Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

20 junho 2017

Série   “PIANISTAS  DE  JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
36ª Parte  -  II (final)
(36)(b)    TETE MONTOLIU    Da  Catalunha   Para  O  Mundo    (Resenha longa)

Em 1996 TETE foi homenageado a nivel nacional pela “Sociedad General de Autores” por seus “50 Anos de Jazz”, no “Teatro Monumental de Madrid”, em um concerto do qual participaram  Alvin Queen, Gary Bartz, Pierre Boussaguet e Tom Harrell.   Ainda em 1996 TETE comemorou seus 63 anos gravando em piano.solo o CD “T’estimo Tant...”.    
No ano seguinte os 64 anos de TETE foram comemorados no “Palau de La Musica Catalana” em Barcelona, com concerto em piano.solo que foi gravado em CD.  Nesse ano de 1996 e em novembro a grande tragédia pessoal:  foi diagnosticado câncer em TETE MONTOLIU.
Em 1997 foram  gravados mais 03 CD’s com a apresentação de TETE MONTOLIU em fevereiro no “Festival de Jazz de Terrasa”.   Em março e no “Palau de La Música Catalana”, Barcelona, também em piano.solo, TETE teve gravado seu último CD.
Faleceu como indicado no início desta sua “Biografia”, em 24 de março de 1997.
Ao londo de sua carreira TETE MONTOLIU recebeu muitas homenagens e honrarias, destacando-se entre as muitas a “Creu de Sant Jordi de La Generalitat de Catalunya”, a “Medalla de Oro del Ayuntamiento de Barcelona” (bom catalão e fiel à cultura e aos valores de sua terra natal) e, como fá de futebol, “culê”, barcelonista que sempre foi e cultor do F.C.Barcelona (“mes que um club”), a insíginia de “Oro Y Brillantes del Football Club de Barcelona”.
TETE MONTOLIU sempre foi um ouvinte, admirador e executante de Charlie Parker, Thelonius Monk e John Coltrane, suas bases para altos vôos musicais e pianísticos.  
Entenda-se que a idade pesou progressivamente mais para TETE MONTOLIU (cego de nascença) que para outros músicos, peso agravado a partir do câncer diagnosticado em novembro de 1996 e dado o esforço necessário para seu pianismo e,  particularmente, quando atuando com outros músicos, o que sempre lhe trazia mais dificuldades para interação e equilíbrio musical;   o que para muitos exigia um simples olhar, para TETE requeria toda uma sensibilidade e desenvolvimento de sentidos muito além da visão e, com certeza, bem mais cerebrais.
TETE foi, sem dúvida, bem influenciado pela arte de Bud Powell e de Al Haig e, de alguma forma por Lennie Tristano, ainda que tivesse desenvolvido ao longo de sua trajetória um estilo e uma “linguagem” muito pessoais, com base em uma pulsação percussiva, com nítida articulação e forte inclinação por toques golpeados com  rapidez;    em alguns solos nota-se certa descontinuidade, acentuadas “escapadas” da estrutura em desenvolvimento, assim como farto ludismo na  exploração de figuras “bluesy”.   Foi, sempre e isso é perfeitamente ouvido e sentido em suas gravações, um pianista superior, capaz de imprimir perfeito swing ao seu fraseado e citações muito bem encaixadas de “blues”.

FILMOGRAFIA
Como não temos informações sobre produtos (DVD’s, VHS’s) com TETE ao vivo, indicamos a seguir 05(cinco) trechos dele ao vivo via “YouTube”, em diversos contextos/formações que nos permitem assistir um músico exponencial.
(1)             Tete Montoliu / Jackie McLean  Quartet, 6’16”
(2)             Joan Manel Serrat &  Tete Montoliu,  “Paroules D’Amor”, 3’55”
(3)             Tete Montoliu & Friends, Playing Jazz, 1’15’
(4)             Tete Montoliu, “Speak Low”, 4’22”
(5)         Tete Montoliu Trio, “If I Should Lose You”, 9’11” (Kerbie Lews / baixo e Billy Higgins/bateria)

BIBLIOGRAFIA
As melhores publicações tipo “Enciclopédia/Dicionário de Jazz” trazem alentados verbetes sobre TETE MONTOLIU.
Destacamos apenas 02(duas) dessas publicações por suas concisões e fidelidades históricas, ainda que insuficientes para o todo da carreira do pianista catalão.
(1ª)    Dictionnaire du Jazz  da autoria de Philippe Carles, André Clergeat e Jean-Louis Comolli, que reuniram cerca de 50 colaboradores para os diversos verbetes (Xavier Prévost redigiu o verbete dedicado a Tete Montoliu), Editions Robert Laffont S.A., Paris, 1988.
(2ª)    Gran Enciclopédia Del Jazz da Editora SARPE, com Chefia de Redação a cargo de Gabriela Costarelli, Madrid, 1980.

DISCOGRAFIA
Considerando a imensa discografia de alta qualidade de TETE MONTOLIU, optamos por indicar as primeira e última gravações, seguidas de 07(sete) indicações que, pelo menos para nós, exibem um pianista em plena forma ao longo das várias etapas de seus anos de trabalho.
Primeira Gravação
Entre junho e setembro de 1954, na Holanda e para o selo Philips Tete Montoliu gravou os temas “Píntame de Colores Pa Que Me Llamen Superman” e “No, No, No”.
Última Gravação
Em 21 de março de 1997, no “Palau de La Música Catalana”, Barcelona, Espanha, TETE apresentou-se em piano.solo, com temas próprios, de Ellington/Strayhorn, Dexter Gordon, Coltrane e Monk.  Essa apresentação foi devidamente registrada para o selo DiscMedi, com as seguintes faixas:
01    Feelings 
02    My Way
03    Au Privave
04    Muntaner 83A
05    Jo Vull Que M'Acariciis
06    Pont Aeri-Acuarela
07    T'Estimo Tant...
08    Come Sunday
09    It Don't Mean A Thing
10    In A Sentimental Mood
11    Take The "A" Train
12    Sophisticated Lady
13    Cotton Tail
14    Come Sunday
15    Cheese Cake
16    Society Red
17    Soul Sister
18    Naima
19    I Want To Talk About You  (autor Billy Eckstine, “Mr. B”)
20    Lush Life 
21    Giant Steps
22    Monk's Dream 
23    Ask Me Now 
24    Misterioso 
25    Apartment 512

1ª Indicação
Em 2005 a “Radiotelevisión Española” (RTVE) editou um primoroso CD duplo sob o título “Jazz Em España  -  Tete Montoliu”.   É o primeiro de uma série de resgates de JAZZ promovidos pela corporação espanhola, dedicado exatamente a TETE MONTOLIU.     Extensas notas de encarte por José Ramón Rippol, que inicialmente nos remetem ao “Jazz subterrâneo” na “Espanha franquista”, para logo rememorar a largos traços um pouco da carreira de TETE MONTOLIU.
Em um dos CDs temos 17 faixas de TETE em piano.solo, reunindo composições próprias, além de clássicos de Victor Young (“When I Fall In Love”), Roger “Ram” Ramirez (“Lover Man”), Bill Evans (“Waltz For Monika”), Cole Porter + Tadd Dameron (“Wht Is This Thing Called Love?” / “Hot House”), Duke Ellington (“Sophisticated Lady”) e outros.   As gravações constantes do gigantesco acervo da RTVE foram realizadas em 17/fevereiro/1973 e em 24/março/1982.
No outro CD temos 08 faixas com TETE MONTOLIU em trio (David Thomaz ao baixo e Peer Wyboris à bateria), gravadas em 22/março/1982.    A primeira faixa de autoria de TETE intitula-se “Blues”, levando-nos a todo um perfeito discurso da linguagem de raiz.   Segue-se um “Days Of Wine And Roses” com claras e sublimes referências ao pianismo de Bil Evans.  Charlie Parker é revisitado em “Confirmation”, Coltrane em “Giant Steps” e Monk/Cootie Williams em versão primorosa de “Round About Midnight”.

2ª Indicação
Com Pedro Diaz /tumbadoras, Miguel Angel Lizandra/bateria e Alberto Moraleda / baixo, Tete montoliu gravou em Barcelona (16/agosto/1963) o LP, reeditado em CD pela “Discos Ensayo”, “Temas Hispano-americanos”.  São “medleys” de clássicos do bolero, todos em linguagem jazzística e repletos da técnica de frases em legato, perfeitas divisões de fraseados, digitação superior, enfim, um disco para ouvir sempre.
Juntam-se a “Frenesi / Contigo En La Distancia / Maria Elena”, outros como “Tres Palabras / Amor Mio / Siempre En Mi Corazón” e “Perfidia / No Me Platiques / Bésame Mucho”.   

3ª Indicação
Ainda na linha dos “boleros”, mas então com temas individuais tomados dos clássicos do gênero, Tete gravou em 1975 e também em quarteto (ele mais Rogelio Juarez / tumbas, Manuel Elias / contrabaixo e Peer Wyboris / bateria), o LP, reeditado em CD pelo mesmo selo “Discos Ensayo” de Barcelona, sob o título de “Boleros” e com a linguagem jazzística do anterior, os temas “Somos”, “Sabra Dios”, “Siboney”, “Somos Novios”, “Sabor a Mi”, “Poinciana” e mais 04 temas que completam os 10 do álbum.

4ª Indicação
O CD “Tete Montoliu Em El Teatro Real” foi gravado diretamente do “Teatro Real” de Madrid em 02 de fevereiro de 1988, em piano.solo e constitui-se, em sua parte inicial, em ode á obra de Thelonius Monk.   A 1ª faixa do CD ocupa não menos que 42’30” sob o título de “Monkiana”, em que a esfinge é totalmente decifrada pela execução inspirada, decodificada e até com a sonoridade e o fraseado de Monk:  “Straight, No Chaser”, “Reflections”, “Misterioso”, “Well, You Needn’t” e semi-trechos de outros clássicos monkianos desfilam para o prazer sensorial da audição.  É coisa de “gente grande” para todo o sempre.
Mais 03 faixas completam os 64’22” do CD:    “Don’t Smoke Anymore, Please” (seria uma premonição das leis estaduais futuras ? ? ? . . .), “Jo Vull Que M’acaricis” e “Apartment 512”.  
Excelente texto do encarte por Paco Montes, com bom retrospecto da carreira de TETE e qualidade superior de gravação, tornam essa gravação um precioso documento.

5ª Indicação
Tete Montoliu & Orquestra Taller de Músicos de Barcelona” é CD gravado em 25 e 26 de junho de 1988 em Barcelona, reeditado em 2003.
05 trumpetes, 04 trombones, 02 saxes.alto, 02 saxes.tenor, 01 sax.barítono, piano (TETE MONTOLIU,  claro), guitarra, baixo e bateria, sob a condução de Zé Eduardo (também autor de 02 dos 07 temas do CD), mostram-nos uma “big.band” alentada, com belos arranjos e temas muito bem escolhidos, inciando-se pela faixa 1, o clássico “C.T.A.” de Jimmy Heath, incluindo “All Of Me” (soberbo solo de TETE MONTOLIU), “Second Race” de Thad Jones com arranjo do próprio, “Recordarme” de Joe Henderson (arranjo de Ernie Wilkins), enfim, um trabalho de alta qualidade.

6ª Indicação
O CD “Free Boleros”, em realidade uma coletânea de boleros clássicos interpretados por um trio em estado de graça (TETE MONTOLIU elabora discursos pianísticos de pura beleza, com toques de “blues”), acompanhando Mayte Martins, uma verdadeira “CANTORA” (dicção, divisão, timbre, extensão, emoção.........), já indicado anteriormente ao longo da “Biografia” de Tete Montoliu.    É trabalho sério, de muito “feeling” e puro prazer para os ouvidos e a mente.     “Contigo en la Distancia”, “El Dia que me Quieras”, “El Reloj”, “Somos”, “Sabor a Mi” e mais 08 faixas integram essa seleção tocada em trio e cantada com uma soberba voz, que merece todo o interesse, os aplausos e a divulgação do “melhor”.

7ª Indicação
Tete Montoliu Interpreta a Serrat Hoyreúne 12 temas e 01 “medley” da autoria do compositor espanhol Joan Manel Serrat, que TETE MONTOLIU conheceu em 1965 na EDGISA, companhia discográfica catalã.  À época Serrat integrava o denominado “Els Setze Jutges”, grupo musical e cultural.
Em 1969 TETE havia gravado “Tete Montoliu Interpreta a Serrat”, sendo que nessa nova visita ao compositor, TETE jazzifica toda uma obra.
Temos nesse CD a reunião de composições belíssimas e uma interpretação de altíssima qualidade pianística e jazzística:  mais pedir impossível ! ! !

Final....................................   Retornaremos nos próximos dias

Um comentário:

MauNah disse...

Desse pianista, só vim a conhecer a obra de forma tardia, e incentivado por nosso saudoso Mestre Llulla, que o adorava.

Desde então venho colecionando e ouvindo o que posso de suas interpretações riquíssimas para meus ouvidos, por exatamente mesclarem alguma doçura latina (porém em nada nada melosa)e uma altamente sofisticada construção de riffs jazzísticos e umas precisas, técnicas e inesperadas "entortadas" nas melodias que se tornaram suas marcas próprias. E quanta sofisticação encontro nos seus andamentos.

Belo trabalho, Pedro, longo e substancioso, e sobre um pianista que, até agora, no mundo fora da Espanha, apenas uma restrita parcela de felizardos puderam vir a ter contato.

Na minha humilde opinião, Tete jamais teve uma divulgação internacional de sua obra à altura de seu enorme talento e sensibilidade para o jazz e suas próprias e definitivas influências.

Agora apenas imaginemos se ele enxergasse!

Grande abraço.