Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

XIII CJL - TRIBUTO A DEXTER GORDON - 29/7/2004 - Mistura Fina - @@@1/2

16 agosto 2004

Definitivamente, concertos produzidos por Arlindo Coutinho têm algo de "diferente".

Uma aura especial, uma mágica, um brilho, uma entrega que não se vê nas demais gigs da cidade.

Desta vez, Coutinho optou por franco "nepotismo", resolvendo evocar a memória de um "certo" amigo, nada mais nada menos que a enciclopédia do saxofone tenor, Dexter Gordon, raiz comum, na árvore do jazz, das explosivas torrentes de John Coltrane e Sonny Rollins.

Logo ao som de For Regulars Only, viu-se que só mesmo um set de jazz sem concessões poderia dignificar o legado de Gordon, cuidadosamente pesquisado por Daniel Garcia (sax tenor, direção), que, para a fiel execução dos arranjos originais, arregimentou craques como Altair Martins (trompete, flugel), Dario Galante (piano), Augusto Mattoso (contra-baixo) e Rafael Barata (bateria).

E de fato vieram os grandes temas compostos ou celebrizados pelo saxofonista americano:

- Stick Wicket, um blues em exercício tipicamente hard-bop;
- Fried Bananas, imprimindo a pressão característica dos conjuntos de Dexter;
- Soy Califa, clássico do álbum "A Swingin´Affair" e sensacional latin, com destaque para o piano de Dario em insinuante contraponto à exposição do líder;
- The Rainbow People, linda balada logo evoluída para medium blues;
- Dexter Digs In, saltitante tema, com ótimo solo de Mattoso, em noite inspirada; e
- Tangerine, harmonicamente parelha a Just Friends, destacando-se a dobradinha Mattoso e Barata, este, possivelmente, o maior baterista de jazz em atividade no país.

De Daniel Garcia, diga-se que, além do timbre, atualmente bem próximo ao de Dexter, desfila de modo peculiar suas idéias, concisas e bem organizadas, mas sempre imperando o bom gosto e com a absoluta tranquilidade de, ao fim de cada solo, ter dado seu recado, sem notas a mais ou a menos. Atingiu, portanto, distintiva maturidade entre seus pares no instrumento.

O 2º set instalou-se camerístico, num duo de sax e piano, flexionando, sem solos, a autosuficiente Laura (Mercer), o que serviu de prelúdio para o melhor momento da noite, caprichosamente uma composição divorciada no universo dexteriano: Jardim, magnífico original de Garcia, por seu formato algo livre, serviu de ponto de partida para vôos arrojados de toda a banda, talvez porque mais livre das amarras dos arranjos.

It´s You Or No One (Cahn/Styne), das mais repisadas por Gordon ao longo da carreira, não poderia faltar, seguida de outro clássico de seu repertório, Montmartre, também com acento latin.

O único equívoco da noite pareceu a busca de reproduzir, com exatidão, o difícil arranjo de Round Midnight (Monk), tal como idealizado por Herbie Hancock para o filme homônimo, de Bertrand Tavernier, em que que Dexter protagonizou uma espécie de biografia híbrida de Bud Powell e Lester Young. De todo modo, em se tratando de Monk, Galante, claro, esteve sempre em casa.

A cosmopolita LTD mostrou bebop em estado puro, febril e urbano, com sua bridge swingada, dando vez a inspirados chosuses de todos, e provocando comoção pelo bis, com a reedição, ainda melhor, de Tangerine.

O invariável sorriso em todas as frontes, o tesão dos músicos, o gosto de "quero mais", a curiosidade e ansiedade pela próxima CJL ...

Em você, Arlindo Coutinho, há algo de místico, uma especial e apostólica vocação de anunciar, no Brasil, o evangelho do jazz.

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