Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

17 dezembro 2017

Série   “PIANISTAS  DE  JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
55ª Parte - II
(47)(b) DUKE  ELLINGTON     Pianista Executante de uma Orquestra

Seguimos com a cronologia de ELLINGTON.

1942 
Barney Bigard deixou a banda, que passou a contar com o clarinete e o sax.tenor de Jimmy Hamilton. A morte do contrabaixista Jimmy Blanton é uma perda lamentável. Duas composições que se tornaram clássicos do JAZZ marcam o ano: “C-Jam Blues” e “Perdido” (de Juan Tizol)
1943 
A suíte “Black, Brown And Beige” foi lançada no Carnegie Hall pela banda, que a partir de então e até 1951 realizou concertos anuais nesse espaço nobre. O ano de 1943 foi o da composição “Concerto For Cootie”. O grande tenorista Ben Webster deixou a banda sendo substituído por outro expoente do sax.tenor, Al Sears
1944 
Com 28 anos o surpreendente trumpetista “Cat” Anderson (William Alonzo Anderson) foi a grande aquisição para o elenco da banda, enquanto desligaram-se Juan Tizol e Rex Stewart. Destaque para a composição “I’m Beginning To See The Light”
1945 
Após 13 anos Otto Hardwick deixou pela segunda vez a banda, enquanto Oscar Pettiford (contrabaixo) e Russell Procope (clarinete e saxofone.alto) juntaram-se à mesma. Nesse ano a composição “I’m Just A Lucky So-And-So” tornou-se veículo de beleza melódica e lírica para o sax.alto de Johnny Hodges
1946 
Faleceu o trombonista “Tricky Sam” Nanton (Joseph Irish Nanton, 01 de fevereiro de 1904 a 20 de julho de 1946)
1947 
Entrou para a banda o trombonista Tyree Glenn e a composição “The Liberian Suíte” estreou no Carnegie Hall
1948 
O baixista Oscar Pettiford foi substituído por Wendell Marshall.   ELLINGTON apresentou-se no “Palladium” de Londres, assim como em outras cidades inglesas, seguindo depois pela Europa continental mas sem a banda completa
1950 
Terceira excursão da banda à Europa, já contando com o sax.tenor de Paul Gonsalves
1951 
Em janeiro ELLINGTON apresentou no “Metropolitan” sua “Harlem Suíte” (também denominada “A Tonel Parallel To Harlem”), que havia sido encomendada pelo grande maestro Arturo Toscanini. O grupo sofre sérias baixas com as saídas de Johnny Hodges (que retornou 04 anos depois), Lawrence Brown e de Sonny Greer, mas ganhou com o retorno do trombonista Juan Tizol e as aquisições do baterista Louis Belson, dos trumpetistas Clark Terry e Willie Cook, do trombonista Britt Woodman e do saxofonista Willie Smith (que se retirou logo após em 1952, sendo substituído por Hilton Jefferson)
1953 
O baterista Louis Belson foi substituído por Butch Ballard. Com letra de Billy Strayhorn e Johnny Mercer, ELLINGTON compõe o hiper-clássico “Satin Doll”
1955 
Johnny Hodges retornou para a formação de ELLINGTON e Butch Ballard foi substituído pelo baterista Sam Woodyard
1956 
ELLINGTON foi capa da revista “TIME” (20 de agosto) e realizou apresentação triunfal no “Newport Jazz Festival” (com o destaque já assinalado anteriormente para a atuação de Paul Gonsalves)
1957 
Foi o ano em que ELLINGTON homenageou a “primeira dama do JAZZ”, Ella Fitzgerald, com a composição “Royal Ancestry – Portrait Of Ella Fitzgerald” e o lançamento do tema “A Drum Is A Woman”
1958 
Excursão da banda à Europa, com apresentações no “Festival de Leeds” (Inglaterra) para a Rainha da Inglaterra e a Princesa Margaret
1959 
Nova excursão à Europa.   No Palácio de Buckingham ELLINGTON compõe e grava “The Queen’s Suíte”, para a Rainha Elizabeth; liderou sua banda na trilha sonora do longa metragem “Anatomy of a Murder” (“Anatomia de um Crime”, com James Stewart, a bela Lee Remick, Ben Gazzara e George Scott dirigidos por Otto Preminger); o belíssimo album da trilha sonora recebeu 03 prêmios “Grammy”. O ano marcou também a primeira aparição de ELLINGTON no programa de televisão de Ed Sullivan (28 de junho)
1960 
Lawrence Brown retornou à formação de ELLINGTON;   como versão histórica o maestro escreve a trilha sonora do longa metragem “Paris Blues” (estrelado por Paul Newman, sua esposa Joanne Woodward, Sidney Poitier e com a presença de Louis Armstrong), lançado no mercado em 1961 e em versão em DVD e português já no século atual; ainda que os créditos no filme sejam dados a ELLINGTON, a trilha sonora recebeu indicação para o “Oscar” e é em sua maior parte da autoria do “alter-ego” de ELLINGTON, Billy Strayhorn, inclusive com o número de abertura do filme, “Take The “A” Train”, então já prefixo da banda (vide histórico de 1939 sobre a relação musical ELLINGTON / Strayhorn)
1961 
DUKE ELLINGTON gravou com Count Basie, Coleman Hawkins e Louis Armstrong
1962 
Mais uma excursão à Europa com seguidas apresentações. Gravações com o baterista Max Roach e com o contrabaixista Charles Mingus. Após 22 anos desde sua retirada da banda em 1940, retornou à formação o trumpetista Cootie Williams, juntamente com a entrada para o conjunto do trombonista Buster Cooper (George “Buster” Cooper, nascido na Flórida em 1929)
1963 
Para a exposição “Century Of Negro Progress” em Chicago, ELLINGTON escreveu e produziu o show “My People” (com os temas do show gravados e lançados em álbum com o mesmo título). Mais uma excursão à Europa com gravações em Paris. Turnês por vários estados americanos promovidas pelo Departamento de Estado
1964 
Excursões para temporadas na Europa e no Japão. O filho de ELLINGTON, Mercer Ellington, entra para a seção de trumpetes da banda tornando-se, também, o responsável pela organização das excursões do grupo
1965 
Apresentação na “Casa Branca”, sede do governo americano, excursões á Europa e às Ilhas Virgens. Retornando da Europa ELLINGTON foi indicado para receber o prêmio Pulitzer da Música, indicação recomendada pela unanimidade pelos membros do júri, mas o Conselho do Prêmio não aceitou a recomendação em clara demonstração de preconceito, levando o júri a demitir-se em protesto; entrevistado pela revista “Newsweek” sobre o ocorrido, o maestro afirmou com sua conhecida classe que "tudo o que fazia era compor música e que não ficaria irritado nem permitiria que o episódio atacasse sua integridade musical; além de tudo Deus estava sendo muito bondoso com ele, não permitindo que ficasse famoso tão jovem". ELLINGTON tocou com a “Boston Pops Orchestra” e realizou seu primeiro “Sacred Concert” na Catedral da Graça em São Francisco. 
1966 
ELLINGTON recebe do Presidente americano Lyndon Johnson a “President’s Golden Medal”. Excursão à Europa com Ella Fitzgerald (com apresentação no “Cine Monumental” de Madrid / Espanha, além de gravação de programa para a televisão espanhola, TVE, Prado Del Rey), prosseguindo a temporada até Dakar, Senegal (com destacada participação no “World Festival Of Negro Arts”) e Japão. Em parceria com o grande pianista Earl Hines ELLINGTON compõe o clássico “House Of Lords”
1967 
Morreu Billy Strayhorn e em sua homenagem ELLINGTON gravou o álbum “And His Mother Called Him Bill” (que também foi lançado no Brasil).   Realização de novos concertos com Ella Fitzgerald.   ELLINGTON recebe o grau honorário de “Doutor Honoris Cause” da “Yale University”
1968 
Excursão da banda pela América do Sul (Brasil, Argentina e Chile) e México. O clarinetista, saxofonista e arranjador Jimmy Hamilton foi substituído por Harold Ashby. A banda regida por ELLINGTON executou seu segundo “Sacred Concert” na “St John The Divine” diante de 8.000 presentes (mesmo local de seu funeral em 1974). 
1969 
ELLINGTON foi homenageado com festa na Casa Branca pelo seu 70º aniversário, ocasião em que recebe do Presidente Richard Nixon (de triste memória pela escândalo “Watergate”) a “Medal Of Freedon”. Essa homenagem estará comentada na “Filmografia” (DUKE ELLINGTON AT THE WHITE HOUSE, mini-documentário norte-americano produzido por Sidney J. Silver, 18 minutos). Excursão à Europa Central (incluindo a Tchecoslováquia), apresentação do “Sacred Concert” em Paris, convidado de honra em banquete promovido pelo cantor / ator Maurice Chevalier, apresentações em Barcelona e Estocolmo e excursão à Índia
1970 
Faleceu Johnny Hodges, o mais lírico e melodioso mestre do sax.alto
1971 
O trumpetista Cat Anderson deixou a banda, que incorporou o trumpetista texano Harold “Money” Johnson, o contrabaixista Joseph Rupert “Joe” Benjamin, o saxofonista Harold “Geezil” Minerve, o trumpetista Johnny “John” Coles e Rufus Jones. Excursões à Rússia seguindo-se giro pela Europa do oeste. Segunda temporada na América do Sul (no Brasil de 16 a 18 de abril com apresentações no Teatro Municipal do Rio de Janeiro) e ida ao México. Prêmio no “Newport Jazz Festival” (“Togo Brava!”) e no “Lincoln Center” (“The Goutelas Suíte”)
1972 
Excursões ao Oriente incluindo Japão, Filipinas, Indonésia, Fiji, Tailândia e Singapura
1973 
Excursões pela Europa, Zâmbia e Etiópia (onde foi condecorado com a “Emperor’s Star”). Na França ELLINGTON foi agraciado pelo governo com a “Legião de Honra”, a distinção mais elevada que um civil pode receber. Foi publicada sua auto-biografia, “Music Is My Mistress”.   ELLINGTON foi o primeiro músico de JAZZ a entrar para a “Academia Real de Música” de Estocolmo, Suécia.
1974
Faleceu  DUKE ELLINGTON, conforme detalhes anteriormente indicados.

Ampliando a cronologia anterior, iniciamos afirmando que até hoje a obra de ELLINGTON influencia o JAZZ e, não sem fundadas razões, muitos o consideram o maior compositor americano de todos os tempos. Até seu desentendimento com o “manager” Irving Mills no final da década de 1930, com este ELLINGTON dividia os créditos de suas composições. A partir de 1939 Billy Strayhorn passou a ser seu grande colaborador, algumas vezes sem o devido crédito autoral (como no caso do grande sucesso e prefixo da banda “Take The A Train”), o que perdurou até o falecimento de Billy em 1967.
Interessante notar que a primeira ocupação profissional de ELLINGTON nada teve a ver com a música, pela qual e a princípio não era apaixonado, mas com seu primeiro e grande amor, o baseball = foi vendedor de amendoim nos estádios para poder ver seus ídolos de perto, o que o obrigava a gritar para conseguir centavos; segundo ele isso ajudou-o a vencer a timidez.
Pai e mãe de ELLINGTON tocavam piano, e o menino iniciou seu aprendizado nas “88 teclas” aos 07 anos, mas como citado foi com a professora Klingscale que ele teve acesso ao estudo formal e, com muita dedicação e esforço, começou a atuar como profissional aos 17 anos. Até então estava voltado para as artes, em particular para o desenho já que queria ser pintor ao invés de cursar instituições voltadas para a música, chegou a estudar no “Armstrong Manual Training School”. Esse estudo mais tarde impregnou títulos de muitas das composições de ELLINGTON, que nos remetem a cores, a paisagens, a cenas do dia-a-dia: “The Flaming Sword”, “Sepia Panorama”, “Dusk In Desert”, “Mood Índigo”, “Beatiful Indians”, “Country Girl” e outras. 
ELLINGTON dizia que:
minha música é a transformação em sons de imagens e de lembranças; lembranças são importantes para um músico de JAZZ; certa vez escrevi uma peça de 64 compassos baseada na recordação que eu tinha de observar pela janela um menino caminhando na rua e assobiando”.
À época de suas infância e juventude ELLINGTON foi impregnado de música “ao vivo” em seu lar e nas casas de família (tocava-se o piano com base em partituras adquiridas em lojas, e ter um piano no lar significava “status”), nos salões de dança, nas igrejas, nos teatros e nos clubes, pois então a indústria fonográfica engatinhava, a televisão era uma miragem de Julio Verne e o rádio apenas um embrião. 
Ouvia e muito os pianistas de “ragtime”, aprendeu algumas “artimanhas pianísticas” na Filadélfia com o pianista de “ragtime” Harvey Brooks, que o fascinou e teve então e verdadeiramente despertada a paixão pela música, que passou a estudar com seriedade. Paralelamente atuou em clubes locais (acompanhou entre outros a Doc Perry, Ralph Green, Louis Thomas, Claude Hopkins, Elmer Snowden, Louis Brown, Daniel Doyle, Russell Wooding e Roscoe Lee), assim e como já assinalado anteriormente tocou em “rent-parties”; deixou a “Armstrong MTS” poucos meses antes de completar o curso, com o objetivo de dedicar-se com seriedade à carreira musical.
ELLINGTON formou ainda em Washington e aos 17 anos seu primeiro grupo, um quarteto com saxofone / piano / banjo-guitarra e bateria, “The Duke’s Serenaders”, estreando no “ballroom” “True Reformer’s Hall”, depois tocando em outros clubes (“Abbot House”, “Oriental Theatre” e outros), manteve intensa atividade em clubes, mansões e festas em geral, graças ao tino comercial de ELLINGTON;     levou o grupo para New York em 1921.
Thomas “Fats” Waller era seu pianista preferido e foi um dos grandes incentivadores de ELLINGTON quando em 1923 aportou em New York, onde conheceu diversos outros músicos de JAZZ e novos sons, inteiramente diferentes do que se tocava em Washington; em particular apreendeu a técnica e o “feeling” dos pianistas do Harlem, mestres do “stride-piano” (Willie “The Lion” Smith e James Price Johnson principalmente), assim como deliciou-se com o “swing” e a maestria de Louis Armstrong e de Sidney Bechet.
A primeira experiência do grupo na “maçã” não foi feliz, ainda que tenham tocado poucas semanas na banda de Wilbur Sweatman, então atuando no “Lafayette Theatre”. Uma segunda tentativa começou muito mal com o cancelamento de um contrato prometido mas não cumprido; todavia a cantora Ada “Bricktop” Smith aceitou o grupo no “Barron’s”, seu clube no Harlem; a banda de ELLINGTON agradou aos freqüentadores e a Ada, facilitando as apresentações dos rapazes em diversos clubes, tocando música para dançar.
Foram ouvidos por Bix Beiderbecke e por Tommy Dorsey entre outros músicos, ao mesmo tempo em que ingressaram na banda o trumpetista Bubber Miley e o trombonista Charlie Irvis, ambos especialistas na surdina “wa-wa”, base inicial para a sonoridade “jungle” das bandas de ELLINGTON.
Ainda em 1924 o maestro gravou seu primeiro disco com 02 temas de sua autoria e escreveu as partituras para a revista musical “Chocolate Kiddies” (que não estreou em New York mas no ano seguinte em Berlim, quando a orquestra de Sam Wooding ali excursionava em 1925).
O primeiro trabalho fixo em New York foi no clube “Barron’s” no Harlem (Otto Hardwick / saxofone, Sonny Greer / bateria, Elmer Snowden / banjo e guitarra, e Arthur Whetsol / trumpetista compunham o quinteto capitaneado por ELLINGTON), passando depois para o “Kentucky Club” (então “Hollywood Club”) na Broadway, com o grupo rebatizado como “The Washingtonians” e mantendo-se nesse clube por 04 anos, além de atuar simultaneamente em outros clubes: “Ciro’s” (com a banda de Harry Richman), “Exclusive Club”, “Flamingo”, “Hollywood Club”, “Lafayette”e “Plantation Club”.
Nos intervalos o grupo de ELLINGTON tocava na Nova Inglaterra (“Charleshurst Ballroom” de Salem e “Standard Theatre”). O grupo foi desfeito logo após.
Em 1927 surgiu a primeira grande e dourada oportunidade para ELLINGTON, então atuando no “Standard Theatre” da Filadélfia: Joe “King” Oliver (New Orleans / Louisiana 11/maio/1885 a Savannah / Geórgia 08/abril/1938, que conhecemos como um dos grandes trumpetistas e “patrono/mentor” do genial Louis Armstrong, autor do tema “West End Blues” que Armstrong imortalizou em 28/junho/1928) exigiu maior remuneração para atuar no “Cotton Club” (lembrar do filme de 1985 de Francis Ford Copolla, estrelado por Richard Gere), o de maiores nome e prestígio no Harlem, não sendo atendido; foi então o lugar oferecido a ELLINGTON que imediatamente aceitou e passou a apresentar-se a partir do domingo, dia 04 de dezembro de 1927, como a “Duke Ellington And His Jungle Band”; como as apresentações no “Cotton” eram retransmitidas regularmente pelo rádio, a formação de ELLINGTON logo tornou-se conhecida a nível nacional. A permanência no “Cotton” durou até fevereiro de 1931, sendo que quando ELLINGTON desligou-se do clube, já era uma das maiores atrações “negras” dos U.S.A. e seu então empresário, Irving Mills, avaliou que ganharia mais excursionando que permanecendo no “Cotton”. Como é sabido o “Cotton Club”, fundado em 1923 pelo gangster inglês Owney Madden e localizado em um sobrado da Rua 142 no cruzamento com a Avenida Lenox, era o clube mais rico, luxuoso e opulento do Harlem e da época, freqüentado sómente por brancos e com espetáculos por negros (Cab Calloway, Andy Kirk, Jimmy Lunceford, Ethel Waters, Adelaide Hall, Bill “Bojangles” Robinson e tantos outros ali se apresentaram em números-solo ou com suas bandas).
