Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

NAT KING COLE, O INESQUECÍVEL CANTOR ROMÃNTICO

18 março 2004

Para muitos, Nat King Cole (1917-1965) foi o maior cantor romântico de todos os tempos, reconhecido mundialmente como criador de sucessos eternos, deixando uma obra imorredoura. Invariavelmente, as canções que selecionava eram belas melodias que primavam pelo bom gosto. Suas interpretações ficaram para sempre. Sua voz de timbre original e de qualidade melódica excepcional projetava uma intensa gama de emoções, através da forma instintiva de transmitir autenticidade a cada palavra.

Cole alcançou seu ponto culminante como cantor de baladas a partir dos anos 40. Sua carreira começou como pianista de jazz em meados da década de 30, em plena Era do Swing, sendo constantemente requisitado para gravações com os maiores nomes da época, entre os quais Lester Young, Lionel Hampton, Coleman Hawkins, Benny Carter, Charlie Shavers e Buddy Rich. Ele liderou um trio que ficou famoso pela sofisticação e criatividade musical, e fez parte da renomada trupe do Jazz at the Philarmonic, um grupo criado pelo produtor Norman Granz, que se especializou em promover concertos de jazz em teatros e grandes auditórios. Sua morte, em 15 de fevereiro de 1965 (algumas fontes dão a data de 12 de fevereiro), silenciou um dos artistas mais originais de todos os tempos.
Começando no conjunto do seu irmão Eddie Cole, um baixista que não chegou a ser conhecido, com ele Nat gravou seu primeiro disco em 1936, aos 19 anos. Imediatamente chamou a atenção dos jazzmen para o seu talento, com frases improvisadas coerentes e imaginativas, revelando a influência do patriarcal Earl Hines. Aos poucos ele se destacava e, em 1939, partiu para a grande aventura, organizando seu trio que ficou famoso com o concurso de Oscar Moore (guitarra) e Johnny Miller (baixo).
A instrumentação piano-baixo-bateria era revolucionária, sendo adotada mais tarde pelos pianistas Art Tatum, Page Cavanaugh, Oscar Peterson, Ray Charles, Ahmad Jamal, Ray Ellington, George Shearing e até o brasileiro Dick Farney. Todos, em diferentes graus, foram influenciados por ele, sendo que Ray Charles, Oscar Peterson e Ray Ellington também o imitaram cantando.
Uma história fantasiosa divulgou sua origem como cantor. Estaria ele apresentando-se numa boate quando um dos presentes, visivelmente alcoolizado, exigiu em altos brados que cantasse “Sweet Lorraine”. A verdade, todavia, foi outra: Cole tocava num clube noturno, cujo proprietário lamentou não ter um cantor para atrair mais público e melhorar seus negócios. Cole conversou a respeito com o arranjador Phil Moore, que lhe sugeriu: “Por que não canta você mesmo ?”. Foi assim que ele começou a cantar.
Alguns dos seus primeiros discos foram sucessos, principalmente “Straighten Up and Fly Right”, “Sweet Lorraine” (durante muito tempo foi seu carro-chefe), “This Will Make You Laugh” e “That Ain’t Right”, gravados em 1943. Sua maneira pessoal de interpretar, acentuando as frases com timbre e dicção característicos, muitas vezes estendendo a última nota de uma frase, adicionando um tempo extra ao compasso, um artifício adotado por Mel Tormé, Carmen McRae, Della Resse, Buddy Grecco, Johnny Alf, Leny Andrade e outros, encantou o público. Ao mesmo tempo, aperfeiçoou um estilo de acompanhar-se ao piano utilizando acordes sincopados que complementavam suas frases cantadas, com harmonizações bem mais complexas e inventivas das que se ouviam habitualmente, criando o que se convencionou chamar de comping, mais tarde imitado à exaustão por inúmeros cantores-pianistas, inclusive Dick Farney e Johnny Alf.
Mas, o sucesso espetacular ainda estava para acontecer. Depois de assinar contrato com a Capitol - uma gravadora nova de Hollywood que buscava grandes talentos no início dos anos 40, ganhando impulso extraordinário no mercado americano -, Cole conheceria o auge da popularidade. A Capitol surgiu com uma proposta agressiva, contratando Benny Goodman, Stan Kenton e Benny Carter, três dos mais populares band leaders da época, solistas de renome como Coleman Hawkins e Jack Teagarden, e vários vocalistas, incluindo Jo Stafford, Kay Starr, Dean Martin e Margaret Whiting, entre outros.
Cole assinou com a Capitol em 1943, em meio à primeira greve decretada pelo poderoso Sindicato dos Músicos, quando estavam proibidas as gravações de estúdio.
Significativamente, os discos que mais contribuíram para solidificar sua reputação como pianista de jazz não foram com seu trio, nem para a Capitol. Foram gravações com o saxofonista Lester Young, em 1942, para o selo Alladin (“I Can’t Get Started” e “Body and Soul”); com o Jazz at The Philarmonic, em julho de 1944, nos antológicos “Body and Soul” e “Blues”; e, em 1945, com um conjunto intitulado Sunset All Stars, ao lado de Charlie Shavers, Herbie Haymer, John Simmons e Buddy Rich. Esses discos chegaram às lojas somente em 1945, depois que o trio de Cole estabelecera seu prestígio como um dos pequenos conjuntos de maior vendagem nos Estados Unidos.
