Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

06 abril 2017

Série   “PIANISTAS  DE  JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
34ª Parte   -   Módulo I
(34)(a)  BUD POWELL         “O”  Bebop                      (Resenha longa, 05 módulos)

 

Earl Rudolph Powell, “BUD” POWELL, Pianista, compositor e arranjador, nasceu em 27/setembro/1924 em New York, onde faleceu em 31/julho/1966.
Sem nenhuma sombra de dúvidas foi um dos mais técnicos, inspirados e influentes pianistas de JAZZ e, definitivamente, o mais legítimo pianista do “Bebop”.
Segundo  Thelonius Monk  ninguém conseguia tocar como  BUD:  “too difficult, too quick, incredible !".
Herbie Hancock afirma que BUD POWELL é “a fundação sobre a qual se assenta o edifício do JAZZ moderno e depois dele todos tentaram tocar como ele”.
BUD é um gênio”, dizia Charlie Parker.
Max Roach opina que ele “é o mais brilhante que pode ser um gênio, o único gênio da nossa cultura”.
BUD é um gênio genuíno”, afirmou Duke Ellington. 
Essa mínima amostra do acervo de reconhecimentos a que faz jus leva BUD POWELL, com toda a justiça, a integrar a “galeria da fama” ao lado dos mais importantes músicos de JAZZ de todos os tempos.
Recusando o fácil e com linhas sinuosas que o levam até os limites de Charlie Parker, BUD POWELL desenvolveu estilo pessoal na fronteira da ruptura, já que a todo toque propõe ultrapassar seus próprios limites. Empregava a mão esquerda insinuando a presença do baixo e da bateria, para que a mão direita tivesse esse apoio abstrato para “pensar”, construir e encadear todas as suas belas idéias em quaisquer andamentos e, particularmente quando em “up.tempo”, numa velocidade que nas primeiras audições não nos permitem captar todas essas idéias. BUD POWELL é prazer à primeira audição (como descobrir a beleza dos números complexos em “A+Bi”), mas necessita de aprofundamento, escuta e introspecção para o prazer pleno (como resolver uma integral não-imediata). 
Durante os quase 42 anos de vida oscilando entre momentos de lucidez e períodos de loucura, BUD POWELL deixou-nos um dos mais importantes patrimônios musicais para a história do JAZZ. Mesmo encontrando na história biografias dolorosas que definem uma não-existência pessoal plena (Joe “King” Oliver, Bix Beiderbecke, Charlie Parker, Art Pepper, Frank Rosolino e tantas outras), é muito difícil encontrar um caminho mais desesperado e trágico que o percorrido por BUD POWELL, autêntico artífice da revolução dos anos 40, o “bebop”, junto a outros poucos protagonistas como Gillespie e Parker; BUD POWELL teve um verdadeiro exército de imitadores, que oscilaram entre tentar seguí-lo ou livrar-se de sua influência (comportamentos típicos ante um “Mestre” que cria algo novo e diferente). 
Neto de avô guitarrista de “flamenco” em Cuba, filho de pai adepto do “stride piano”, com um irmão trumpetista e violinista (William) e outro estudante de piano (Richie, que mais tarde participou do memorável quinteto de Clifford Brown e com ele faleceu em acidente automobilístico), desde cedo estudou assiduamente piano clássico, com predileção por Mozart (o que se nota em muitos momentos de suas atuações em trio). Interessou-se mais tarde pelo JAZZ impressionado por Art Tatum (quem não ? ? ? ! ! !) e James P. Johnson. 
Estudou com Elmo Hope e com Thelonius Monk, seu “tutor” musical, amigo e que lhe dedicou “In Walked Bud” e “52nd Street Theme”, que BUD POWELL utilizou como seu tema (prefixo / sufixo) e que Thelonius Monk jamais tocou ou gravou. 
Tocou na orquestra colegial dirigida por seu irmão William e, durante pouco tempo, acompanhou Valaida Snow (“A Rainha do Trumpete" com seus "Jazz Rhythm’s”), cantora, trumpetista na linha de Louis Armstrong, bailarina, coreógrafa, arranjadora e “band-leader”.
Ingressou na banda de Cootie Williams e, simultaneamente, foi levado por Thelonius Monk (no sótão do clube onde os músicos ensaiavam BUD POWELL encontrou Thelonius Monk, também jovem mas com estilo inteiramente diverso do seu e, também e em certa medida, menos favorecido sob o ponto de vista de estudo musical) para a atmosfera e o mundo vanguardista do início dos anos 40, freqüentando os pequenos clubes onde germinou a semente e cresceu a árvore do “Bebop”:  Minton’s Playhouse e Clark Monroe’s Uptown House. 
