Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DICK FARNEY, JAZZISTA PIONEIRO NO BRASIL, É O PATRONO DO CJUB JAZZ & BOSSA

10 maio 2006

A primeira vez que ouvi o pianista Dick Farney foi através do rádio, em um programa noturno que a Rádio Nacional transmitia diretamente do Golden Room do Copacabana Palace em apresentação de Murilo Neri.

Era o “Ritmos da Panair”, que durante meia hora encantava os nossos ouvidos com musica de primeira qualidade. Por ali passaram cantoras como Doris Monteiro, Carminha Mascarenhas, Nora Ney, Carmélia Alves, Elen de Lima, Helena de Lima e algumas outras, a parte instrumental defendida pelo conjunto do maestro Copinha, a orquestra de Zacharias e o quinteto de Dick Farney.

Dick sempre fez questão de homenagear seus ídolos e naquela época quem estava em destaque era George Shearing. Pois Dick formou seu quinteto com a mesma instrumentação de Shearing, com Sylvio Viana ao vibrafone, Nestor Campos à guitarra, Galhardo ao contrabaixo e Onestaldo à bateria. A duração do programa, apenas meia hora, raramente permitia que ouvíssemos um número na íntegra. Doía no fundo do peito quando a voz de Murilo Neri interrompia a música, desejando uma boa noite aos ouvintes. Mas o pouco que ouvíamos de Dick já era uma amostra do que viria no futuro.

Tenho ainda hoje um velho 78 rotações da gravadora Continental com o quinteto de Dick interpretando duas obras primas, “João Sebastião Bar”, original de Dick desenvolvido em fuga e contraponto e o samba “Nova Ilusão”, de Luiz Bittencourt e José Menezes, um dos “hits” de seu repertório. Lamentavelmente, o tema “João Sebastião Bar” nunca foi passado para LP e muito menos para CD.

Por sorte, fui conhecer Dick pessoalmente aqui em Niterói. Passou uma tarde inteira na casa de Sylvio Lago, onde nos reuníamos aos sábados para ouvir jazz, tocando e encantando os presentes. Extremamente educado, solícito e gentil, atendia aos pedidos sempre com um sorriso nos lábios ou um elogio à composição. Quando solicitei o tema “Conception”, de George Shearing, sorriu e disse que ainda “não estava pronta”.

Ainda assim, mostrou os primeiros compassos e disse que em breve a tocaria na íntegra. Foi nesse dia que nos mostrou sua intenção de tocar música brasileira, na forma de jazz. Nos apresentou “Copacabana” e “Risque”, temas que incluiria no repertório do álbum “Dick Farney e seu Jazz moderno”, gravado ao vivo no auditório do jornal “O Globo”. “Valsa de uma cidade”, de Ismael Neto, também foi incluída.

Mas, a grande virtude de Dick era a perfeição com que interpretava o jazz. Captara perfeitamente, na forma de improvisar, o bounce, o swing ou o que o nosso saudoso amigo Sylvio Tullio Cardoso chamava de “feeling negróide”. Seu fraseado podia lembrar Nat King Cole, George Shearing ou Dave Brubeck, mas o produto final era Dick Farney.

Sua discografia de jazz prima pela qualidade, desde o primeiro LP de dez polegadas “Jazz Festival”, gravado ao vivo em 5 de agosto de 1956 no Teatro da Cultura Artística de São Paulo com o quinteto de Dick integrado por Casé (sa), Ismael Campiglia (g), Choo Viana (b) e Rubinho (dm), até o CD duplo “Piano Solo”, gravado em sua residência ao lado de amigos, distribuído como brinde de Natal por uma entidade sindical paulista.

Quando esteve nos Estados Unidos, Dick Farney teve a oportunidade de participar do projeto “V Discs”, gravações feitas especialmente para serem distribuidas para as forças armadas. Participou de sete, sendo que o mais interessante foi realizado em duo com o baixista Slam Stewart. O piano de Dick flui tranquilo, tecendo preciosas harmonias para os improvisos de Stewart. “Somebody Loves Me”, “These Foolish Things” e “Worth Ducken” foram os três temas gravados pelo duo. Os demais titulos mostram o cantor Dick Farney, com preciosos acompanhamentos das orquestras de Ray Bloch, Charles Lichter e Arther Godfdrey. E é importante notar que Dick foi o único artista brasileiro a gravar para os VDiscs.