Paralelamente àquelas sessões, ele continuou gravando com o trio. Em “It’s Only A Paper Moon”, gravado em 1943, ele tocou acordes muito parecidos com os que George Shearing utilizou no seu mega-sucesso “September in the Rain”, de 1949. Por outro lado, seu trio gerava uma instigante interação constante muito mais freqüente que a do trio de Ahmad Jamal, a quem creditaram erroneamente essa inovação.
A partir de 1947, quando Cole gravou “Nature Boy” com uma orquestra de estúdio, os produtores decidiram mantê-lo à frente das grandes formações com seção de cordas, em arranjos cuidadosamente elaborados, assumindo definitivamente sua condição de cantor romântico.
Em meados dos anos 50, o trio era apenas uma lembrança do passado e o jazz perdera definitivamente um dos seus mais brilhantes pianistas. Trabalhando com arranjadores do nível de Nelson Riddle, Frank DeVol, Billy May, Gordon Jenkins, Dave Cavanaugh, Pete Rugolo e Ralph Carmichael, Cole perpetuou uma série de clássicos: além de “Nature Boy”, surgiram “Mona Lisa”, “Lush Life”, “Blue Gardenia”, “Unforgettable”, “Too Young”, ”Lost April”, Non Dimenticar”, “When I Fall In Love”, “Fascination”, “An Affair to Remember”, “Stardust”, “Handful of Stars”, “September Song”, “To the End of the Earth” e inúmeros outros.
Segundo consta, os executivos da Capitol tentaram impedir que Cole gravasse “Lush Life”, e ele precisou insistir muito para conseguir essa autorização. Depois que a gravou, a canção tornou-se um standard da música americana. Na opinião de alguns críticos, Cole jamais gravou qualquer música com tanto sentimento e tanta força de expressão como em “Lush Life”.
Cole também tinha certa preferência pelos ritmos exóticos, especialmente os de atmosfera levemente oriental. Alguns desses ritmos aparecem em “Haji Baba”, “Land of Making Believe”, “The Ruby and the Pearl”, “Song of Delillah” e “Land of Love”. Ao mesmo tempo, a Capitol descobriu que ele poderia alcançar maior sucesso interpretando canções supostamente religiosas, como “Answer Me, My Love”, “Faith Can Move Mountains” e “Make Her Mine”. Na ânsia do sucesso desenfreado para atender ao mercado pop da época, os executivos da Capitol obrigaram Cole a gravar músicas totalmente incompatíveis com sua personalidade: “Rumblin’ Rose” e “Those Lazy-Hazy-Crazy Days of Summer”.
Um hiato nas sessões com orquestras de estúdio permitiram-lhe voltar às origens ao gravar os álbuns “After Midnight”, inteiramente jazzístico, com um conjunto destacando Juan Tizol (trombone-de-válvula), Harry Edison (trompete) e Stuff Smith (violino), e “Welcome to the Club”, acompanhado por nada menos que a orquestra de Count Basie, sem o líder.
Uma das personalidades mais populares da música americana, Cole foi o primeiro artista negro a comandar seu próprio programa de TV. Ele apareceu em inúmeros filmes, excursionou à Europa e à América Latina, apresentando-se no Brasil em 1959. Um dos seus shows levou ao delírio o público que lotou o ginásio do Maracanãzinho, no Rio.
Nessa turnê, ele gravou discos de músicas brasileiras e mexicanas, em português e espanhol, cujo sentido nitidamente comercial destoa da sua obra. Esse oportunismo foi outra imposição dos executivos da Capitol para aumentar sua popularidade entre o público latino.
Nat King Cole casou-se duas vezes. A primeira, com Nadine Robinson, durou pouco tempo; a segunda, com a cantora Marie Ellington, que atuou na orquestra de Duke Ellington e abandonou a carreira para cuidar da família. Mesmo bem casado, não faltaram os mexericos que o ligaram a mulheres famosas, incluindo as atrizes Zsa Zsa Gabor e Dorothy Dandridge, além da cantora Eartha Kitt.

Fumante inveterado, Cole consumia três maços de cigarros por dia. Em meados de 1964, foi detectado um câncer no pulmão. Sucessivas internações e tratamento com radiações de cobalto apenas retardaram o inevitável.
Decorridos 39 anos da sua morte, embora quase completamente esquecido no Brasil, os discos de Nat King Cole continuam sendo vendidos em todo o mundo. Usufruindo de processos tecnológicos modernos, sua filha Natalie Cole gravou em duo com ele o antigo sucesso “Unforgettable”, que voltou às paradas 42 anos depois da sua gravação original. Um ano depois, ela repetiu a fórmula com “When I Fall in Love”.
Entre inúmeras das suas reedições em CD, a caixa “Songs We Will Never Forget” inclui 90 dos sucessos que lhe garantiram a eternidade artística.

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