Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HÉLIO DELMIRO - COMPASSOS - @@@,5

23 dezembro 2004

O guitarrista Hélio Delmiro lançou seu último CD, Compassos, depois de um razoavel tempo fora dos holofotes - por inúmeros problemas pessoais, Delmiro chegou a passar algum tempo em privação de liberdade, o que acabou dando margem em certo momento, inclusive, a um bonito movimento de seus pares para arrecadar valor que pudesse devolvê-lo à circulação e onde parece, Lulu Santos teria tido um papel muito nobre e mesmo decisivo - e o fez de uma forma soberba.

Não tendo em mim até agora um de seus maiores entusiastas, já à primeira audição de Compassos comecei a rever meus conceitos.

HD abre o CD, no qual assina cinco dos doze temas, majoritariamente voltado para interpretações intimistas, com My Favorite Things, clássico de Rodgers e Hammerstein, com uma tocada muito elegante, onde tangencia-se mui suavemente a bossa-nova na abertura e no solo de Bruno Cardozo nos teclados, quando este se utiliza de divisões muito criativas. Delmiro retorna então com timbre sofisticado, arredondando com sua perfeita escolha de notas a esse tema já muito batido, mas que se renova em suas mãos.

Segue-se então a elegante "Alabastro", de sua autoria, em uma ótima demonstração de como se apresentar com maestria jazzística a um tema totalmente brasileiro. Novamente aqui Cardozo aparece em belo diálogo com Delmiro, presente ao fundo a atuação segura de Jurim Moreira. A se notar, a ausência, na mixagem, do contrabaixo acústico de Jorge Helder, apenas intuído.

Em seguida, a rendição de Hélio Delmiro de Witchcraft, de Leigh e Coleman, é uma das mais elegantes interpretações dessa balada que já tive a oportunidade de ouvir, com a citação explícita de Garota de Ipanema remetendo mais uma vez aos bons tempos e climas da bossa-nova, e suas oitavas "westmontgomerianas" dando ao todo uma sofisticação digna de nota.

Ponteio, de Edu Lobo e Capinam vem em seguida e interfere no clima até ali contido do CD, permitindo a Cardozo, Hélder - finalmente bem audível - e a Jurim demonstrarem suas qualidades.

Em outra de suas composições, Esperando, Delmiro demonstra sua total maturidade artística. Embora eu ache questionável a utilização do "pitch bend" no teclado ao longo de toda a boa intervenção de Cardozo, o tema não destoa do clima pretendido.

Já em Espada de Fogo, também do líder, HD mostra que mesmo em andamentos mais rápidos consegue manter intactos seu lirismo e sua levada impecavelmente limpa, sem ruídos estranhos a afugentar os aficionados por sua arte. Infelizmente aqui se repete o fenômeno da abdução do baixo, pontificando ainda o bom ritmo imposto por Jurim Moreira ao grupo.

Uma Round Midnight "comme il faut" é a sétima faixa. Clássica, elegante e românticamente executada, e pronto, o recado está dado.

Segue-se então a faixa TP, provavelmente (e aqui peço o auxílio dos confrades e demais leitores) composta por Delmiro para o jovem e já então incrivelmente promissor Heitor Teixeira Pereira, hoje consagrado por seus anos de participação no conjunto pop Simply Red - onde, a despeito do prestígio jamais conseguiu, a meu ver, demonstrar totalmente sua grande arte - e uma bela carreira de instrumentista em Los Angeles. Jorge Hélder pontua ali com um baixo elétrico, perfeitamente audível nesse tema mais para o fusion, genero que pontificava na noite "jazzística" do Rio então, e HD aparece solto e criativo, com swing invejável, utilizando todos os tricks"de seu vasto arcabouço.

Na faixa seguinte, O Morro Não Tem Vez, de Jobim/Vinícius de Moraes, Delmiro usa com belo efeito a técnica de ferir duas cordas para uma mesma nota, sendo uma delas milimetricamente destoada da sua parceira, criando uma sensação mágica. A levada, próxima ao samba, contrapõe HD, Jurim e Cardozo. O desperdiçado craque Jorge Hélder, infelizmente, resta imperceptível ainda nesta faixa.

Itapê, de Cardozo, é outro tema intimista de bom desenvolvimento pelo tecladista, complementado sem maiores surpresas por Delmiro.

Compassos, de Delmiro, penúltima faixa do CD, não foge ao clima geral e apresenta o líder em plena forma, alternando os solos entre notas únicas e acordes, sempre criativo na execução.

Fechando o disco, Hélio Delmiro entoa bastante razoavelmente Ilusão À Toa, em um tributo ao gradecíssimo mas muito pouco reconhecido expoente da boa música produzida no Brasil, o craque Johnny Alf.

Para quem não amava Delmiro, encontrá-lo em tão boa forma nesse seu Compassos, foi uma bela surpresa, à qual classifico com @@@ e meia.

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