Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HIROMI UEHARA NO RIO

18 setembro 2017

De figura totalmente desconhecida para mim até a criação do grupo de WhatsApp deste CJUB - ao qual faltam apenas os nossos Mestres de São Paulo e Niterói aderir -, a pianista japonesa Hiromi, como é mais conhecida, transformou-se no meu mais novo xodó jazzístico. Explico.

Criado o grupo, a conversa passou pelas atrações do Blue Note carioca, nova esperança de permanência e sucesso da casa nesta cidade sem jazz. Ela foi mencionada ali pois iria apresentar-se ao lado de um harpista colombiano(!) Edmar Castañeda. Para a dissipação parcial de minha completa ignorância a seu respeito, menções ao trabalho do duo foram as melhores possíveis, sendo que nosso confrade PWham, que assistira a ambos no Festival de Marciac/17, e cujo gosto jazzístico afina-se com o meu, endossou a escolha do clube.

Pois bem, comprados os ingressos (ser idoso nessa hora é uma beleza!), rumei com a chefa para ver sua apresentação. Já na entrada, uma surpresa: a harpa de Castañeda ficara retida em Bogotá e malgrado os esforços da casa em conseguir outra - sendo que a famosa harpista carioca Cristina Braga fora contactada e posto à disposição uma de suas quatro -, o colombiano não aceitava tocar em nenhuma outra, dadas as peculiaridades de sua própria, modificada para obter determinada sonoridade. Assim, desculpava-se a casa, muito profissionalmente, oferecendo não apenas acesso aos concertos-solo que Hiromi faria naquela noite, em 2 sets, como ingressos para o dia seguinte para o programado duo.

Foi, portanto, acidentalmente, que pude assistir a quatro sets com esse fenômeno do piano moderno, uma reencarnação de pianistas do passado aliada à admiração e influência de seus mestres do presente, tudo encaixotado num corpo pequenino e aparentemente frágil mas cuja vitalidade, força, ritmo, delicadeza versus pancadaria nas teclas, me encantaram a partir de seu segundo tema. Necessário dizer que, além de exímia executante, Hiromi é uma compositora de mão cheia, com idéias e andamentos ricos e complexos permeando suas obras. E as de outros também. Um negócio!, como diria o meu pai.

Variando sua atuação entre líricas passagens alatinadas (onde ouvi Chick Corea) e outras mais cerebrais (onde percebi a presença de um Keith Jarrett um pouco mais lírico, mais arredondado), passeando por solos só de sua mão direita à Oscar Peterson (ídolo declarado), a japonesinha, dona também de uma diabólica mão esquerda, trovejou alto nas teclas graves e fez chover chuva fininha nas agudas, alternando os climas entre explosivos e pianissimos de forma inebriante, recheados pela escolha de inusitadas mudanças de ritmo e acordes "ricos", escolhidos sabiamente por sua inteligência musical superior. Sua capacidade de emular pianistas dos calibres de Count Basie, Errol Garner, Bud Powell etc, e enfiar citações em momentos inesperados, com um sorriso cúmplice e divertido no rosto, ganhou a admiração de toda a platéia, composta tanto de aficionados como de gente comum.

Posto aqui um dos momentos mais cálidos de sua apresentação, quando "descansou" após um tema poderoso, brincando com a platéia. Mesmo assim pode-se perceber seu inesgotável arsenal de variações e a presença nítida de sua formação clássica.

Se fosse descrevê-la totalmente, teria de usar alguns posts. Este pretende ser um resumo do que vi, em 2 sets solo e no dia seguinte, aliada à bela harpa tocada por Castañeda, este um capítulo à parte.

Abraços!


Um comentário:

pedrocardoso@grupolet.com disse...

Sensacional, mesmo "brincando".
Para aqueles para os quais o JAZZ morreu, uma lição de vida eterna.
Bela postagem.

PEDRO CARDSO