Com o sexteto de Cootie Williams (co-autor com Thelonius Monk do clássico “Round Midnight”) é que localizamos os primeiros registros fonográficos com a participação de BUD POWELL, então com 19 anos, em 04 e 06/janeiro/1944 e em New York.   A última gravação com Cootie Williams foi realizada neste mesmo ano e em sessão de 22/agosto. 
BUD já despontava então por possuir, além de um virtuosismo técnico ímpar e de grande intuição musical, excepcional capacidade de desenvolver idéias geniais sobre os temas que lhe eram propostos assim como de sua própria criação.
Seu jogo criativo com a mão direita chamou a atenção de Dizzy Gillespie e Oscar Pettiford, que tentaram levá-lo no início de 1944 para o “Ônix Club” (Rua 52) com o objetivo de formar um quinteto; Cootie Williams, seu "tutor", barrou essa investida.
O ano de 1945 marcou BUD POWELL por 02 eventos. O primeiro deles foi sua única gravação, em 02/maio com o quinteto do tenorista Frank Socolow, enquanto o segundo foi a agressão que o marcaria, psicológica e fisicamente, para o resto da vida:    foi golpeado na cabeça com o cassetete de um policial, internado como doente mental em ambiente para tratamento psiquiátrico (eletrochoque) o que, ao invés de recuperá-lo, agravou seu estado.   Seguidas enxaquecas, dramáticas e intermitentes depressões, que o levavam a alternar momentos de lucidez com fases de pausas silenciosas em que até falar com ele era difícil. Esse problema foi agravado, também, pelo abuso do álcool. 
Em 1946 BUD grava com Dexter Gordon em quinteto (29/janeiro), com Sarah Vaughan e o grupo liderado por Tadd Dameron (com cordas, em 07/maio), com os quintetos de J.J.Johnson (26/junho) e de Kenny Dorham (23/agosto), este passando a ser o quinteto de Sonny Stitt (que grava em 04/setembro), apenas com a substituição do baterista Wallace Bishop por Kenny Clarke.
Esse quinteto é ampliado para noneto em gravação do dia seguinte (05/setembro), sob o título de “Kenny Clarke And His 52nd Street Boys” e com a seguinte formação: Kenny Dorham e Fats Navarro (trumpetes), Sonny Stitt (sax.alto), Ray Abrams (sax.tenor), Eddie DeVerteuil (sax.barítono), BUD POWELL (piano), John Collins (guitarra), Al Hall (baixo) e Kenny Clarke (bateria), gravando para o selo econômico da RCA, “Bluebird”, os temas “Epistrophy”, “52nd Street Theme”, “Oop Bop Sh’bam” e “Roya Roost = Rue Chaptal”;    mais “bebop” impossível ! ! ! 
A última gravação de 1946 de BUD POWELL foi realizada no dia seguinte (06/setembro) com arranjos de Gil Fuller para octeto liderado por Fats Navarro ("Fats Navarro / Gil Fuller's Mdernists") e com a mesma formação da véspera, substituindo Ray Abrams por Morris Lane e sem a guitarra de John Collins.
Em 1947 BUD POWELL gravou pela primeira vez como “líder” em trio: ele ao piano, Curly Russell (baixo) e Max Roach (bateria), 10/janeiro.
Também por primeira vez gravou com Parker: Miles Davis (trumpete), Charlie Parker (sax.alto), BUD POWELL (piano), Tommy Potter (baixo) e Max Roach (bateria), 08/maio nos Estúdios Harry Smith. 
A partir de novembro/1947 e até 1948 BUD POWELL voltou a ser internado mais de uma vez (“Creedmoor Psychiatric Center”, Long Island). 
 Em 1948 gravou em uma única oportunidade. 
Em janeiro/1949 BUD POWELL chega à VERVE (Norman Granz) e em agosto desse ano à Blue Note;  as gravações ao longo do tempo para essas etiquetas, felizmente, foram reunidas em coletâneas disponíveis no mercado em estojos (vide na “Discografia” em Módulo mais adiante). 
Segundo o recém-falecido saxofonista Jackie McLean, se a supervisão adequada e humana dos proprietários da Blue Note, Francis Wolff e Alfred Lion tivesse ocorrido desde o início da carreira de BUD POWELL, ele teria sido uma pessoa inteiramente diferente, em função da grande amizade que os dois por ele nutriam e pelo respeito com que sempre o trataram. 

Retornaremos nos próximos dias com o “Módulo II”

Nenhum comentário: