ALGUMAS
POUCAS LINHAS SOBRE A
GUITARRA
E OS GUITARRISTAS - 22
Albert Edwin Condon,
artisticamente “EDDIE” CONDON,
guitarrista e banjoista americano, nasceu na cidade de Goodland (estado de
Indiana) em 16 de novembro de 1905 (alguns biógrafos indicam 16 de julho),
vindo a falecer aos 68 anos no dia 04 de agosto de 1973, em New York.
“EDDIE”
garantiu seu lugar na história do JAZZ não apenas como guitarrista, mas também
como organizador e líder de grupos, empreendedor, apresentador em concertos, em
festivais, participação em programas de rádio e de televisão, além de escritor
de 03 livros biográficos no estilo jornalístico, com destaque para sua obra de
1948, “We Called It Music”.
Seu sucesso e popularidade centrou-o como figura
exponencial do “dixieland”, do JAZZ
tradicional, com destaque para o nascimento e o desenvolvimento da “escola de
Chicago” = significativa parcela das gravações dessa
escola foram produzidas tendo-o como líder, ou por sua iniciativa, ou com sua
participação como “sideman”.
“EDDIE”
iniciou-se no banjo ainda adolescente, estreando profissionalmente com a idade
de 15 anos, dentro da formação do saxofonista Hollies Peavey; com este participou de extensa temporada por
toda a América do Norte, a bordo de um caminhão adaptado como trailer.
Após essa primeira experiência profissional, “EDDIE” radicou-se em Chicago, onde teve oportunidade de tocar com o genial “Bix”
Beiderbecke, mantendo com ele forte amizade.
Seguiu-se em 1924 nova temporada com a turma de
Chicago, fruto de um contrato com o cabaret “Cascades”, de duvidosa reputação e
situado na zona norte da “windy city”, de propriedade do empresário Husk
O’Hare. Ali teve a companhia de Bud
Freeman e de Jimmy McPartland, entre outros músicos brancos.
Com a ajuda de Red McKenzie “EDDIE” organizou as legendárias sessões de gravação de dezembro de
1927 (perpetuando os temas China Boy” e “Nobody Sweetheart”), marcando o
nascimento da “escola Chicago”.
Após a ida de “EDDIE”
para New York no verão de 1928, ele seguiu colaborando com McKenzye, integrando
o grupo “Mound City Blue Blowers”.
Sobre esse grupo destacamos os seguintes fatos:
(a)
contou com
arranjos de Glenn Miller;
(b)
gravou algumas
preciosidades, entre as quais “Oner Hour”
e “Lola”;
(c)
contou com as
participações de Coleman Hawkins e de Pee Wee Russell, um dos clarinetistas
mais representativos da “escola Chicago”;
(d)
foi um grupo que
oscilou entre “altos e baixos”, já que também produziu gravações que não foram bem recebidas por
público e crítica.
Em New York “EDDIE”
foi capaz de reunir diversos músicos brancos com os quais já havia “terçado
armas” em Chicago: Frank Teschemacher,
Gene Krupa, Milton “Mezz” Mezzrow, Joe Sullivan e Jimmy McPartland, entre
outros. A partir desse reencontro e
ainda no verão de 1928 “EDDIE” organizou
diversas sessões de gravação, buscando reeditar os sucessos de 1927, sem muito
sucesso.
Durante o ano de 1929 “EDDIE” atuou e gravou ao lado de Louis Armstrong e de Thomas “Fats”
Waller, o que representou uma feliz junção de músicos negros e brancos, em
função da admiração que estes nutriam por aqueles.
Ai notava-se a diferença comportamental entre esses
oriundos de Chicago, em relação aos músicos de New York, então francamente
racistas: “Red” Nichols, Joe Venutti e Miff Mole, entre
outros (ainda que no longa metragem “The Five Pennies”, versão cinematográfica
sobre a carreira de Loring “Red” Nichols,
em português “A Lágrima Que Faltou”, protagonizada por Danny Kaye,
tenhamos cenas de Armstrong com “Red” Nichols”). Ainda sobre “Red” Nichols é certo que ele e “EDDIE” atuaram juntos nesse ano de
1929, encontro de certa forma inevitável já que “Red” havia atuado
anteriormente com outros músicos da “escola Chicago”.
Em 1932 “EDDIE”
uniu-se ao grupo misto de brancos e negros, o “Rhythmakers”, onde atuou o
grande trumpetista de Algiers/Louisiana, Henry “Red” Allen; mesmo com a lógica influência no grupo de
“Red” Allen, um tradicionalista com sólida origem musical em New Orleans, a
“escola Chicago” imperava na sonoridade do grupo.
Em 1933 “EDDIE”
gravou sob seu próprio nome ao lado de Floyd O’Brien, Russell Freeman, Joe
Sullivan e Max Kaminsky, com destaque para o tema “The Eel”, veículo para o
sucesso popular do grande tenorista Bud Freeman. Essa gravação marca a ampliação de
perspectivas para os “tenoristas”, com um claro “grito de independência” sob a
influência de Coleman Hawkins, então dominador na técnica e na sonoridade do
sax.tenor.
A partir de então e por um período que vai até 1936, “EDDIE” conviveu com a obscuridade,
retornando nesse ano ao lado do clarinetista e saxofonista Joe Marsala, para
atuar em inúmeros clubes da “big apple”.
No mês de janeiro de 1938 “EDDIE” formou o grupo “Windy City Seven” = “EDDIE” CONDON, Bobby Hackett, Jack
Teagarden, George Brunis, Pee Wee Russell, Bud Freeman e Jess Stacy, entre
outras “estrelas”, foram destaques no grupo, protagonista das primeiras e
históricas gravações do selo “Commodore” do empresário Milt Gabler.
“Commodore” era o nome da loja da “Rua 52”, onde se
reuniam os músicos de JAZZ residentes em New York.
Essas gravações, excelentes, constituem-se em um claro
“divisor de águas” para “EDDIE”, que
inicia seu afastamento do “dixieland” clássico em direção à linguagem de
solistas de exceção, notadamente Pee Wee Russell. Por essa mesma ocasião esse mesmo grupo
sob o comando de Bud Freeman para o selo “Commodore” e sob o comando de Bobby
Hackett para a etiqueta “Vocalion”, retornou aos estúdios de gravação.
Em 1939 “EDDIE”
foi incorporado ao grupo “Summa Cum Orchestra”, dirigido por Bud Freeman, que
participou de sessão promovida pelo empresário George Avakian, reunindo os
melhores músicos de Chicago.
Durante o período da IIª Guerra Mundial “EDDIE” organizou e apresentou dezenas
de concertos no “Ritz Theatre” e no “Town Hall” de New York, transmitidos via
rádio “em direto” para as Forças Armadas Americanas no “front”. Foram concertos com a participação dos
então maiores nomes do JAZZ, apoiados por uma banda em que figuraram os
trumpetes de Bobby Hackett, Mugsy Spanier, Max Kaminsky e Billy Butterfield, os
trombones de Miff Mole e Lou McGarity, os clarinetes de Edmond Hall, Pee Wee
Russell, Joe Dixon e Joe Marsala, o sax.barítono de Ernie Cáceres, o pianismo
dos grandes Gene Schroeder, Joe Bushkin e Jess Stacy, o contrabaixo de Jack
Lesberg e as baterias de Gene Krupa e
George Wettling. Esses históricos
concertos em muito projetaram a figura de “EDDIE”,
vencedor pela revista “Down Beat” das enquetes de 1942 e de 1943, como melhor
guitarrista.
No final de 1945 “EDDIE”
instalou seu próprio clube de JAZZ,
o “Condon’s Club”, em plena “Greenwich Village” (mais tarde, em 1958, mudou-se
para o “East Side”), ponto de encontro dos músicos de New York e reduto dos
amantes do JAZZ “tradicional”.
Simultaneamente “EDDIE”
CONDON seguiu realizando concertos,
muitos dos quais via rádio e em seu próprio programa “Condon Floor Show” de
1949, em que as “estrelas” foram ninguém menos que Louis Armstrong, Sidney
Bechet, Billie Holiday, Jack Teagarden e Teddy Wilson, entre outros: uma galáxia ! ! !
“EDDIE”
seguiu gravando para as etiquetas Columbia (atual Sony) e Decca, contando com
os músicos com os quais atuara no “Town Hall” durante a segunda grande
guerra. Entre essas gravações merecem
especial destaque as prensadas para a Columbia entre 1953 e 1956 (ao lado de
Wild Bill Davison, Cutti Cutshall, Edmond Hall, Gene Schroeder, Walter Page e
George Wettling = vide indicação discográfica ao final), onde fica evidente o
afastamento da “agressividade” inicial dos “chicagoans”, com todos já agora em
clima relaxado, com altas doses de “swing” e lembrando a “máquina de fazer
swing” de Count Basie = vale assinalar aqui a presença do contrabaixo
de Walter Page e a influência de Freddie Green em “EDDIE”, vale dizer e em certa medida, a quase presença de 50% da
“all american rhythm section” de Basie.
Nos anos de 1954 a 1956 “EDDIE” atuou em formação “all stars” no festival de Newport,
seguindo em 1957 para temporada na Inglaterra.
Em 1961 “EDDIE”
CONDON foi organizador e
apresentador de programa de televisão inteiramente dedicado ao JAZZ de Chicago, trazendo para a tela
todos os antigos músicos do estilo, ainda vivos; esse programa foi gravado pela etiqueta
VERVE (leia-se Norman Granz), talvez representando o derradeiro e magno exemplo
da “escola Chicago”.
O ano de 1964 vai encontrar “EDDIE” em extensa temporada na Austrália e no Japão, comandando
formação, com certeza uma das melhores e mais consistentes por ele formada, em
que alinharam Buck Clayton, Vic Dickenson, Pee Wee Russell, Bud Freeman, Dick
Cary, Jack Lesberg, Cliff Leeman e Jimmy Rushing. Esse grupo foi gravado pelo selo
“Chiaroscuro”, deixando-nos o testemunho da emancipação do grupo da polifonia
tradicional, para a liberdade dos solistas em um contexto “mainstream”.
“EDDIE”
pagou caro tributo à sua dependência alcoólica, tendo que realizar seguidas
intervenções cirúrgicas (pâncreas, estômago, fígado), mas conseguiu retornar em
1967, escudado pelo sempre fiel Wild Bill Davison.
Em 1970 “EDDIE” atuou em grupo onde brilhavam Roy “Little Jazz” Eldridge e o
grande trombonista Kai Winding, para seguir apresentando-se em duo com o também
guitarrista Jim Hall (vide “Algumas
Linhas Sobre a Guitarra e os Guitarrista nº 09”).
1971 proporcionou a “EDDIE” CONDON uma longa
temporada por todos os U.S.A., com o grupo “Stars Of Jazz”, integrado por ele e
Wild Bill Davison, Barney Bigard e Art Hodes.
Participou ainda em várias edições do “Festival de
Jazz de Manassas” (Virginia).
A extensa discografia de “EDDIE” inclui gravações para as etiquetas “Chiaroscuro”,
“Jazzology” e “Fat Cat Jazz”.
O derradeiro concerto de “EDDIE” CONDON foi
realizado no “Carnegie Hall”, em 1972.
Isso significa que ele trabalhou até praticamente seus derradeiros dias
de vida, mas rendeu-se, em agosto de 1973, ante seu declínio físico
progressivo. Legou-nos obra
discográfica imortal e da mais alta importância.
Muito valorizado pelos músicos, ainda que pouco
valorizado pela mídia como figura seminal entre os “chicagoans”, “EDDIE” teve o grande mérito de
modernizar gradativamente e com grandes inteligência e perspicácia o que
podemos denominar como a transição “dixieland/chicago”, mantendo o espírito e a
integridade dos mesmos até e sem dúvida, o limite de unir-los à “mainstream” do
JAZZ. Foi uma “barreira” ante o surgimento do
“bebop”, garantindo a perpetuação das raízes.
“EDDIE” foi
um dos primeiros guitarristas a utilizar a “guitarra-tenor” de 04 cordas, sendo
certo que é o mais característico ilustrador das pulsações rítmicas dos
“chicagoans”, esquematizando claramente, e mais que o contrabaixo e a bateria,
a base rítmica que marca os 04 compassos.
Raramente o ouvimos solando, ficando em segundo plano para o ouvinte,
mas tornando-o essencial para os músicos que acompanha e que nele se escoram
pela sua pulsação metálica e “doce”. O
grande trumpetista e cornetista Bobby Hacket definiu-o como o “melhor
guitarrista rítmico do JAZZ”.
Destaques entre as centenas de gravações de “EDDIE” CONDON, além das já citadas no texto anterior:
- 1927 Sugar
- 1928 I’ve
Found A New Baby -
“Chicago Rhythm Kings
- 1929 I
Can’t Give You Anything But Love - “Louis Armstrong”
- 1929 The
Minor Drag - “Fats Waller”
- 1936 That Foolish Things -
“Bunny Berigan”
- 1954 Jammin” At Condon’s -
“Eddie Condon”
- 1957 The
Eddie Condon All-Stars - Dixieland Jam - “Eddie
Condon”.
Retornaremos à guitarra e aos guitarristas em próximo
artigo
2 comentários:
Excelente Pedro, grande Eddie Condon uma notável contribuição para o jazz dixieland. Acho que nunca ouví um solo dele, mas sabia reunir e conduzir os musicos em excelentes jam sessions. Valeu.
Estimado MÁRIO JORGE:
De fato, os solos de CONDON são mais que raros, difíceis de encontrar em suas gravações.
Ainda assim ele pode ser perfeitamente apreciado, em particular no LP "Jammin' At Condon's" de maio/1954 (Columbia Special Products - CSP), com verdadeiras aulas de acompanhamento e suporte para um time de primeira: Wild Bill Davison (cornet), Billy Butterfield (trumpet), Cutty Cutshall e Lou McGarity (trombones), Dick Cary (sax.alto), Bud Freeman (tenor), Edmond Hall e Peanuts Hucko (clarinetes), Gene Schroeder (piano), Al Hall (baixo), Cliff Leeman (bateria) e evidentemente EDDIE CONDON à guitarra.
Esse álbum da Columbia foi muito bem gravado em "mono", no "Condon’s Club", com a presença de músicos amigos e com um dos melhores textos para discos de JAZZ, escrito por George Avakian (citado no texto da postagem), com as sequências de "choruses" de cada faixa, músico a músico.
O álbum contem 06 faixas com larga duração (05 a 12 minutos) e é um antídoto para a tristeza.
Desconheço se foi vertido para CD e vale a pena buscar.
Abraços,
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