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HISTÓRIAS DO JAZZ – 15

11 dezembro 2006



Horace Silver - a “Odisséia”

Foi em 1964 que Horace Silver veio ao Rio de Janeiro pela primeira vez. Não profissionalmente; apenas para ver o carnaval, filmar as escolas de samba e prestar atenção ao que se tocava aqui naquela época. Num belo sábado de sol, parti com minha bicicleta para a praia de Icaraí onde tínhamos um futebol organizado, com onze de cada lado, camisas, balisas, redes e tudo o mais. Quase chegando, vi no calçadão a figura de Horace Silver. Freei a bicicleta e fiquei aguardando quem o acompanhava. Era Sérgio Mendes, que vinha saboreando um sorvete e quando me viu falou: "Olha o homem aí"! Saltei da bicicleta para as apresentações e para minha surpresa o pianista pediu para dar uma volta. Claro que acedi e ele saiu pedalando pelo calçadão como qualquer niteroiense. (Aí Sérgio Mendes espalhou a notícia de que eu iria empalhar a bicicleta e pendurá-la na parede como troféu). Ao voltar, fomos os três até um bar próximo, para que Silver tomasse uma água mineral. E ali na conversa perguntei se ele tinha disponibilidade para ir ao meu programa. Tirou uma pequena agenda do bolso e informou que na próxima quarta-feira estaria disponível. Nessa época "O Assunto é Jazz" era apresentado às segundas, quartas e sextas feiras e portanto eu poderia anunciar a presença do grande músico no programa de segunda.
Na segunda feira fui à Casa Masson e comprei uma salva de prata, solicitando que fizessem a seguinte inscrição: A Horace Silver a homenagem do programa "O Assunto é Jazz" de Luiz Carlos Antunes. Niterói, fevereiro de 1964.

Não precisa dizer da ansiedade que tomou conta dos ouvintes mais chegados e que freqüentavam a rádio nos dias de programa. Fiz o anúncio e comecei a planejar como faria a audição.

Quarta- feira pela manhã liguei para Sérgio e me informaram que ele tinha ido para São Paulo. Liguei para Tião Neto e ninguém atendeu. Imaginei o pior. Deviam ter levado Silver para São Paulo. Saí do trabalho às cinco horas e fui para o restaurante Westfalia, pretendendo tomar alguns chopes para desanuviar. Não ia suportar um bolo daquele tamanho de cara limpa. Na hora do programa inventaria uma desculpa qualquer para justificar a ausência de Silver. Quase sete e meia, hora em que o Westfalia fechava, surgiu Leonardo Lenine de Aquino com sua Rolleiflex pendurada no pescoço e me informava: "Lula, o Silver me procurou para saber o endereço da rádio. Vou agora mesmo buscá-lo no hotel para irmos para Niterói".

Ganhei vida nova. Tomamos uma rápida saideira e partimos.

PROBLEMAS NA RÁDIO
Ao chegar à rádio, já encontrei Lenine, Silver e uma dúzia de amigos que desfrutavam alegres aquele encontro. Fui à técnica e pedi que o operador Jorge Gama preparasse o gravador (nesse tempo não havia cassete). Entreguei a ele a fita e aguardei as providências. Foi quando ele me informou que o gravador só podia ser usado para captar os debates na câmara de deputados. Já irritado, ponderei que naquela hora não havia sessão na Câmara e que ele preparasse a gravação. Temeroso que algo lhe acontecesse, pois já estava cercado por ouvintes do programa, colocou o gravador sobre a mesa de som e a fita no lugar adequado.
Entretanto, percebi após a abertura do programa que ele telefonava para alguém. Claro, temeroso de que alguma penalidade lhe fosse imposta pela direção da rádio por usar o gravador em programa "não autorizado", informou a um dos donos da emissora o ocorrido...
Estúdio cheio, gente na técnica e surge seu Dantas, a implicância em pessoa, e de saída me pergunta o que estava havendo. O que aquela gente toda estava fazendo ali. Informei que estávamos dando um furo, um dos maiores pianistas de Jazz estava participando do programa e "aquela gente" era parte da audiência que o programa possuía. Não satisfeito, foi para a Secretaria voltando logo depois com um papel datilografado que me entregou ordenando que eu lesse na hora. Era um aviso fúnebre, naturalmente forjado com o intuito de atrapalhar o programa. Soado o gongo, anunciei: "Uma nota: a familia do senhor fulano de tal comunica o seu falecimento e convida parentes e amigos para o seu sepultamento, que será realizado amanhã no cemitério do Maruhy às 16 horas. Comunicamos o falecimento do sr. fulano de tal".
Assim que o gongo soou fechando a comunicação, entrei da seguinte maneira:
"Bem, agora vamos ao que interessa. Jazz de primeira com Horace Silver nos honrando com sua presença". Então, fiz a entrega da salva de prata que ele, emocionado, agradeceu. E foi uma hora de Jazz mostrando faixas dos diversos álbuns de Silver que eu já possuía.

O "AFTER HOURS"
Saímos da rádio e fomos comer qualquer coisa e continuar o papo. Lembro-me bem que Silver, entre outras coisas, tinha preferência pelo saxofonista Hank Mobley, que achava insuperável e teceu admirações ao trompetista Clifford Brown. Chegamos ao "Braseiro", uma pequena churrascaria, onde mastigamos um tira-gosto e tomamos cerveja. Silver, entretanto, só quis guaraná, bebida pela qual se apaixonou. Dali fomos até a leiteria Brasil (hoje já não existe), porque Silver queria comprar uma lata de goiabada para levar para o pai. Queria também fumo de rolo mas, naquela hora seria difícil encontrar.
De repente, tive uma idéia. Surpreender Mr. Jones, (Raymundo Flores da Cunha), um dos integrantes do Clube dos Saúvas, levando Silver até sua casa. O pianista topou a idéia e lá fomos nós rumo à Rua Nóbrega, acordar o velho. Toquei a campainha e Mr. Jones, pela janelinha, perguntou quem era. Informei que éramos nós, levando uma novidade. Irritado, abriu a porta vestido com paletó de pijama e cueca "samba-canção". Olhou para cada um de nós (éramos seis) e ao dar com Horace Silver em sua casa, ficou elétrico. Foi para o quarto mudar de roupa, veio vestindo a calça pelo meio da sala e procurou em sua vasta discoteca um álbum para que Silver autografasse. Tão nervoso estava que deu ao pianista um album dos "Lighthouse All-Stars" para o autógrafo, que Silver, sorrindo, assinou. Quis ligar o som mas, impedimos que sua "máquina" fosse ligada, devido ao adiantado da hora. Em seguida nos despedimos e fui levar Silver e Leonardo Lenine de Aquino até as barcas, para o retorno ao Rio de Janeiro.
Quando ficaram prontas as fotos tiradas durante o programa, fiz cópia das melhores e enviei a Silver. Dias depois recebia pelo correio os dois últimos LPs gravados por ele para a Blue Note.

Foi essa a primeira grande façanha do programa "O Assunto é Jazz".

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