CHICO PINHEIRO QUINTETO - @@@
Depois de revelar o furacão do marketing Maria Rita, Chico Pinheiro segue carreira, com técnica rebuscada e elogiável destemor na concepção e arranjos de sua música. Num set em que, além do líder, brilharam Teco Cardoso (sax soprano e flautas) e Andre Nehmari (piano), Pinheiro provou estar no caminho certo, tanto como instrumentista quanto como compositor, em que pese a dispensável concessão para temas cantados ou vocalizados pela convidada especial Luciana Alves.
BRAD MEHLDAU TRIO - @
Não à toa irritam tanto Brad Mehldau as constantes comparações com os trios de Bill Evans e Keith Jarret. Após ouvir alguns de seus discos, cheguei até a dizer, neste mesmo espaço, que Mehldau seria uma espécie de "Sub-Evans" ou "Sub-Jarret".
Mas depois da enfastiante e charlatanesca jornada de sexta-feira, vejo que também eu cometi imperdoável pecado ao dar a ele a dignidade de estar de algum modo associado, ainda daquela forma diminutiva, ao universo de gênios com tamanha envergadura.
Ultraja comparar o farsante Brad Mehldau às realezas Bill Evans e Keith Jarret, como, de resto, a qualquer outro músico de jazz.
Sua música não passa de ego-trip rasa, mais adequada às prateleiras da new age.
Porque jazz, definitivamente, não faz parte do dicionário de Mehldau.
Um pianista que despreza o swing não merece a alcunha de jazzista.
Não se fala, aqui, do swing "movimento do jazz" (pre-bebop), ou do swing "4/4" para o qual incautos "moderninhos" (moderninhos dos anos 70, ainda ?) torcem o nariz.
Falo do axioma Ellingtoniano que qualquer verdadeiro jazzófilo tem como bússola ao identificar, ou não, uma música como "jazz": "It don ´t mean a thing, if it ain´t got THAT swing". Desnecessário lembrar que Ellington foi o MAIS moderno e completo músico de jazz de todos os tempos.
Como fio condutor do tédio, entretanto, que se presta até a sonoterapias, o trabalho de Mehldau aparenta alcançar pleno êxito, inclusive porque emoldurado em capacidade técnica induvidosa.
Mas o kit de ilusionista amador que deve ter recebido dos pais quando criança, vem-lhe servindo bem para entreter platéias mundo afora - nem sempre tão leigas assim - carentes, talvez, frente a tantas aventuras post-boppers (algumas intimidadoras), de um melodismo simplório e apelativo, entremeado de melismos gelados, que temerariamente se pretende alçar à condição de "improvisos".
Ora, não basta formar um trio acústico de piano, baixo e bateria, ou tocar standards para ser jazz.
Não basta dedilhar Alfie ou More Than You Know lânguida e espaçadamente e muito menos amanteigar roqueiros como Beatles ou Radiohead, para filiar-se à nobre arte do improviso.
De seus pares, resta dizer da irrelevância de ambos para os "objetivos" do líder, salvo por mascarar, com este tipo formação, a imagem de um trio jazzístico.
O atrapalhado Jorge Rossy (bateria), até que se esforçou, mas Larry Grenadier (contrabaixo), francamente, bem poderia buscar outro mister, tal o mau gosto na condução e a absoluta ignorância acerca do que represente a dinâmica (alterações na intensidade do tocar: piano, médio ou forte, p.e.), ainda mais quando o "moto perpétuo" do "patrão" é o mood "baladeiro".
Em síntese, uma apresentação, de fato, "para não esquecer jamais", como advertiram tantos críticos.
Para não esquecer do profético Duke Ellington e sua clarevidência.
NANCY WILSON & TRIO - @@1/2
Um espetáculo emocionante, fundado muito mais na classe, categoria e experiência, do que propriamente no esplendor vocal, ofereceu-nos Nancy Wilson e seu trio, no qual destacou-se o veterano baterista Roy Mcurdy, vestido a rigor, como os colegas, numa elegância plenamente ajustada à despedida da cantora dos palcos, que aqui se anunciou.
Temas clássicos, que pontuaram a carreira de Nancy - em que pese o tom convencional dos arranjos - foram sempre por ela interpretados com competência e inventividade, revelando, inclusive, a fonte em que beberam, no modo de improvisar, promessas, como, por exemplo, a exuberante Rachel Farrell.
Um But Beautiful sublime, "miopemente" (ela não sabia de onde viera o pedido) dedicado a José Sá (nosso confrade Sazz), acabou sendo um dos highlights da apresentação, que, felizmente, fez ressurgir, no Club, o jazz ignorado por seu antecessor de palco.
Nancy Wilson teve uma carreira da qual pode se orgulhar, e a todos nós deu o prazer de com ela dividir a celebração de sua arte.
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