Entre as máximas ingênuas creditadas ao nosso “bruxo”
Hermeto Pascoal, uma delas é quase verdade absoluta em relação ao jazz contemporâneo. Segundo ele, o pai da música seria a harmonia; a mãe, o ritmo; e o filho, a melodia. O que faz a diferença no jazzista atual é a sua concepção harmônica. Isso vale para os cantores também, que dependem mais do que nunca do talento de seus arranjadores. Ainda mais quando o repertório é feito com “standards”. Basta lembrar o álbum “
All The Way”, do pequeno
Jimmy Scott. Ali
Johnny Mandel (23/11/1925) prova em definitivo sua condição de maior arranjador vivo norte-americano e proporciona ao polêmico cantor, segundo a crítica, seu melhor trabalho. Guardadas as proporções, isso agora se repete no mais recente CD do pianista e cantor
Andy Bey, “
American Song”. Ao lado do também pianista
Geri Allen,
Bey elabora arranjos arrebatadores, até mesmo para os seus mais ferrenhos críticos. Aos 64 anos,
Andy Bey enfim parece
ter produzido sua mais inspirada obra.

Nascido em Newark (NJ), Andy Bey foi considerado um genuíno menino prodígio não só como pianista mas como cantor. O timbre grave de voz, um híbrido de
Johnny Hartman e
Johnny Alf, sempre fez seu estilo original. Até o inicio dos 60 viveu em Paris ao lado das irmãs quando formou o “
Andy & Bey Sisters”. O grupo se desfez em 66, já nos Estados Unidos. Nas duas últimas décadas,
Bey foi visto ao lado de grandes nomes do jazz, como
McCoy Tyner,
Thad Jones/Mel Lewis,
Eddie Harris e
Lonnie Liston Smith. Foi ainda o vocalista de
Gary Bartz e
Horace Silver. “
American Song” é o seu 8º álbum solo, lançado em fevereiro deste ano pela
Savoy Jazz, e com referências entusiasmadas na
Down Beat. Participam do CD o clarinetista
Dwight Andrews, o percussionista
Mino Cinelu, o flautista e saxofonista
Frank Wess, o guitarrista
Paul Meyers, o trombonista
Steve Davis e o trumpetista
Vernell Garnett. O repertório gira em torno de “standards” mais do que clássicos assinados por
Ellington,
Strayhorn,
Burke e
Bernstein, entre outros.
O tempero saboroso do CD fica por conta dos arranjos que, pela atitude harmônica, transformam o óbvio em momentos até surpreendentes. Basta conferir o primeiro tema, “
Never Let Me Go” (
Evans/Livingston). Outros destaques ficam para “
Prelude To A Kiss” (
Ellington/Gordon/Mills), “
Speak Low” (
Nash/Weill), “
Lush Life” (
Strayhorn) e “
Satin Doll” (
Ellington/Mercer/Strayhorn). A voz de
Bey parece não sofrer mutações com o tempo. “
American Song” é mais uma prova do respeito dos norte-americanos aos seus artistas, independente da idade. Uma prova, no caso de
Andy Bey, definitiva.
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