". A gravação é processada por um feixe de raio laser que "acende" ou "apaga" correspondendo respectivamente aos "uns" ou "zeros" da palavra digital, quando acende queima a camada foto-sensível deixando um "buraco". No processo de leitura feita com outro feixe laser a camada de metal reflete o raio que passa através da camada foto-sensível atingindo uma lente e assim lê o "1" e na parte não queimada nada reflete sendo interpretado como o "0". Desta forma, em um CD os dados digitais são armazenados em uma longa espiral formada por depressões microscópicas correspondentes aos bits de "1" e "0" e lidas do centro para a periferia do disco, portanto de forma inversa dos discos analógicos (78 rpm e LP) e isto permite que tamanhos menores de discos possam ser lidos no mesmo aparelho.
Dentre as maiores vantagens para todo tipo de música, a excepcional qualidade sonora, com ausência total de ruídos de fundo normalmente existentes até nos melhores sistemas analógicos, devido à forma de leitura nos discos por processo mecânico através da fricção de uma agulha, além do tempo disponível ser maior que o LP, não necessitando da troca de lado, permitindo seleção de faixas, etc.
Mesmo os registros eletromagnéticos em fita possuem algum tipo de ruído e as populares cassetes nem se fala, precisou ser criado o processo de compressão / expansão, o Dolby® e as fitas de óxido de cromo para se obter uma qualidade razoável.
O Jazz se beneficiou da excepcional clareza das gravações digitais e também dos processos de remasterização digital dos registros das décadas de 1910 a 50 com a "limpeza" das gravações, contudo sempre se procurou preservar de forma categórica a originalidade da execução do Jazz.

O importante é frisar que por toda esta modernização da tecnologia de gravação os músicos de Jazz tiveram que adaptar seu processo criativo com respeito à duração dos solos, dos arranjos, sonoridades, técnicas, etc. A fidelidade da gravação e reprodução veio a exigir cada vez mais dos músicos e de seus instrumentos. Por exemplo: o barulho das chaves dos pistões de um cornetim da década de 20, hoje, se não bem cuidado, tornar-se-ia insurportável na audição. Por outro lado, no período swing, uma big band era captada por um único microfone; contudo, nas décadas de 60, 70 e 80 o processo foi evoluindo passando a empregar cada vez mais microfones e com melhor sensibilidade e não havia, portanto, como encobrir até pequenas falhas. Na gravacão digital, expressão máxima da fidelidade, há recursos incríveis permitindo inclusive a troca de uma nota emitida por um instrumento!
A regravação, uma nova técnica que permitiu adicionar um determinado som a uma parte anteriormente já gravada, aconteceu no início de 1941 no estúdio da RCA em Camden, cidade de New Jersey, quase por acaso, dada a dificuldade que surgiu após a gravação de um concerto com orquestra sinfônica, uma vez que, no dia seguinte, ao ouvir a prova os técnicos depararam-se com um solo do oboé com volume muito baixo. Além do custo para reunir toda a orquestra novamente, a maioria dos músicos já havia deixado a cidade. Contudo, o oboísta ainda por lá permanecia e foi chamado ao estúdio tendo então regravado sua parte ouvindo a orquestra com os fones e os engenheiros deram tratos à bola para trocar a parte defeituosa nascendo assim o processo da mixagem elétrica dos sons (overdubbing) que até hoje é parte fundamental no processo de gravação.

O Jazz, sempre presente aos grandes acontecimentos tecnológicos, foi chamado para levar a segunda experiência dos técnicos da RCA um pouco mais longe e então a 18 de abril de 1941 entrava no estúdio Sidney Bechet, que gravou primeiro uma parte ao piano e depois, ouvindo no fone, executou o acompanhamento à bateria e foi executando outros instrumentos como saxofone tenor, depois o soprano, o contrabaixo de cordas, e por fim o clarinete, surgindo uma versão inusitada de The Sheik of Araby (Harry Smith, Francis Wheeler & Ted Snider) com seis instrumentos e um só executante - “one man band”. Podemos ouvir o resultado como curiosidade apenas porque jazzisticamente é pobre, a própria gravação ainda incipiente torna praticamente inaudível o piano e a bateria, mas era apenas um teste!

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