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Kind Of Blue, a improvisação no jazz (por Bill Evans)

23 junho 2005

Existe uma arte visual japonesa na qual o artista é obrigado a ser espontâneo. Com um pincel especial e tinta preta, ele deve pintar sobre um fino pergaminho esticado, de tal maneira que uma pincelada não natural ou interrompida virá a destruir a linha ou romper o pergaminho. Apagar ou fazer modificações é impossível. Tais artistas devem praticar um tipo especial de disciplina, que permite que a idéia se expresse na comunicação com as mãos tão direto que o pensamento não interfira. Os quadros que resultam não possuem a composição e as texturas da pintura usual, mas diz-se que aqueles que olham bem encontram algo capturado ali que desafia explicações.
Acredito que essa mesma convicção, de que a ação direta constitui a reflexão mais significativa, impulsionou a evolução das disciplinas extremamente severas e únicas do jazzista ou do músico improvisador. A improvisação em grupo coloca um desafio a mais.
À parte o problema técnico de pensar coletivamente de modo coerente, existe a necessidade muito humana, social até, de que a simpatia por parte de todos os integrantes se coadune em prol de um resultado comum. Penso que esse difícil problema é lindamente abordado e solucionado nesta gravação.
Assim como o pintor precisa do referencial da tela, o grupo de improvisação musical precisa de um referencial no tempo. Miles Davis apresenta aqui referenciais que são de suma simplicidade, e contudo encerram tudo aquilo que é necessário para estimular a execução, preservando a referência à concepção inicial. Miles concebeu esses esquemas apenas algumas horas antes das sessões de gravação, e chegou com esboços que indicavam ao grupo o que deveria ser tocado. Portanto, nestas execuções, você irá escutar algo que está próximo da pura espontaneidade. O grupo nunca havia tocado estas peças antes da gravação, e creio que, sem exceção, a primeira interpretação completa de cada uma foi formada como um “take”. Embora não seja incomum esperar que o músico de jazz improvise sobre material novo numa sessão de gravação, o caráter destas peças coloca um desafio especial.
De maneira breve, o caráter formal dos cinco esquemas é o seguinte: “So What” é uma figura simples, baseada em 16 compassos numa escala, 8 em outra e mais 8 na primeira, após uma introdução de caráter ritmicamente livre com piano e contrabaixo. “Freddie Freeloader” é uma forma de blues de 12 compassos que ganha uma personalidade nova através de uma efetiva simplicidade melódica e rítmica. “Blue In Green” é uma forma circular de 10 compassos, que se segue a uma introdução de 4 compassos, e que é tocada pelos solistas com diversos aumentos e diminuições dos valores temporais. “Flamenco Sketches” é uma forma de blues de 12 compassos em 6/8, que gera seu clima através de umas poucas mudanças modais e da concepção melódica livre de Miles Davis. “All Blues” é uma série de 5 escalas, cada uma podendo ser tocada pelo solista durante o tempo que ele desejar, até que tenha completado a série.

William John Evans
Aug 16, 1929 in Plainfield, NJ
Sep 15, 1980 in New York, NY

PS. Produzido por Teo Macero, Kind Of Blue (1959 Columbia) é um dos álbuns de estúdio definitivos na história do jazz – dos mais vendidos. Além de Miles Davis e Bill Evans, participaram das gravações Julian Cannonball Adderley (alto sax), John Coltrane (tenor sax), Paul Chambers (contrabaixo ), James (Jimmy) Cobb (bateria) e Wynton Kelly (piano). Não é à toa que lidera a lista cejubiana dos "10 discos de jazz para uma ilha deserta".

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