Embora sua discografia mostre muito mais o lado do cantor, os poucos albuns de jazz que gravou com seus conjuntos são pequenas obras primas. Alguns concertos ao vivo foram perpetuados em vinil mas poucos foram passados para CDs.

No final da vida Dick tornou-se um homem amargo, triste e abatido pelo desprezo com que a mídia o tratou. Não era convidado para participar dos festivais de jazz, suas gravações não tocavam no rádio e as novas gerações não conheciam o seu lado de “pianista de jazz”. A explicação é simples mas absurda. Qualidade passou a ser um defeito e os artistas que ostentavam essa virtude foram banidos dos veículos de comunicação, agora entregues à música descartável, aos modismos e à mediocridade reinante.

Mas, o Dick Farney cantor, divisor de águas na MPB, trouxe consigo a forma intimista de interpretar. Trouxe uma harmonização mais moderna, motivo pelo qual foi quase amaldiçoado pelos sectários, que o acusavam de tentar americanizar nossa música. Mas não estava sozinho. Logo, o amigo Lúcio Alves, Doris Monteiro, Tito Madi, Claudete Soares e mais tarde a turma da “bossa nova” abraçaram a causa.

O Dick pianista foi, indiscutivelmente. o nosso melhor intérprete de jazz. Artista maior, sempre gravou o que quis e quando quis, não se rendendo às eternas conversas de “produtores” para cantar essa ou aquela música. Deixou um precioso legado que, em nome qualidade, deveria não só ser preservado mas divulgado copiosamente nos veículos de comunicação de massa.

Esse, em suma, é o artista que o CJUB, doravante denominado CJUB Jazz & Bossa, recebe de braços abertos como o seu patrono.

Luiz Carlos Antunes - llulla

4 comentários:

blbs disse...

Hola,
¿Tendrían ustedes los V-Disc de Farney con Slam Stewart: "Somebody Loves Me" y "Worth Duckin'"?
Si así fuera, agradecería ponerme en contacto...

Saludos y felicitaciones por los interesantísimos podcasts.

Abrazo desde Montevideo

Dick Farney disse...

Olá, tudo bem, eu e o Du Filho de Dick Farney meu nome e Mariangela Toledo mantemos as seguintes paginas facebook - dickfarneyoficial@gmail.com; instagram: @farney_dick, nos temos estoque diversos discos e cds e os V-Disc, serA LANCADO UM CD um kit com caneca comemorativa e poster.
Nosso whatsapp comercial 55-021-11-99026-9739 e site www.dickfarney.com.br

Ficaremos felizes em poder atende-lo.

Mariangela Toledo Du Farney

blbs disse...

Obrigado por responder.
Eu apreciaria se você me enviasse um e-mail quando esses CDs estivessem disponíveis

Dick Farney disse...

Boa tarde:

Nos,(Mariangela Toledo e Du Farney)não conhecíamos este sensacional site!
Este ano em agosto estaremos lançando um cd com musicas inéditas gravadas por Dr.Cesar, arquiteto e musico, amigo e discípulo de Dick na musica, gravava as tardes que se reuniam na residência de Dick na década de 1980, nesta época o piano foi trocado por um Yamaha conforme orientação de Bill Evans que considerava que o som do Yamaha era o melhor para o pianista de jazz.
Este ano em agosto lançaremos o cd e nas mídias eletrônicas e neste cd acrescentaremos V-Disc e gravações de musicas cantadas e o jazz gravado por Dr.Cesar.
As 7 fitas Basf foram um presente de Dr.Cesar para Mariangela agregar ao acervo da qual ele e curadora.
Estamos as ordens no site dickfarneyoficial@gmail.com, whatsapp 55 011 99026-9739; facebook - dickfarneyoficial@gmail.com; instagram: farney_dick.
Obrigada pela grande homenagem e atenção especial.

Mariangela Toledo e Du Farney