Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

A CIVILIZAÇÃO AO NOSSO ALCANCE - SALA SÃO PAULO

22 maio 2005

Peço licença os confrades para uma pequena digressão, musical também, mas na senda da música clássica, e em nome de um Brasil que gostaria de poder encontrar mais amiúde, o que funciona.

Falo aqui da oportunidade que tive de me encantar na última sexta-feira, num ambiente magicamente distante da realidade nacional, colocado que estava diante da OSESP - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em seu templo paulista, a Sala São Paulo (SSP), situada dentro da tradicional e histórica Estação [ferroviária] da Luz.

Imaginada para ser o marco sinalizador da tentativa de soerguer a zona decadente em que se encontra, a SSP foi guarnecida do que há de mais moderno em tecnologia ambiental acústica para salas sinfônicas, coisa de apenas outras quatro em todo o mundo.

Se a região geográfica no seu entorno mais largo é, ainda hoje, sombria, à medida em que o táxi se aproxima do imponente edifício da Estação e que se começa a avistar o tipo de público que vai freqüentá-la, as perpétuas preocupações de cariocas com segurança - e dilatadas pelo motorista que avisava para se ter cuidado na hora da saída - logo se desvanecem. A entrada, por suas portas amplas, dá boa visão para uma grande e animada festa, para a qual todos desejaríamos ser convidados, sempre.

Dos grupos de adolescentes mais estranhos aos inúmeros anciãos presentes em suas cadeiras de rodas, sente-se de imediato um ambiente que respeita ao ser humano, devidamente preparado para uma celebração, no caso, da arte. Pois ali, preza-se a música como uma forma de prazer, sem fronteiras de idade ou limitações, sem as posturas ditadas pelos modismos (hoje tão em evidência quanto desimportantes) que atingem parcelas crescentes da população. Nada disso afeta aquelas pessoas. Sua razão de estar lá é só uma: o amor à música, ao virtuosismo.

Paulistanamente falando, isso significa também a existência, no átrio da sala, de variados balcões de confortável largura, que servem, de modo civilizado, sem confusão, empurrões ou atropelos (e nenhuma fila perceptível em qualquer deles) desde taças de espumante, vinhos ou rica variedade de outras bebidas, alcoólicas ou não, até a mais prosaica sopa de legumes - o italianíssimo minestrone -, passando por lotes das mais apetitosas empanadas e outros salgados e doces de todos os tipos, e chocolates e balas em variedade indescritível, para terminar nos reconfortantes e aromáticos espressos e capuccinos. Uma festa para todos os gostos, que precede o prato principal. A competência.

Que é então servida em doses cavalares, logo que se adentra a sala de concertos propriamente dita. Com o generoso espaço perfeita e devidamente aproveitado, impõe-se à vista, de saída, a solução acústica provida pelo teto falso, dotado de grandes painéis de madeira, controlados, em altura e angulação, por um sofisticado sistema de computação que adeqüa-o ao tipo de conjunto sinfônico presente. Depois, ver a chegada dos músicos ao palco e a entrada do "spalla" já com a luz ambiente diminuída, permite a compreensão da excelência também da iluminação, condizente com a qualidade geral da casa.



Quando o maestro inglês Frank Shipway entra, alto e ereto em sua impecável e britânica casaca, os aplausos explodem e se insinua em mim a premonição de que algo grande está por vir.

Desde os primeiros acordes da abertura de Os Mestres Cantores, de Richard Wagner, a OSESP - afiadíssima por horas e horas sob o comando enérgicamente profissional, dizem, do residente John Neschling - responde como um relógio de mecanismo finamente regulado e ajustado, proporcionando-me, em seqüência, sentimentos dos mais positivos e prazerosos: primeiro, a alegria de perceber que o brasileiro é totalmente capaz; seguido da realização de como o Brasil poderia ser muito melhor: ali estava o exemplo da realização de algo próximo da perfeição e replicável a outras frentes da vida nacional. E em seguida, e menos idealisticamente, a percepção do som, da qualidade física da música emanada do palco, simplesmente acachapante.

E por tudo isso, confesso que desceram-me algumas furtivas lágrimas. E nem era a peça do momento digna disso, vigorosa e alegre.

A apresentação seguinte, sobre partitura de Antonín Dvorák - o Concerto em Si Menor op. 104 - era muito mais sombria e de lenta cadência, mas de pureza sonora incomparável. E a que se seguiu ao intervalo - e, neste, o retorno ao festivo e gastronômico hall - as Variações Enigma, op. 36 de autoria de Edward Elgar, mostrou-me como uma noite, tão simples em sua essência, pode impregnar um indivíduo de tão bons sentimentos. Acho que dali se percebe melhor como a arte faz bem à sua vida.

Quem tiver a oportunidade de conhecer a OSESP e a SSP, que não a perca, antes que a coisa pública, eventualmente deixada à própria sorte, desande. Pelo menos lá e agora, dá um baita prazer em ser brasileiro.

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