Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

ELES - PRIMEIRA PARTE

27 janeiro 2008

1) ART BLAKEY

Art Blakey foi o primeiro baterista que estudei quando resolvi levar a serio a bateria .
O que mais me chamava a atenção era como ele conduzia o ritmo, aquilo que os americanos chamam de time feel ou time keeping .
O prato de condução ou ride cymbal é o principal responsavel por essa condução.
Blakey tinha um jeito de tocar nesse prato sempre como se estivesse "empurrando" o tempo para a frente, respeitando, claro, o andamento em que a musica estava sendo tocada. Com ele o ritmo tradicional de jazz (tim-tintirim...) passou a ser mais fluido, contínuo, deixando de ser pontual. Eu praticava muito usando só o prato de condução acompanhando,o u tentando pelo menos, gravações de Blakey.

Blakey tambem era um mestre no uso dos ritmos africanos e afro cubanos na bateria. Mambos e 6/8 se tornaram uma de suas marcas registradas. Em varias musicas ele tocava esses ritmos na parte A e swing de jazz no B. Depois dele, todo mundo passou a tocar essas musicas assim. Isso cria um contraste muito interessante para a musica e, para os solistas, acrescenta variedade ritmica que ajuda na construção de suas ideias.

Blakey tem muitas gravações como sideman entre 1945 e 1955 devido a essas qualidades: condução clara, com muito swing e com esse sabor on top of the beat (na frente do tempo, numa tradução livre)que é uma das marcas da bateria no bebop.

Art Blakey é tido por alguns como o verdadeiro introdutor do prato de condução na bateria. Esse parece ser um ponto discutível ja que outros atribuem isso a Kenny Clark. Isso não importa aqui. O que importa é que Blakey é considerado "A" referencia quando se fala em condução de jazz, o grande groove. Tambem um mestre no shuffle, um ritmo caracteristico do rhythm & blues. Existem inumeras gravações de Blakey tocando shuffle, "Moanin'" é um exemplo bem caracteristico.

SOLOS - Seus solos são faceis de acompanhar mas são muito sofisticados musicalmente.
Suas ideias são apresentadas com muita clareza e com uma certa agressividade.
São construidos indo para um climax onde muitas vezes ele executava outra grande marca registrada sua que eram os rulos de caixa. Os rulos ficaram conhecidos como Blakey Rolls e são usados por todos os bateristas que tocam jazz.
A tecnica não foi inventada por ele, na verdade é antiquissima, mas Blakey fez disso um uso musical inedito.

Ele toca os "rolls" sempre num crescendo muito expressivo incorporando um recurso de articulação da linguagem orquestral ao vocabulario da bateria de jazz.

Blakey foi um dos pioneiros no uso de poliritmos e em seus solos existem varios exemplos de superposições de 6/8 com 4/4. Tambem são muito conhecidos os trade fours (trocas de 4 compassos com os outros musicos do grupo) de Blakey.

Buddy Rich dizia que ninguem superava Blakey em "trade 4's". Ele conseguia ocupar um espaço de apenas 4 compassos com muita criatividade e sempre botando mais fogo no grupo. Considero um verdadeiro tesouro, como fonte de estudo, a esses trechos de 4 compassos.

Não creio ser necessario indicar discos pois Blakey nunca fez um disco ruim, nem mesmo mediano, todos são de excelentes pra magistrais, chegando alguns a obras-primas. Os que mais escuto e escutei são "Meet You At The Jazz Corner Of The World", "A La Mode", "Witch Doctor" e "Anthenagin".

Qualquer disco com Blakey na bateria merece ser ouvido com atenção.

Tive oportunidade de ver Art Blakey ao vivo 2 vezes:

- em 1977, no Teatro João Caetano (Valery Ponomarev, trompete; David Schnitter, sax tenor; Bobby Watson, sax alto; Walter Davis Jr., piano; Dennis Irwing, baixo). Lembro que fiquei como que enfeitiçado pelo som que eles fizeram, foi um sonzaço, quem viu com certeza lembra.
- 1987, no Free Jazz, no antigo Teatro do Hotel Nacional (só lembro de Terence Blanchard no trompete).

Quem se interessar por mais detalhes tecnicos pode me procurar por email. Há um livro,"Art Blakey's Jazz Messages", de John Ramsay, professor da Berklee, que disseca varios aspectos da arte e do estilo desse Mestre, com inumeras transcrições e analises de varias gravações. Mesmo sendo um livro especifico para bateristas, com certeza traz muitas informações interessantes para pesquisadores e estudiosos em geral.

2) GRADY TATE

Eu escutava Grady Tate, e adorava, e não sabia. Ele toca no disco "Further Adventures of Jimmy and Wes", um disco que ouço desde os 11 anos de idade.
Assim como Blakey, foi sua condução no prato o que me chamou a atenção primeiro. Alem disso ele tem um balanço irresistivel e grooves sensacionais: jazz time, shuffle, boogalloo, afro-cubanos, enfim, uma versatilidade incrivel. Grady Tate tem uma sonoridade clara, a caixa e os pratos bem agudos mas nada agressivos. Ao contrario, sem ter um estilo de tocar impositivo (como Blakey) por ser sobretudo um "team player".

Mas com muita autoridade ele deixou sua marca nas inumeras gravações de que participou e não só de jazz. Há uma clara influencia de Art Blakey e Roy Haynes mas com menos notas, mais economico. A impressão que tenho é que Grady Tate pode tocar simplesmente tudo, qualquer genero ou estilo, com swing, bom gosto e musicalidade.
Em qualquer contexto ele arrasa, mas tocando com big bands eu o considero um dos mestres. Precisão e balanço impecaveis.

Gravações com Oliver Nelson, Quincy Jones, Oscar Peterson, Jimmy Smith, Wes Montgomery e tantos outros (incluindo João Gilberto e Paul Simon) que o espaço aqui não daria e que mostram o incrivel talento musical e a versatilidade desse Grande Mestre.

Há muitos anos que ele tambem se apresenta como cantor, e muito bom, com uma big band. Esteve no Brasil com Sarah Vaughn em 1980, tocaram no Canecão, mas infelizmente essa eu perdi.

O que mais eu aprendi, e aprendo ate hoje, com Grady Tate, é a simplicidade a serviço da musica. Complexo sem jamais ser complicado.

Agradecimentos especiais ao grande Gustavo (Guzz).
A seguir: Max Roach e Al Foster

Nenhum comentário: