Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

SAXOFONISTA JOE HENDERSON VOLTA EM OBRA-PRIMA DOS ANOS 90

11 julho 2006

(Transcrição do texto de Carlos Calado na Folha de São Paulo em 07/07/2006.)


O tempo é a prova definitiva para se avaliar um clássico. Fora de catálogo há pelo menos dez anos, um best-seller do jazz da década de 90 retorna ao mercado brasileiro. Apenas por ter consagrado a arte do saxofonista Joe Henderson (1937-2001), o álbum Lush Life - The Music of Billy Strayhorn já mereceria um destaque na história desse gênero, mas ouvi-lo de novo hoje confirma a primeira impressão. Trata-se de uma obra-prima.
Lançado originalmente em 1992, esse álbum serviu de veículo para um merecido e tardio reconhecimento: conduziu Henderson, aos 55 anos, pela primeira vez ao topo da parada de jazz da Billboard. Até então, o nome desse original músico norte-americano só circulava entre os críticos e alguns aficionados que cultuavam suas gravações, muitas delas lançadas por selos alternativos.

O marketing da gravadora Verve contribuiu, naquela época, para apresentar a um público mais amplo um jazzista maduro cujo estilo não devia nada ao de John Coltrane, maior influência entre os saxofonistas desde o final dos anos 50. Por coincidência ou não, o CD Lush Life rendeu até um Grammy para Henderson. Sem falar na prestigiosa revista Downbeat que também fez justiça tardia ao saxofonista, conferindo-lhe os prêmios de melhor álbum e melhor músico de jazz de 1992.

O álbum de Henderson também teve o mérito de lançar um novo olhar sobre a obra de Billy Strayhorn (1915-1967), o autor de todas as faixas. A excessiva timidez deste brilhante compositor e arranjador norte-americano contribuiu para que ele ocupasse uma posição secundária na orquestra de Duke Ellington, com o qual manteve uma longa parceria.
Nas gravações, Henderson teve a seu lado um grupo de ótimos músicos, bem mais jovens que ele: o pianista Stephen Scott, o contrabaixista Christian McBride e o baterista Greg Hutchinson, além do então já badalado trompetista Wynton Marsalis.
Eles se revezam, formando duos, trios, quartetos e quintetos com o líder, uma receita instrumental que enriquece as dez faixas com muita variedade sonora. Isfahan, tema de abertura do disco, já chama a atenção pela elegância do saxofonista, em um duo bem intimista com o baixo acústico de McBride.
Henderson era um jazzista de tendência mais temática, que costumava construir seus improvisos dentro das estruturas harmônicas das composições. Neles, introduzia com freqüência frases e fragmentos melódicos que soavam como marcas registradas. Esse estilo personalíssimo era descrito pelo próprio músico com o auxílio de uma metáfora literária. "Quando toco, me vejo como um escritor: alguém que associa palavras, criando imagens com as notas. Tento contar uma história com elas", disse ele à Folha, em 1993, pouco antes de vir ao Brasil para um tributo a Tom Jobim, no Free Jazz.
Henderson esbanja sensualidade e controle do sax tenor, na suave balada Blood Count, muito bem acompanhado pelas intervenções do piano de Scott. Dá um show de suingue no saboroso calipso Rain Check, impulsionado pelos tambores e pratos de Hutchinson. O baterista também se destaca numa longa versão de Take the "A" Train, a mais popular composição de Strayhorn, que se tornou tema oficial da Duke Ellington Orchestra. Duas performances de tirar o fôlego.
Interpretada em andamento bem lento, a romântica balada A Flower Is a Lovesome Thing serve de trilha para langorosos solos de Henderson e Marsalis. E Scott se diverte, no acompanhamento, decalcando frases tipicamente ellingtonianas, como já fizera antes, na sensível Lotus Blossom.
A faixa de encerramento não poderia ser mais bem escolhida. Recriando com muita liberdade e sensibilidade a bela melodia da composição que dá título ao álbum, Henderson imprime nela sua assinatura sonora, como se estivesse tocando em casa, da maneira mais descontraída. Se você gosta de jazz e ainda desconhece esta obra-prima do grande mestre do sax tenor, não perca esta nova chance.

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