Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

BUD POWELL, NA COLUNA DO MESTRE LUIZ ORLANDO

23 setembro 2004

Por uma questão didática, e pelo fato de que, infelizmente hoje nem todo mundo lê o JB, transcrevo aqui o sempre excelente artigo do Mestre Luiz Orlando Carneiro desta data, para proveito dos habituées.

"Com seu piano bop, Bud Powell é o norte do jazz"

O compositor e musicólogo André Hodeir escreveu, em Hommes et problèmes du jazz (Paris, Le Portulan, 1954), que Charlie Parker deu ao jazz ''uma nova razão de viver''. O mesmo pode ser dito de Bud Powell com relação ao piano jazzístico, quando se considerava impossível aparecer alguém capaz de renovar, num nível excepcional, a mainstream sacramentada por Earl Hines e Art Tatum.
Bud Powell estaria completando 80 anos na próxima segunda-feira. A esquizofrenia, agravada pelo alcoolismo, apressou sua morte, aos 41 anos, em 1966. O baterista Roy Haynes - participante da histórica sessão da Blue Note, de 1949, em que o pianista-compositor gravou Bouncing with Bud e Dance of the infidels - comemorou 79 anos em março, well and alive, elevado pela crítica internacional ao Hall of Fame da revista Down Beat.

As gravações realmente geniais do pai do piano bop foram feitas num período inferior a 10 anos. Mas a inventividade, a fluência técnica e a consistência melódico-harmônica desses registros passaram a indicar o norte para todos os pianistas de jazz até hoje - exceção feita a uns poucos ''excêntricos'', como Thelonious Monk, que admirava demais o seu amigo e lhe dedicou o célebre tema In walked Bud.

''Powell - observou o crítico Martin Williams - tocava às vezes como um homem fugindo de uma ameaça, e talvez uma parte dele soubesse, desde o início, que o tempo lhe escapava. Havia uma urgência no seu modo de tocar, extramusical ou não, e uma precisão enfática no seu dedilhado, mesmo nos tempos mais velozes.''

Não terá sido por acaso que o título de uma das mais típicas composições de Powell é Tempus fugit. E deve-se lembrar, a propósito, que a fama do mais envolvente e influente pianista de jazz de todos os tempos acabou por encobrir o fato de que Powell foi, também, um dos três mais inspirados e prolíficos inventores de temas bop, ao lado de Monk e Tadd Dameron.

As principais composições do pianista, cujas improvisações pareciam escritas, em face da lucidez de suas argumentações musicais (a mão esquerda sempre respondendo às perguntas da direita), podem ser ouvidas nas sessões de estúdio gravadas pela Blue Note em agosto de 1949 (Bouncing, Dance of the infidels), maio de 1951 (Un poco loco, Parisian thoroughfare) e agosto de 1953 (Glass enclosure, Collard greens). Esses registros (o primeiro em quinteto com Fats Navarro e Sonny Rollins, os dois outros em trio, com os bateristas Max Roach ou Roy Haynes) foram reunidos em The amazing Bud Powell, dois volumes remasterizados em CD, em 2001, na série RGV (Rudy Van Gelder) da Blue Note (32136/37).

O terceiro álbum Blue Note particularmente relevante de Bud Powell (em trio com Art Taylor e Paul Chambers) é The scene changes (80907), gravado em dezembro de 1958, pouco antes da partida do founding father do bebop para Paris, em busca da paz que nunca encontrou, apesar da dedicação do artista gráfico Francis Paudras, que o acolheu em casa como se fosse um parente próximo. O filme Round midnight, de Bertrand Tavernier - embora a personagem central seja corporificada pelo saxofonista Dexter Gordon - baseia-se na história verdadeira da amizade e da admiração de Paudras por Bud Powell, nos últimos anos de vida do pianista.

O álbum The scene changes, relançado no ano passado, inclui - além da faixa-título - gemas do brilho de Cleopatra's dream, Comin' up e Gettin' there.

Numa discoteca mais completa do pianista não devem faltar as faixas do acervo da Verve (1949-51), selecionadas no CD duplo The genius of Bud Powell (Tempus fugit, Celia, Hallucitanions e as versões de standards memoráveis, como Get happy e Cherokee).

Em 1996, o grande pianista Chick Corea gravou o CD Remembering Bud Powell (Stretch 9012), em que improvisa sobre nove composições de seu guru, em companhia bem variada - o veterano Roy Haynes, o saxofonista Joshua Redman, o trompetista Wallace Roney e outros expoentes da ''geração dos 80''."

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