Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

TIM FESTIVAL RIO: CÓPIA PURA E SIMPLES DOS ARTIGOS DO
MESTRE RAF NO GLOBO ONLINE

05 novembro 2007

Para que nossos fiéis leitores não fiquem órfãos de informações sobre o Tim Jazz, decidi afanar o que foi publicado alhures, mas com uma diferença: o pedigree dos artigos, de autoria do Mestre Raf, enviado especial para reportar o evento para o globo online por indicação precisa e certeira do A.C.Miguel. Para que não se sofra de crise de abstinência, vamos ao seu texto:

Sexta:

"Joe Lovano vai de Miles Davis a Thelonious Monk e entusiasma

A primeira noite de jazz do festival ofereceu quatro atrações de estilos e concepções variadas. O saxofonista Joe Lovano abriu a seqüência. Arrebatou o público com sua música pulsante, solos inventivos, arranjos criativos e interpretações efervescentes que entusiasmaram o público. Lovano é um dos mais articulados saxofonistas em atividade. Cria momentos de alta tensão e força de expressão. Seu noneto possui unidade e integração absolutas, contando com solistas do porte de Steve Slagle (sax-alto e flauta), Ralph Lalama (sax-tenor), Gary Smulyan (sax-barítono), Barry Ries (trompete) e Larry Farrell (trombone), apoiados por James Weidman (piano), Dennis Irwin (baixo) e Steve Williams (bateria), uma seção rítmica que toca, acompanha e atua como uma única célula.

O noneto causou forte impacto abrindo o seu set com o clássico “On A Misty Night”, agraciado pelo solo esfuziante de Lovano, seguido por Slagle e Ries, ambos em grande forma. A suíte “Birth of the Cool”, primoroso arranjo de Gunther Schüller, oferece ampla variedade de coloridos tonais em seus três movimentos: “Moondreams”, composição de Chummy McGregor, um autêntico poema cuja beleza lírica foi realçada em sua plenitude pela sonoridade coletiva do conjunto; “Move”, de Denzil Best, em andamento supersônico, com intervenções de Lovano, Ries e Slagle, realçadas pelo suporte da seção rítmica; e o clássico “Boplicity”, no qual Barry Ries reeditou o solo de Miles Davis da gravação original. Seguiu-se “Ask Me Now”, obra-prima de Thelonious Monk, agraciada pela improvisação de Lovano, variando do sublime ao frenético, mas retendo a essência melódica da composição.


Joey DeFrancesco e sua imaginação inesgotável

O trio do organista Joey DeFrancesco com o vibrafonista Bobby Hutcherson, como convidado, agradou sobremaneira ao público por sua musicalidade, sua criatividade e seu entendimento. DeFrancesco confirmou que é, sem dúvida alguma, o grande nome do órgão no jazz. A suprema facilidade como supera as dificuldades técnicas, a excelente articulação das frases - mescla das mais simples com progressões harmônicas em oitavas - e as cascatas de sons ascendentes e descendentes proporcionam ampla variedade tonal e rítmica, tudo a serviço da sua imaginação aparentemente inesgotável.

O contraste do volume de som do órgão com o do vibrafone poderia resultar num conflito, mas o entendimento entre DeFrancesco e Hutcherson deu o equilíbrio desejado. Logo no número de abertura – “Tedo” -, em andamento alucinante, o quarteto disse ao que veio; o guitarrista Jake Langley exibiu sua fluência e comando instrumental, e Byron Landham, na bateria, colocou lenha na fogueira todo o tempo. “Ângela”, a seguir, uma bossa estilizada com grande apelo melódico, teve um superlativo solo de Hutcherson, com impressionante concatenação de ricas idéias. “Take the Coltrane”, em tempo acelerado, abordado por DeFrancesco com sua patriarcal fluência, colocou mais água na fervura. Em contraste, a balada “I Thought About You”, interpretada com rara delicadeza e sensibilidade, foi um dos momentos mais líricos da noite.


Cecil Taylor não disse a que veio

O pianista Cecil Taylor deve ter confundido a maioria dos espectadores. Após entrar no palco vestido exoticamente e cantarolando coisas ininteligíveis, leu um manifesto misturando dialeto swalihi e inglês. Depois tocou piano da mesma forma que o fizera em sua apresentação no Free Jazz de 1989, quando provocou a maior debandada de público da história do festival. Usando todo o teclado para tocar acordes fortíssimos, sem melodia definida, abusando das figuras rítmicas e dos exercícios de virtuosismo, com passagens reiterativas e cansativas, não disse ao que veio, embora alguns espectadores gozadores pedissem bis e ele atendeu tocando um minuto mais.


Miles Davis de novo, no jazz latino de Conrad Herwig, para delírio da platéia

O septeto do trombonista Conrad Herwig trouxe o jazz latino com temas de Miles Davis. A força da música latina explodiu em sua plenitude quase todo o tempo, enfatizada pela percussão de Pedro Martinez (que também cantou em dois números) e do baterista Robby Ameen. Iniciando com “Seven Steps to Heaven”, Conrad, Walter White (trompete) e Craig Handy (sax-tenor) proporcionaram solos de alta voltagem que galvanizaram o público. “Flamenco Sketches” (transformado em salsa caliente), “So What”, com introdução de baixo elétrico (Ruben Rodriguez), “Blue in Green”, “Solar” (num arranjo ebuliente) e “All Blues” deixaram a marca latina na música de Miles Davis para delírio da platéia.

Sábado:

Italiano domina noite de jazz, que teve ainda gênio precoce ao piano

A noite de encerramento do festival no Palco Club apresentou quatro atrações do Jazz Europeu: o trio do pianista Eldar Djangirov, a cantora Lisa Ekdahl, o quarteto do guitarrista francês Sylvain Luc e o quarteto do saxofonista italiano Stefano DiBattista.

O jovem Eldar Djangirov, uma das grandes revelações do jazz empolgou o público com uma apresentação em que seu virtuosismo virtualmente inacreditável fez o difícil parecer fácil. Aos 20 anos possui um domínio instrumental notável e profundo conhecimento de jazz, deleitando os presentes com passagens em stride inseridas em meio às suas improvisações executadas com energia e inesgotável vontade de tocar. Com Harish Raghavan (baixo) e Aaron McLendon (bateria), proporcionou um dos mais aplaudidos concertos deste evento.

A despeito de sua capacidade de tocar e criar incontáveis climaxes em seus solos, ele precisa aprender a contornar seu impulsos para não alongar demasiadamente os finais de cada tema. Ele abriu seu set com “Place St. Henri”, de Oscar Peterson, o pianista que influenciou seu estilo; em andamento rapidíssimo, tocou uma sucessão de passagens dificílimas alternando acordes com linhas melódicas simples. “I Remember When” foi outra interpretação arrasa-quarteirão, com o trio esbanjando entusiasmo.

Para surpresa de muitos, seguiu-se o conhecido bolero “Besame Mucho”, proporcionando a Eldar revelar seu lado mais contido. O standard “I Shoud Care”, “Daily Living” (de Eldar, em andamento ultra-rápido), "Defeayo’s Dilemma", de Wynton Marsalis, contribuíram ainda mais para contagiar a platéia.


Aparência de menina, voz de alcance mínimo e sem qualquer traço pessoal

A cantora sueca Lisa Ekdahl era uma incógnita para a maioria. Com aparência de menina e voz de alcance mínimo, limitou-se a cantar as letras das canções, sem qualquer traço pessoal nas interpretações. Numa palavra, é uma cantora pop comercial, sem vínculos com jazz. Ela cantou “My Heart Belongs to Daddy”, “Cry Me A River”, “But Not For Me”, “Night & Day” (a fragilidade da sua voz foi constrangedora ), “All Really Wants Is Love” e “Vem Vet” (em sueco).


Guitarrista francês traz proposta alternativa, com jazz ao largo

O guitarrista francês Sylvain Luc e seu quarteto trouxeram uma proposta alternativa para o festival, passando o jazz apenas pela periferia da música que tocam. Com o excelente Olivier Ker Ourio (harmônica-de-boca), Phillipe Chayeb (baixo) e Pascal Rey (bateria), tocaram música de bom gosto, com destaque para a guitarra do líder e a musicalidade de Ourio.

Luc possui uma técnica extraordinária, cuja variada gama de recursos proporcionam-lhe extrair sonoridades diversas e efeitos instigantes do seu instrumento. A combinação de guitarra e harmônica-de-boca na linha de frente sugere uma espécie de mood music. Deve-se ressaltar que o entendimento entre Luc e Ourio predomina em quase todos os temas, sendo especialmente realçado no duo em “Accalme”. Os demais números foram “This Never Happened Before”, “Lê Roi Dans Les Bois” (peça introspectiva ), “Fil Bleu” (com um diálogo guitarra-baixo dos mais efervescentes) e “Fandanguito”.


Stefano DiBattista justifica pujança e prestígio do jazz italiano no cenário mundial

Encerrando a noite, o excepcional quarteto do saxofonista italiano Stefano DiBattista, com Fabrizio Bosso (trompete), Jean-Baptiste Trotignon (órgão Hammond 3) e Greg Hutchison (bateria) mostrou a razão da pujança e prestígio do jazz italiano no cenário mundial. Foi um autêntico concerto do mais puro hardbop com direito a um tema de jazz funk dos anos 50/60 (“The Jody Grind”, de Horace Silver). Descrever a brilhante atuação do quarteto não é tarefa fácil, pois seus integrantes são músicos de primeira linha do jazz de hoje, de agora. Eles tocam com uma força de vontade que desafia a descrição, atirando-se às improvisações com energia fora do comum, oferecendo um dos melhores concertos de jazz dos últimos tempos.

Di Battista, Bosso e Trotignon esbanjaram categoria, construindo solos com direção, propósito e imensa vontade de tocar, e Hutchison mostrou ser uma máquina rítmica a serviço do grupo. “Weather or Not” abriu o set com o quarteto incendiando a platéia, ao mesmo tempo em que o líder e Bosso mostraram suas credenciais de improvisadores de mão cheia, Seguiu-se o mencionado “The Jody Grind”, um blues do jazz funk interpretado com espírito e soberba musicalidade realçando a imensa capacidade de Bosso e Stefano.

“Under Her Spell”, uma balada de Stefano na qual Bosso utilizou a surdina plunger, acelerou o andamento adiante transformando-se num tour de force do quarteto. Stefano brilhou no sax-soprano em “The Serpent Charm”, uma peça em que Trotignon alimentou os solos com intensos riffs de balanço incomum. “Trouble Shottin”, música-título do último CD de Stefano DiBattista encerrou o memorável concerto com a platéia pedindo mais."

Palavras de Mestre.

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