Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

- A BÍBLIA DO JAZZ COMPLETA 70 ANOS –

29 junho 2004

Há 70 anos, em 1º de julho de 1934, foi editado o primeiro número da revista Down Beat, conhecida popularmente como “Bíblia do Jazz” e “Bíblia do Músico”. Lida em mais de 160 países, sua transcendental importância é reconhecida por todos que se interessam pelos acontecimentos no mundo do jazz e da música americana em geral.

O primeiro exemplar custava 10 centavos de dólar, era em formato de tablóide e originalmente propunha-se a uma cobertura sobre “salões da dança, cafés, rádio, estúdios e teatros”, segundo seu editorial. Sua publicação concretizava um velho sonho de Albert J. Lipschultz, o seu fundador.

Os Estados Unidos saíam de uma grave recessão econômica e o primeiro editorial anunciava que “com o término da crise, o otimismo, há muito ausente, retorna aos semblantes da população. Uma nova era se inicia e a música volta a ser um dos grandes negócios da noite norte-americana. O país possui uma força artístico-musical excepcional. Com 150 mil músicos sindicalizados, nos propomos a atender as aspirações da classe musical, dando total cobertura a todas as atividades dessa área”.

O fonógrafo e o disco assumiam importância vital no lazer do povo americano. Surgiam centenas de clubes noturnos, cafés e bares, a maioria com música ao vivo, fontes crescentes de trabalho para milhares de músicos.
Todavia, era o rádio que dava maior projeção às orquestras, pequenos conjuntos e seus líderes, transmitindo shows de costa a costa do país. O mais famoso era “Let’s Dance”, da NBC, que apresentava as orquestras de Xavier Cugat, Ken Murray e Benny Goodman, este iniciando sua caminhada para a fama, realizando pouco depois uma completa revolução na música americana.

A Down Beat chegava em boa hora. Com escritório central em Chicago, posteriormente instalou filiais em New York e Los Angeles, os maiores centros do país. Mobilizando uma equipe de críticos, repórteres e fotógrafos, cobria virtualmente todos os acontecimentos importantes no universo da vida musical americana. A partir de então, sua trajetória marcante estabeleceu normas e padrões para a imprensa especializada.

A despeito de o seu primeiro número alcançar grande sucesso, a Down Beat não foi a pioneira em sua especialidade. Essa primazia coube a outra revista, a Metronome, fundada em 1883, que firmara seu conceito, embora sua cobertura se restringisse aos espetáculos de music hall e vaudeville, além de matérias sem conteúdo crítico sobre ragtime, blues e danças populares, incluindo o charleston e o shimmy, entre outras.

A concorrência foi benéfica. A Down Beat adotou outra linha, obrigando a Metronome a atualizar-se, reforçando seu quadro de colaboradores. Com isso, ganharam os leitores, havendo maior agilidade de informação e qualidade de crítica. Com o desaparecimento da Metronome, em dezembro de 1961, a Down Beat ficou absoluta no mercado, embora outras revistas tenham surgido, mas sem ameaçar sua incontestável liderança até os anos 80.

Uma das inovações da Down Beat amplamente imitada foi a de dar cotação às críticas de discos utilizando estrelas, variando de zero a cinco, em vez de números. Outra inovação, a partir de 1936, foi a realização anual de concursos para eleger os melhores músicos e as melhores orquestras através de votação dos leitores. A Metronome não perdeu tempo; a partir de 1939 realizou idêntica votação e, para sobrepujar a concorrente, no ano seguinte passou a produzir e gravar um disco com os vencedores, intitulado Metronome All Stars, que repetiu anualmente até 1953, voltando a fazê-lo pela última vez em 1956.

Outra inovação que resultou muito valiosa para os leitores da Down Beat foi a edição anual de livros reunindo todas as críticas publicadas entre 1956 e 1963, hoje peças de colecionadores raríssimas que valem uma fortuna.

A partir de 1953, a Down Beat promoveu um jazz poll exclusivamente com críticos, tendo como novidade a eleição da categoria “novos talentos”. A Metronome lançou seu primeiro anuário em 1951, e a Down Beat seguiu o mesmo caminho em 1956.

Uma curiosidade pouco divulgada foi que a Down Beat criticou discos de música clássica nos anos 50 e 60.

Ao longo dos anos, seus editores – todos conhecidos e respeitados por seus vastos conhecimentos musicais – Hal Webman, Jack Tracy, Don Cerulli, Don Gold, Gene Lees, Don DeMicheal, Dan Morgenstern, Jack Maher, Charles Doherty, Michael Bourne e tantos outros dignificaram sua linha de atuação, expandindo os horizontes da revista.

Em 1951 a Down Beat contratou a peso de ouro o famoso crítico Leonard Feather, então colaborador da Metronome, onde desde 1946 publicava o célebre Blindfold Test (prática criada por ele e bastante difundida entre os aficionados do jazz, consistindo em submeter várias gravações ao julgamento de um convidado sem qualquer conhecimento prévio do que ouvia. A idéia original de Feather era de permitir ao convidado uma função crítica totalmente isenta, sem idéias ou opiniões preconcebidas. O primeiro teste publicado na Down Beat foi em 23 de março de 1951, e continua sendo uma das colunas de maior interesse, embora, com a saída de Feather, passou a ser conduzido por Howard Mandel, Fred Bouchard, Lee Jeske e Bert Primach e inúmeros outros.
Com relação ao Blindfold Test, ocorreu uma curiosa novidade no anuário de 1958: vários músicos selecionaram gravações para submeter Leonard Feather ao teste, em inédita reversão do processo, do qual o crítico saiu-se relativamente bem.

A Down Beat cresceu continuamente, aumentando o número de leitores, assim como o dos seus críticos e correspondentes. Alguns dos seus correspondentes no Brasil foram Sylvio Túlio Cardoso, Marilyn Ballamaci e Christopher Pickard.

Inevitavelmente, com o passar dos anos ocorreram inúmeras mudanças. O formato tablóide foi substituído pelo de revista nos anos 50. Sua publicação, que era quinzenal, passou a ser mensal em 1979.
Em 1967 houve uma drástica guinada na sua orientação, passando a cobrir também o rock, motivando forte reação dos leitores, que enviaram centenas de cartas protestando contra a mudança.

A partir dos anos 60, atendendo a reivindicações dos músicos, principalmente dos novatos e estudantes, passou a editar colunas instrutivas sob orientação de músicos e professores conceituados. Outra função relevante da sua proposta educacional foram as inúmeras transcrições completas de solos e arranjos gravados por músicos importantes.

Cumprindo uma das suas finalidades educacionais mais relevantes, a partir da década de 70 a Down Beat concede anualmente dezenas de bolsas de estudos para o famoso Berklee College of Jazz, de Boston.

Durante muitos anos a direção da revista promoveu o Down Beat Jazz Festival em Chicago.

A Down Beat continua sendo a revista mais popular entre os jazzófilos de todo o mundo, ainda que uma parte deles prefira outras publicações congêneres. Ao completar 70 anos de atividade, mantém sua tradição em cobrir o panorama da música americana. Seu número comemorativo dos 70 anos está à venda nos Estados Unidos e em outros países do mundo.

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