Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

TIM FESTIVAL, 6/11/2004, SÃO PAULO

21 novembro 2004

DAVID SANCHÉZ QUARTET - @@@@

No segundo dia do Festival, aportou, afinal, o Jazz "so to speak" (em que pese o emocionante canto do cisne de Nancy Wilson, na véspera).

Já aos primeiros acordes da apresentação do quarteto de David Sanchéz, saxofonista de reputação construída nos círculos do Latin Jazz americano, de logo se anteviu uma jornada preponderantemente post-bop, sem prejuízo do lirismo com que algumas baladas preencheram corações e mentes numa noite memorável e surpreendente.

De freaseado fluente e muito influenciado por Sonny Rollins, Sanchéz já pode ser tido como um gigante do Jazz atual.

Só pelo direcionamento do set list, baseado em seus últimos discos, principalmente Coral (2004, Sony), com a inclusão de temas brasileiros (Villa-Lobos, variações sobre o 2º movimento da Bachiana 4, Coral; Jobim, Eu Sei que Vou te Amar; Edu Lobo, Pra Dizer Adeus) e outros de inclinação nada "afro-cuban" - como dele talvez esperassem - Sanchéz provou estar apto a declamar em qualquer idioma do swing, sem necessariamente estar vinculado a combos latin.

Não bastasse, trouxe para o TIM músicos que estiveram iluminados durante todo o concerto, como Edsel Gomez (piano) e Adam Cruz (bateria), ambos com inventividade em alta ebulição, Hans Glawichnig (baixo), todavia, em patamar bastante inferior.

Originais como Just a Piece e Adoracion, este de Eddie Palmieri (notadamente baseado em Blue Bossa, de Dorham), abundaram em modernidade, revelando um líder maduro em todos os sentidos, e que, inclusive, mostrou, nas baladas, o quão inesgotável é - e deve ser sempre, para os mais jovens - a puríssima fonte de Ben Webster e Dexter Gordon.

Em contraponto à tamanha maestria, uma humildade franciscana, ao final, a todos concitou para o apoteótico concerto de Brandford Marsalis, a quem também considera como um de seus ascendentes musicais.


BRANDFORD MARSALIS QUARTET - @@@@1/2

Ninguém imaginaria a conexão, mas dedicar o primeiro tema ao trombonista Robin Eubanks - uma composição de nuances intrincadas, na exata trilha do post-bop que marcou os últimos 20 anos de carreira deste magistral saxofonista (ao menos na sua discografia como líder de conjuntos de jazz) - não deixou de ser uma bela pista da surpresa armada por Brandford Marsalis para o ápice de sua apresentação.

Do disco novo (Eternal, 2004, Rounder), plácido e, de certo modo, uma ruptura com o avant-garde de outros trabalhos, Marsalis e seu inspirado quarteto (Joey Calderazzo, piano; Eric Revis, baixo; e Jeff "Tain" Watts, bateria) tocaram apenas as duas primeiras faixas do álbum, The Ruby and the Pearl e Reika's Loss, baladas espraiadas em constante lirismo e lúcidas inflexões.

O tour-de-force para o quarteto ficou, todavia, para algo como " Vaudeville", dificílima composição a la Mingus, com tempos deslocados, entremeados com improvisações individuais e coletivas, em constante desafio para a interação do grupo, que se mostrou intacto num interplay praticamente telepático.

Marsalis, além dos cristalinos timbres e emissão tanto no soprano quanto no tenor, é um virtuoso à altura de todos os cats que o antecederam na história do jazz. Seus (bons) flertes com o pop e mesmo com rap e a música eletrônica em nada, nada mesmo, obscurecem a grandeza de sua arte - jazzística por excelência - e sempre falada em primeira pessoa.

Calderazzo é o mais novo mestre da escola dos pianistas vigorosos - Tyner, Mabern e Hicks - a eles pouco ou nada devendo, sem contar as vivas cores, pinçadas de sua rica palheta, de Hancock e até Corea.

Jeff "Tain" Watts jamais permite que o loudness constante de seus pratos e tambores seja confundido com vazio de sutilezas ou pobreza de idéias. Ele é tudo o que Bobby Previte sonhou mas dificilmente conseguirá ser.

Eric Revis, o mais novo na banda (substituiu Bob Hurst, há alguns anos), já demonstra firmeza e talento de um young lion, a todo o tempo dele se demandado o pulso necessário para o hard swinging atômico do grupo.

Mas e a conexão, o ápice ?

O quarteto estremeceu o público com o clássico e irresistível blues Sonnymoon for Two (S. Rollins), para o qual surgiram do backstage - delírio geral - três "sopros" da big band de Dave Holland (Jaleel Shaw, alto; Chris Potter, tenor; e Robin Eubanks, trombone), num primeiro momento, e, em seguida, David Sanchéz (tenor) e seu pianista Edsel Gomez, improvisando, cada um a seu turno, e, ao fim, todos juntos, coletivamente (como no traditional), com sucedânea troca de fours, riff principal, e muitos, muitos sorrisos de infinita realização comungados por músicos e audiência.

Foi o nosso Jazz at the Philarmonic, experiência única a que todo jazzófilo sonha um dia testemunhar.

Depois desta inesquecível experiência, nenhum bis teria o que adicionar, mas ele veio, com o original In the Crease (do álbum Contemporary Jazz, 2000, Columbia), saciando, de vez, olhos e ouvidos desde então eternamente gratos à magnitude e generosidade de Brandford Marsalis.

Nenhum comentário: