Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

17 abril 2017

Série   “PIANISTAS  DE  JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
34ª Parte   -   Módulo II
(34)(b)  BUD POWELL         “O”  Bebop                      (Resenha longa, 05 módulos)

A lista qualitativa do crítico literário Harold Bloom intitulada “Greatest Works Of Twentieth-Century American Art” inclui as gravações para a Blue Note de “Un Poco Loco” e “Parisian Thoroughfare” (ambos os temas da autoria de BUD POWELL) nesse rol de preciosidades artísticas.
“Um Poco Loco” particularmente e a nosso juízo (secundando as opiniões de Leonard Feather e de Luiz Orlando Carneiro) é uma autêntica jóia musical, que nos enleva a cada audição dos 03 “takes” (em ascendência) para a Blue Note.
Em 1950 BUD POWELL é detido por posse de narcóticos, internado por 17 meses e submetido a eletrochoques.  Após liberado BUD segue gravando, se apresentando e conseguindo durante algum tempo ficar longe das drogas e do álcool, para  estar com sua mãe na Pensilvânia em 1953, onde compõe a obra prima “Glass Enclosure”. 
Há uma versão segundo a qual o gerente do Birdland à época, Oscar Goldstein (a quem eram atribuídas ligações com o crime organizado) foi “tutor” legal de BUD POWELL e mantinha-o praticamente recluso  -   para poder vigiá-lo permanentemente, levou-o a casar-se com Audrey Hill e segundo essa versão foi para essa condição que BUD compôs “Glass Enclosure”.
Em 1953 tem lugar o famoso concerto no Massey Hall (Toronto, Canadá), com o quinteto escolhido por votação:  Parker, Gillespie, BUD, Mingus e Max Roach, cujas peripécias podem ser lidas naDiscografia”.
Viajou para a Europa pela primeira vez em 1956 com o grupo auto-intitulado “”Birdland 56” (Miles Davis, Lester Young e parte dos componentes do MJQ), com turnês por vários paises, tomando contato com o respeito europeu pela arte e pela cultura negra;   ai iniciou-se sua vontade de viver no velho continente, o que somente veio a ocorrer em 1959, para ali permanecer por 05 anos.   Nessa ida e permanência suas companhias foram foi Altevia Edwards (“Buttercup”) que tornou-se sua esposa nos últimos anos de vida, e seu filho Earl Douglas John Powell.
Em Paris, onde se radicou, apresentou-se constantemente no clube “Le Chat Qui Péche” e formou com Pierre Michelot ao contrabaixo e Kenny Clarke (“Mr Clock”) à bateria, o “The Three Bosses”, que marcou ponto seguidamente no Blue Note parisiense de 1959 a 1962.  Esse trio foi formado após a apresentação de 02/abril/1960 no “Essen Jazz Festival”, Grugahalle, Essen, Alemanha (Coleman Hawkins no sax.tenor, BUD POWELL no piano, Oscar Pettiford ao baixo e Kenny Clarke  à bateria, conforme a  “Discografia”), onde foi calorosamente aplaudido.
Então teve início uma tuberculose pulmonar bilateral que progressivamente aprofundou seu já delicado estado de saúde, levando-o à internação em hospital para tratamento de 1963 até junho/1964 (já então apresentava outra vez como quadro permanente a incapacidade de livrar-se do álcool).   Todavia teve muito apoio moral e pessoal daquele que se tornou  seu amigo, Francis Paudras, “designer”, hospedeiro, acompanhante permanente com quem morou, amante do JAZZ  e, mais tarde, autor da biografia de BUD POWELL (“LA  DANSE  DES  INFIFÈLES” conforme “Bibliografia”) que, inclusive, o acompanhou no retorno aos Estados Unidos em 1964, com o acordo de que após algumas apresentações em sua pátria BUD POWELL retornaria a Paris com Francis.     
Seu retorno ao “Birdland” de New York foi triunfal, em uma apresentação seguida por 07 minutos de aplausos ininterruptos, mas a doença já não mais o deixou;  habituou-se a desaparecer por largos períodos, sendo que uma noite foi encontrado dormindo numa rua do Brooklin, em frente a um hotel e ao lado de vagabundos.   A  Baronesa Pannonica de Koenigswarter, “Nica”, convidou BUD para ficar em sua residência em New Jersey; BUD fugiu uma noite e perambulou sem rumo até ser encontrado em Greenwich Village.
Aquí um pequeno parênteses sobre “Nica”, amiga e benfeitora de muitos músicos de JAZZ,  para lembrar que ela foi homenageada com inúmeros temas  -   “Pannonica” foi título de tema de Thelonius Monk, assim como intitulou temas de Doug Watson e de Donald Byrd, “Cats In My Belfry” foi da autoria de Barry Harris que também compôs “Inca”, Sonny Rollins foi o autor de “Poor Butterfly”, “Blues For Nica” é de  Kenny Drew, “Nica” é de Sonny Clark, “Nica’s Day” é de Wayne Horvitz,  com o título de “Nica’s Dream” Horace Silver compôs o magnífico tema para o qual a cantora Dee Dee Bridgewater fez a letra, “Nica’s Tempo” é de Gigi Grice, “Nica’s Steps Out” é da autoria de Freddie Redd, “Tonica” é de Kenny Dorham, “Thelonica” é do grande Tommy Flanagan, “Weehawken Mad Pad” é do baterista Art Blakey, sendo que Thelonius Monk compôs também em homenagem à Baronesa  os temas “Bolivar Blues”, “Comming On The Hudson” e “Little Butterfly” (com letra de Jon Hendricks):  20 temas que traduzem sua apreciação pelos músicos de JAZZ ! ! !
Francis Paudras, seu benfeitor, retornou a Paris sem BUD POWELL e comentava com seus amigos que “BUD POWELL não sentia mais gosto nem mesmo em  tocar”.
BUD POWELL participou do “Charlie Parker Memorial Concert” (homenagem aos 10 anos do falecimento de “Bird”) no Carnegie Hall, New York, em 1965, em piano.solo que ficou registrado em disco.
Sua derradeira gravação (BUD POWELL ao piano, Scotty Holt no baixo e Rashied Ali à bateria), tem como data 02/janeiro/1966 no “Town Hall” em New York.
Foi hospitalizado (“Kings County Hospital”, Brooklyn) em 17/julho/1966 vindo a falecer de pneumonia no dia 31/julho.  
A Prefeitura local estimou em 5.000 a quantidade de pessoas que saiu às ruas do Harlem para homenageá-lo, enquanto Lee Morgan e o grande pianista e professor Barry Harris tocavam em sua memória.

Retornaremos nos próximos dias com o “Módulo III”

2 comentários:

Nelson disse...

Parabéns Pedro,

Por mais uma brilhante resenha de um grande astro do jazz.
Lembro-me de haver dado de presente ao nosso querido Mestre "Lula" Antunes, o LP "The Invisible Cage".
Uma pergunta:
O filme "Round Midnight" teve como "pano de fundo" a vida de Bud Powell ou, do próprio Dexter Gordon que o interpreta ?
Um abraço Mestre.

Obrigado
"Nels"

pedrocardoso@grupolet.com disse...

Estimado NELSON:

Interpretado por DEXTER GORDON (que se tornou candidato ao "Oscar" de melhor ator), o filme é totalmente calcado na saga de BUD POWELL, o que descrevo em próximo "módulo" quando foco o livro "LA DANSE DES INFIFÈLES" de Francis Paudras.
Abraços,

PEDRO CARDOSO