Sempre que tinha intervalos no “Cotton Club” ELLINGTON apresentava-se em outros locais: “Palace”, “Paramount” e “Fulton” (neste em show de Maurice Chevalier, o notável “chansonier” e ator francês).
No período de apresentações no “Cotton Club” ELLINGTON também se dedicou a mais atividades musicais e sua veia de compositor foi irrigada permanentemente: “Black And Tan Fantasy” e “Creole Love Call” (gravada com a cantora Adelaide Hall), “The Mooche”, “Black And Beauty”, participação com a banda na revista musical “Show Girl” de Ziegfeld e do curta-metragem “Black And Tan Fantasy” (filmado no “Cotton Club”), filmagem em Hollywood do longa metragem “Check And Double Check”, sucessos com “Mood Índigo”, “Wall Street Wail”, “Rockin’in Rhythm”, “Ring Dem Bells” e “Old Man Blues”, enfim o “curriculum” musical de ELLINGTON não parava de enriquecer-se.
Com relação ao seu tão decantado “jungle style”, em 1929 a tríade Joe “Tricky Sam” Nanton ao trombone e Bubber Miley ao trumpete com seus grunhidos em surdinas “wa wa” imitando animais com sonoridades “dirty” e “growl”, mais os efeitos nos tom-tons e címbalos de bateria e ELLINGTON na concepção, criaram a lembrança dos ruidos exóticos e selvagens de uma pseuo-floresta, que tanto encantava os frequentadores do “Cotton Club”. O estilo “jungle” da banda pode situar-se perfeitamente no período 1929/1939, sucedendo o encanto de ELLINGTON pelo “ragtime” e ainda que os números do estilo “jungle” tenham sido executados após esse período e anos afora.
As já indicadas composições de ELLINGTON da época, algumas com seus parceiros/músicos, nos mostram uma base de “blues” sobre a qual pairam o exotismo: “The Mooche”, “Mood Indigo”, “Caravan”, “Black And Beauty”, “Old Man Blues”, “Azure”, “Echoes Of Harlem”, “Black And Tan Fantasy”, “Creole Love Call”, “Sophisticated Lady”, “A Gipsy Without A Song”, “Prelude To A Kiss” e outras são símbolos desse estilo.
Esse período marcou, também, as gravações da banda com o título de “Duke Ellington And His Famous Orchestra”, além de com diversos outros nomes, em função dos contratos com cada gravadora: “Washgtonians”, “Whooppe Makers”, “Harlem Footwarmers”, “Six Jolly Jester’s”, “Mills Ten Blackberries”, “Harlem Hot Chocolates”, “Jungle Band”, “Memphis Hot Shots” e “Sonny Greer And his Memphis Men”. 
Em 1939 ocorreu uma aquisição extraordinária para a orquestra, com a chegada do então jovem Billy Strayhorn. Os temperamentos totalmente diferentes de ELLINGTON (forte personalidade, comandante, mulherengo e conquistador, presença indisfarçável em qualquer local e grupo de pessoas) e Strayhorn (tranquilo, afável, discreto, homossexual), são o oposto do que somaram musicalmente: perfeito paralelismo, identidade de conceitos musicais, absoluta integração no trabalho de composição. Strayhorn passou a ser o “alter-ego” musical de ELLINGTON, compondo e arranjando exatamente como este pensa, de tal sorte que não se pode afirmar onde termina o trabalho de um e inicia-se o de outro. 
As composições individuais de Strayhorn atingem um nível de beleza absoluta: “Lush Life”, “Day Dream” e “Passion Flower” são exemplos da marca indelével desse gênio, sem falar-se no tema que passou a constituir o prefixo da banda, “Take The ‘A’ Train”.
Outros aspectos importantes no trabalho de Strayhorn para ELLINGTON, foram o fato de ser um excelente pianista capaz de substituir o maestro com alguma freqüência, dirigir os ensaios, substituir o maestro em muitas outras atividades, enfim, ser um colaborador “faz tudo” e imprescindível nessa relação tão mágica quanto importante musicalmente.
Esse período com a colaboração de Billy Strayhorn marcou também a presença na banda do contrabaixista Jimmy Blanton e do sax.tenorista Ben Webster, que vão cunhar para o som do grupo mais “flexibilidade”, mais “swing”.
Prosseguiremos com ELLINGTON

Um comentário:

MARIO JORGE JACQUES disse...

A resenha de Ellington está um espetáculo. Tão grande em qualidade quanto o próprio focalizado bem como nos detalhes.