
Aqui você vai encontrar as novidades sobre o panorama nacional e internacional do Jazz e da Bossa Nova, além de recomendações e críticas sobre o que anda acontecendo, escritas por um time de aficionados por esses estilos musicais. E você também ouve um notável programa de música de jazz e blues através dos PODCASTS.
Apreciando ou discordando, deixem-nos seus comentários.
NOSSO PATRONO: DICK FARNEY (Farnésio Dutra da Silva)
..: ESTE BLOG FOI CRIADO EM 10 DE MAIO DE 2002 :..
Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho)*in memoriam*; David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels)*in memoriam*,, Pedro Cardoso (o Apóstolo)*in memoriam*, Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge), Geraldo Guimarães (Gerry).e Clerio SantAnna
HISTÓRIAS DO JAZZ, 10: ANA MAZZOTTI
03 outubro 2006
Quem me falou sobre Ana Mazzotti inicialmente foi Gedir Pimentel. Trouxe convite para que fosse assistí-la no "Made in Brazil", uma casa noturna na Barra de Tijuca. Não pudemos comparecer mas, semana seguinte recebemos sua visita no programa e alí iniciamos uma sólida e sincera amizade. Ana, como tantos outros músicos, reclamava da falta de espaço para suas apresentações e do completo descaso da mídia em relação à música instrumental. Corria o ano de 1985 e Ana procurava desenvolver sua carreira de uma forma ou de outra. Voltou algumas vezes ao programa levando fitas gravadas de seus shows e falando sobre projetos para excursões a outros estados.
Vê-la "ao vivo" era uma alegria só. Muita energia, criatividade e uma técnica apreciável nos teclados. Cantava com mestria suas próprias composições, não deixando de criticar, em algumas letras, o "status quo" da nossa MPB.
Em junho de 1986 excursionou à Bahia e de lá me mandou cartão postal com os seguintes dizeres: "Lula, daqui, uma lembrança dessa linda terra: Salvador. Recebi carta de Chick Corea. Enviarei vídeo-cassete do meu trabalho para ele. Ficaremos aqui o mês de julho também. O "som" tá rolando por aqui. Abraços à você, seus ouvintes e ao Tião Neto. Da amiga Ana Mazzotti."
Dela assisti três shows. O primeiro, no antigo "Mistura Fina", ocasião em que me pediu que chegasse mais cedo para que pudéssemos conversar. Ao chegar, o baterista Romildo, seu marido, levou-me ao camarim onde travamos uma longa conversa. Ana falou sobre sua vida, a preocupação que tinha com a criação de seus dois filhos, a luta pela sobrevivência no meio artístico e ainda me confessou que havia perdido um seio, vitimado por um câncer. Mas, continuou na luta correndo atrás de oportunidades.
Quando contei a ela que fiz parte de uma comissão que escolheria artistas que participariam do FREE JAZZ e sugeri o seu nome e os "foquinhas" e "críticos" presentes confessaram que não a conheciam, riu e disse que não era surpresa. Contei-lhe ainda que Leny Andrade não estava na lista apresentada pela produção e que só após eu ter reclamado informaram que poderíamos acrescentá-la na relação. (Leny foi escolhida por unanimidade). Contei também que quando sugeri Dick Farney ninguém sabia que ele também tocava piano. E ela, sorrindo, falou: "Pois é, Lula, é esse tipo de gente que toma conta da nossa música."
O segundo show que assisti foi na Sala Funarte e teve a direção de Regis Cardoso. Como sempre, me chamou ao camarim para conversarmos sobre o espetáculo, pedindo também que após a apresentação eu voltasse para dar a minha opinião. Fazia isso com o maior prazer e me envaidecia quando ela, ao me ver chegar, pedia licença às pessoas com quem conversava e vinha saber o que eu achara de sua musica.
Seu último show aconteceu aqui em Niterói, no "Nó na Madeira". Mais uma vez as conversas prévias e nesse dia ela se queixava de cansaço e dores de cabeça. Eu nem desconfiei do que estava por vir. Que aquela era a última vez que eu estaria com Ana Mazzotti. Dias depois Arlindo Coutinho me telefona e dá a notícia: "Ana está internada no Hospital Matarazzo em São Paulo e seu estado não é bom." Passou-me o número do telefone e liguei imediatamente para lá. Romildo atendeu e perguntei como estava Ana. Ele então mandou que eu falasse com ela. Com voz fraca e trêmula agradeceu o telefonema e disse que estava no fim. Tentei animá-la dizendo que tivesse fé, pois já vencera a doença uma vez. Mas a resposta foi fatídica: "Não adianta, Lula, o câncer foi para a cabeça, adeus."
Horas depois falecia a nossa amiga, deixando amargurados todos aqueles que apreciavam sua arte. Dediquei-lhe o programa daquela noite, fazendo rodar faixas de seus LPs e trechos de nossas entrevistas.
ANA MAZZOTTI - * 17-08-1950 Caxias do Sul - RS
+ 20-01-1988 São Paulo - SP
lulla
Nenhum comentário:
Postar um comentário