Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

SOBREVOANDO A JOATINGA

10 abril 2006





Alguns talvez fiquem chateados, outros com inveja, outros ainda poderão sentir-se traídos mas desde já afirmo que não havia nenhuma outra saída possível já que, como no futebol, o mando de campo não era nosso. Vou confessar agora a todos que no dia 23 último rolou uma produção extra do CJUB, num lugar lindo, lotado de gente bonita e interessante, com música de muito bom nível - desnecessário dizer de que tipo - e um ambiente de festa que nunca conseguiremos reproduzir senão ali mesmo, numa oportunidade futura.

Foi na casa do Heiner, sobre quem já falei aqui em post anterior, onde, desde que lá estive pela primeira vez, fiquei imaginando algo com a marca do CJUB, naquele cenário onírico. Bon-vivant e excepcional anfitrião, promotor de festas em que o jazz é a tônica e que chama de "Jazz na Joatinga", o Heiner e eu ajustamos uma co-produção: ele levaria um banda à sua casa -convidou a conduzida pelo jovem e talentoso saxofonista-alto e flautista Julio Merlino, JAZZAFINADO (detalhes adiante) - e o CJUB entraria com duas estrêlas de primeira grandeza para complementá-la.

Pois bem, a iniciativa conjunta foi um sucesso, que por questões de espaço, não pudemos partilhar com o fiel público dos nossos concertos no Mistura Fina. O Heiner, muito acertadamente, ao levar em consideração antes de tudo o conforto de seus convidados, limitou as presenças a 150 pessoas, divididas em 100 convidados dele e 50 do CJUB. Nossa quota foi preenchida pelos membros da confraria e por seus familiares e convidados e esgotou-se rapidamente. Não fossem algumas desistências de última hora, a maioria justificada, teríamos de pedir autorização especial para algum estouro na cota, o que felizmente não foi necessário.

Nesse cenário privilegiado - a casa tem uma acústica surpreendentemente boa, a despeito de ser toda envidraçada - Julio Merlino e seu grupo, composto por Bernardo Bezerra no teclado, Rodrigo Borges na guitarra, Rafael Garafa no baixo elétrico e Rodrigo Scofield na bateria, iniciaram um "primeiro set" todo dedicado às baladas conhecidas dos presentes.

Merlino exibiu uma técnica bem madura para um saxofonista tão jovem, com inventivos "chorus" e improvisos fluentes, fruto, acredito, de seu trabalho como principal solista da UFRJazz Ensemble, ótima big-band carioca onde atua sob a batuta do Maestro José Rua. Seus acólitos cumpriram fielmente suas tarefas, um pouco tímidos de início, talvez por estarem sob a observação de outros músicos, profissionais e mais calejados. Destaque um pouco maior para o teclado de Bernardo e a guitarra de Borges.

Após um intervalo de dez minutos, onde os presentes puderam conversar, reunidos em torno da piscina, desfrutando da paisagem e da temperatura muito agradável, entraram em campo os instigantes Bosisio e Biglione, que decidiram iniciar o seu set dialogando longamente entre si, acompanhados apenas pelo baixo e pela bateria.

E o que fizeram então com suas guitarras revolucionou a noite em termos musicais, até ali pacata. Bosisio demonstrou uma técnica tão soberba quanto plácida, com solos em andamentos mais lentos, enquanto Biglione era nitroglicerina pura. A simples intercalação desses dois estilos geniais fez com que os demais músicos percebessem que havia ali espaço para todas as interpretações e técnicas e então a noite passou a ser de puro divertimento.

Foi então desfiada uma penca de standards, a que todos reconheciam imediatamente e assim lhes facilitava comparar os estilos diferentes de Bosisio e Biglione, os timbres diferentes de suas guitarras - a do primeiro mais acentuada nos tons médios, a de Vítor mais para os agudos - suas técnicas exuberantes e tudo isso fez com que a banda se soltasse e ousasse, cada solista dando o melhor de si para não comprometer o todo. Mais uma vez, Merlino mostrou que está "graduado" e que já é capaz de figurar hoje em um concerto do CJUB empunhando seu sax alto e suas idéias elegantes. Bezerra voou alto no teclado, e me pareceu que surpreendeu-se descobrindo tocar bem mais rápido do achava que podia, sem perder de vista algumas boas idéias nos improvisos que exibiu. Destaque-se também o jovem Scofield e sua estranha bateria, mantendo firme o pulso e apresentando criatividade nos seus solos, ladeado pelo firme Garafa no baixo, apresentando boa velocidade e afinação num bom desempenho, sem temer as passagens mais rápidas, nas quais saiu-se muito bem.

A apresentação foi muito aplaudida pela platéia deslumbrada com o que a rodeava: a paisagem, a boa conversa no jardim, a hospitalidade do Heiner e sobretudo pela maravilhosa atmosfera jazzística ali conseguida.

A ponto da pergunta final ser uma só: quando vai ser a próxima?

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