Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

Bomb-sheshéu querendo o lugar da Bomb-shell

18 novembro 2006

Mais uma vez, a Downbeat estará distribuindo, na edição de dezembro, o seu poll anual de leitores sobre os melhores em diversas categorias do Jazz, incluindo Female Vocal, na qual a introdução de brasileiras em detrimento de cantoras americanas de Jazz é sempre fator de apreensão dos meios Jazzísticos americanos e até brasileiros.

Talvez o que se esteja criticando não é a presença de tais cantoras em si, porém a forma enganadora de indução mercadológica que é empregada, pela qual, ao nosso ver, a revista é, inclusive, 'literalmente usada'. O que está por detrás disso tudo é, na verdade, uma grande disputa entre as cantoras brasileiras da atualidade pelo espaço mercadológico representado pela música brasileira no Music American Business e também nas praças do Japão e da Inglaterra.

A fórmula enganadora é simples. Ela se baseia no tupiniquismo tipicamente brasileiro de aceitar e valorizar qualquer postura ou manifestação americana como chancela de um trabalho artístico. O macete consiste em pegar uma artista desconhecida lá e cá, arrumar um produtor-empresário eficiente e conhecedor do meio e bancar gravações com 'medalhões' da cena americana que, por sua vez, dão a sua chancela ao produto. Pronto o disco, a 'bomb-sheshéu' é lançada lá como 'a grande sensação da música de cá'. Ora, isso sempre funcionou razoavelmente quando a velocidade da informação não contava com a internet, ou seja, até os americanos descobrirem que a tal grande sensação brasileira é um blefe, muitas crenças iam se consolidando. Hoje a coisa mudou: eu já fiquei sabendo do resultado da revista que ainda não está nas bancas via internet. Também já constatei forte polêmica em torno de uma matéria que, portanto, ainda não foi nem publicada.

Ao mesmo tempo, no lado Brasil, o 'marketing' enganoso começa a atuar, com a divulgação dos shows onde a cantora é apresentada como a fantástica fulana, prestigiadíssima nos Estados Unidos, que já gravou com beltrano, cicrano, o escambáu. Paralelamente, cooptasse alguns formadores de opinião, até do meio do futebol (não importa), qualquer meio vale, que bostejam aqui e ali, nos meios freqüentadores e ... pronto: está formada a cadeia enganadora. Há também um séquito de bobalhões, típicos 'marias-vão-com-as-outras' que não tem opinião própria (não entendem chongas) e vão espalhando comentários que nem ventrílocos, fortalecendo o marketing da bomb-sheshéu.

Graças à Boa Música, quase sempre não é assim! A estória das cantoras brasileiras que vão buscar sucesso internacional é longa. Que eu me lembre, começou com Carmem Miranda, que saiu daqui já consagrada e chegou lá para obter um merecido reconhecimento por seu 'artistry', como se ela precisasse disto.

Depois de Miranda, só me lembro da Astrud Gilberto, que embarcou sem querer em 'Garota de Ipanema' com João Gilberto e Stan Getz, e conquistou sucesso paralelo ao de Carmem, com seus memoráveis discos produzidos pelo Creed Taylor, com arranjos de Gil Evans, Johnny Mandel, Don Sebesky e Eumir Deodato, entre outros. É incrível que, depois de mais 40 anos, sempre atuando em 'low profile', com uma vida pessoal discretíssima e sem fazer shows por aí, Astrud ainda tenha todos os seus discos em catálogo nos Estados Unidos e no Japão. Para mim, mesmo com sua pouca voz e afinação por vezes questionável, Astrud é a eterna rainha 'cool' da música brasileira no exterior.

O quadro mais recente desta disputa envolve cantoras apetitosas, que merecem a minha permanente torcida. Nara Leão, nas mãos de Menescal, parece ter aberto o mercado japonês, onde, apesar de sua prematura passagem, deixou uma marca que certamente propiciou um pé sadio para a música brasileira entre os nipônicos - hoje representado por Wanda Sá e Joyce, sem contar com as incursões da nissei Lisa Ono.

Há também o filão inglês, onde começaram a samplear muita música brasileira, o que atraiu compositores e cantores de boa cepa, onde pontua a nossa grande Joyce e onde até a nossa grande maestrina Celinha Vaz consegue penetrar, com a sua sensibilidade e beleza.

Disputando o filão nos Estados Unidos de hoje, lembro o esforço da filha de Teresa Souza e Walter Santos, Luciana Souza, uma das agraciadas no 'poll' da Downbeat. Lembro a desorientada Eliane Elias, que deixou uma brilhante carreira de pianista em segundo plano para tentar uma posição 'diana-kraliana' insustentável. Lembro a dona de belíssima voz, Bebel Gilberto, perdida em bobagens como 'drum'n'bass bossa'. Há mais alguém que valha a pena lembrar?

Dizem que a Gal Costa pretende lançar um disco de standards americanos. Que Deus nos proteja!

Nenhum comentário: