Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

FECHANDO O ANO MUITO BEM:
NOSSO MESTRE REMOTO E SEUS ARTIGOS INESQUECÍVEIS

30 dezembro 2004

Aqui vai, devidamente copiada do Jornal do Brasil de hoje, o último artigo do ano de 2004 do nosso Grão-Mestre-Remoto, o querido e enciclopédico Luiz Orlando Carneiro, que nos presenteou com uma colunaça digna de se baixar as portas desse período tão interessante em termos jazzísticos, como o ano em vias de acabar e não fazer mais nada. Quem não leu no JB pode recolher aqui os bons fluidos que seus escritos emanam para as cabeças interessadas no jazz. Uma verdadeira aula, que atingiu em cheio a este mural com seu curioso título que, se não for coincidência, muito nos alegrou. Vide a coluna fixa da esquerda deste blog... que aliás, está em fase de votação para expressar, o quanto antes os novos 10 discos que, por votação dos editores, seriam indispensáveis para uma ilha deserta. Aliás, em tempos como os de hoje, talvez fosse mais sensato levá-los para uma caverna no alto de uma montanha. Aproveitem a aula:

"Primorosos discos para a ilha deserta dos jazzófilos"

"O ano não poderia terminar, nesta coluna, sem uma alusão ao 50º aniversário da gravação de dois discos indispensáveis à sobrevivência de jazzófilos em uma ilha deserta. Miles Davis & The modern jazz giants (Prestige 7150), o primeiro grande ''pronunciamento'' do legendário trompetista, registrado por Rudy Van Gelder no seu estúdio de Nova Jersey, na véspera do Natal de 1954; e Horace Silver and the Jazz Messengers (Blue Note 461420), gravado 11 dias antes, também por Van Gelder, e que é a certidão de nascimento do célebre conjunto-universidade do qual o baterista Art Blakey foi reitor por mais de 35 anos.

The man I love (dois takes de cerca de oito minutos cada), Swing spring e Bemsha Swing, gravados na tarde de 24/12/54, são momentos supremos da história do jazz. Miles demonstrava, afinal, ter dominado por completo a técnica e o som que dele fariam, logo depois, o "príncipe do jazz", à frente do quinteto com John Coltrane, do sexteto de Kind of Blue (1958), e como solista das peças orquestrais para ele escritas por Gil Evans, entre 1957 e 59 (Miles Ahead, Porgy and Bess e Sketches of Spain).

A sessão do Natal de 54 ficou também célebre pela suposta troca de socos entre Miles e Thelonious Monk - donos de temperamentos nada ortodoxos, de concepções musicais diferentes e que tocavam juntos pela primeira (e única) vez. Miles desmente em sua autobiografia a luta corporal com Monk - que sempre viveu num mundo tão à parte como a sua música assimétrica e politonal, tida na época como "extravagante". Os outros "gigantes" eram Milt Jackson (vibrafone), Percy Heath (baixo) e Kenny Clarke (bateria).

Sobre a "briga" com Monk, Miles conta o seguinte: "Apenas mandei que ele ficasse de fora, que não me acompanhasse, a não ser em Bemsha Swing, composição dele. É que Monk jamais soube acompanhar um trompetista (os únicos instrumentistas de sopro que teve e tocavam bem com ele foram John Coltrane, Sonny Rollins e Charlie Rouse). O trompetista precisa de uma seção rítmica quente, mesmo quando toca uma balada. Mandei que ele ficasse de fora enquanto eu solava, porque não me sentia à vontade com suas passagens. Eu queria ouvir a seção rítmica passear, sem ouvir o som do piano. Queria ouvir o espaço na música". Miles acrescenta: "Fizemos grande música nesse dia, e o disco se tornou um clássico (...). Mas foi em Modern jazz giants que comecei a compreender como criar espaço deixando o piano de fora...".

O que o egocêntrico trompetista não disse (nem reparou) é que Monk, ao inserir de maneira esparsa as quatro notas básicas de The man I love, em tonalidades inesperadas, e nos breves clusters finais do segundo take, criava um clima mágico entre espaços silenciosos e compassos ricos em termos rítmico-melódicos. Os solos de Milt Jackson, ao dobrar o tempo nos dois takes, são primorosos. Martin Williams escreveu sobre os takes de The man I love na contracapa da reedição de 1969: "Quaisquer das belas e brilhantes abstrações de Miles Davis desse tema devem ficar entre suas melhores e mais pessoais paráfrases melódicas, ou seja, entre as melhores da história do jazz".

O primeiro registro fonográfico relevante do hard bop foi feito no Birdland, Nova York, em fevereiro de 1954 pelo quinteto formado por Art Blakey, Horace Silver, Clifford Brown, Lou Donaldson (sax alto) e Curley Russell (baixo). Os dois LPs de 10 polegadas A night at Birdland (Blue Note) anunciam o surgimento dos Jazz Messengers.

Dez meses depois, Blakey e Silver reuniram-se com Kenny Dorham (trompete), Hank Mobley (sax tenor) e Doug Watkins (baixo) para gravar quatro peças típicas do bop bem soul do pianista-compositor: Doodlin', Room 608, Creepin' in e Stop time. A sessão de 13/12/54 foi completada em 5 de fevereiro de 1955 com mais três temas de Silver (The preacher, To whom it may concern, Hippy) e outro de Mobley (Hankerin'). O LP histórico foi editado em 12 polegadas como Horace Silver and The Jazz Messengers, juntando os discos de 10 polegadas.

Na verdade, o título The Jazz Messengers já era usado por Blakey. Mas o primeiro álbum do conjunto que atravessaria quatro décadas, com o nome do baterista como líder, é de novembro de 1955: The Jazz Messengers at the Cafe Bohemia, Vol. 1. A formação era a mesma de dezembro de 1954, mas Silver passara a ser sideman de Blakey. Horace Silver formaria o seu primeiro quinteto estável em 1958, com Blue Mitchell (trompete), Junior Cook (sax tenor), Louis Hayes (bateria) e Gene Taylor (baixo). Foi o também icônico conjunto que gravou, para a Blue Note, Finger poppin' (janeiro de 1959) e Blowin' the blues away (em setembro)."

Assim disse nosso Mestre e assim eu copiei. Obrigado!

Feliz 2005, com muito jazz para todos!

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