Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

16 março 2017

Série   “PIANISTAS  DE  JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
31ª Parte
(31)   MARIAN  McPARTLAND    Impecável  !  !  !      (Resenha curta – Revisão)


Marian Margaret Turner, pianista, compositora, arranjadora e diretora de orquestra naturalizada norte-americana e artisticamente conhecida como MARIAN McPARTLAND, nasceu na cidade de Windsor, Inglaterra, no dia 20 de março de 1920(algumas poucas fontes indicam 1918) em uma família de músicos, vindo a falecer aos 93 anos em 20 de agosto de 2013 em Port Washington, Nova Iorque. 
Foi “menina-prodígio” já que aos 03 anos de idade executava algumas peças ao piano (valsas de Chopin), mas inicialmente estudou violino durante 05 anos com professores particulares para, em seguida, ingressar nos cursos da “Guildhall School Of Music And Drama” em Londres, onde estudou música clássica e piano e onde, certamente, cunhou seu refinamento harmônico tão cristalino nas improvisações.
Durante muitos anos enfrentou algumas discussões familiares em função de seu precoce encantamento pelo JAZZ e por músicos americanos, como “Fats” Waller, Duke Ellington, a grande Mary Lou Williams, Teddy Wilson (sua maior influência) e muitos outros.
Para desgosto da família em 1938, aos 20 anos, MARIAN deixou a “Guildhall” para unir-se ao grupo “Billy Mayerl’s Claviers” (grupo de “vaudeville” com 04 pianistas), adotando o nome de “Marian Page” e excursionando pela Europa durante a IIª Guerra Mundial para entreter as tropas aliadas contra o nazismo, integrando grupo musical organizado pelo U.S.O. 
Durante turnê na Bélgica e Alemanha em 1944 conheceu o cornetista Jimmy McPartland (James Douglas McPartland, 15/março/1907 Chicado/Illinois a 13/março/1991 New York) e os dois vieram a casar-se na base militar dos aliados na Alemanha. MARIAN passou a adotar o sobrenome do marido, mantendo-o mesmo após a futura separação de ambos no início dos anos 1960.
Com o termino da IIª Gerra Mundial MARIAN foi para Chicago com a família do marido Jimmy e em 1949 o casal passou a residir em Manhattan, no mesmo edifício das “Nordstrom Sisters”. 
Aqui um pequeno parênteses sobre as “Nordstrom Sisters”, que atuaram em cabarés de 1931 até 1976, ocasião em que faleceu a mais nova das irmãs, Dagmar (1903/1976), compositora / pianista / arranjadora do duo e autora do sucesso de 1940 “Remembering You” - a outra componente, Sigfred (1893/1980), casou-se em 1919 e enviuvou em 1931 com o falecimento do marido Samuel Ferebee Williams.
Inicialmente MARIAN atuou em quarteto com o marido Jimmy e em quinteto “dixieland” no “Brassrail Lounge” de Chicago.
Já residindo na “maçã” e encorajada pelo marido MARIAN passou a apresentar-se em trio no clube de JAZZ “Hickory House” (um dos mais famosos e importantes da “Rua 52”, tão emblemática para o “bebop”, situado entre as avenidas “Seventh” e ”The Americas”), permanecendo ali longo período (1952 a 1960). MARIAN tocou em duo com Eddie Condon e em trio, formado inicialmente com MARIAN ao lado de Max Wayne (baixo) e Mousie Alexander (bateria) e, mais adiante, com o baixo por conta de Bill Cow e tendo como baterista o grande Joe Morello, antes deste unir-se ao seminal quarteto de Dave Brubeck, onde fez sucesso. 
O trio chegou a atuar, também, no “The Embers”, restaurante e “night club” que funcionou de 1950 a 1960 na 161 East 54th Street entre a 2nd e a Lexington Avenue, onde atuaram músicos da talha de Ralph Watkins, George Shearing, Jonah Jones e Red Norvo.
No biênio 1953/1954 MARIAN foi presença regular no programa “Judge For Youself” dirigido por Fred Allen e apresentado por Dennis James.
Em 1958 MARIAN estava presente na famosa foto que gerou o documentário “A Great Day In Harlem”, ao lado da grande Mary Lou Williams, ocasião em que Dizzy Gillespie tirou outra foto em que estavam Ronnie Free, Mose Allison, Lester Young, Mary Lou Williams, Charlie Rouse e Oscar Pettiford (foto postada em seu facebook por MARIAN).
MARIAN também está presente no documentário “Another Great Day In Harlem”, parte do DVD “The Girls In The Band” de 2015, em que dezenas de “mulheres-músicos” participaram de foto no mesmo local de 1958.
O início da década de 1960 não foi favorável a MARIAN, não apenas pela separação do até então marido Jimmy, mas também pela “crise” geral que atingiu o JAZZ com a invasão da sub-música. Ainda assim ela chegou a atuar durante pouco tempo em 1963 contratada por Benny Goodman, realizou temporadas na Inglaterra, gravou seguidamente para as etiquetas “Argo”, “Savoy”, “Dot”, “Capitol”, “Time” e “Sesac”, até fundar em 1969 sua própria gravadora, “Halcyon Records” (pela qual gravaram Earl Hines, Teddy Wilson e Dave McKenna), ademais de posteriormente manter longa associação com a “Concord Jazz” do então fundador e presidente Carl Jefferson, associação que rendeu mais de 50 gravações, inclusive ao lado do ex-marido Jimmy McPartland em formação “dixieland” (“Thanks For Dropping By” com Dick Cary, Urbie Green, Andy Fitzgerald, Mousey Alexander e Ben Tucker) e do grande trumpetista “Hot Lips” Page (Oram Thaddeus Page, 27/janeiro/1908 Dallas/Texas a 05/novembro/1954 New York).
Anteriormente e em 1964 MARIAN iniciou novo veio de atividade na rádio “WBAI-FM” de New York, com um programa semanal em que apresentava gravações e entrevistava convidados. A rádio “Pacifica” da Costa Oeste passou a transmitir esse programa semanal, que abriu caminho para o posterior programa “Marian McPartland’s Piano Jazz”, série transmitida pela “NPR” (“National Public Radio”) e iniciada em 04 de junho de 1978; esse é considerado o programa “cultural” de mais longa permanência no ar, em uma rádio pública. É nesse programa e em 1978 que MARIAN nos proporcionou maravilhosos diálogos e execuções pianisticas com o grande Bill Evans, felizmente gravados e que nos oferecem pérolas em duo - “Days Of Wine And Roses”, “All Of You”, “The Touch Of Your Lips” e outros. 
Anteriormente e em 1974 MARIAN esteve no Brasil em “Temporada de Piano Solo” no Rio de Janeiro (Teatro Municipal em 10/agosto/1974 e Country Club no dia seguinte). Devidamente acompanhada por Ellis Larkins, Teddy Wilson e Earl Hines, tivemos a oportunidade de desfrutar de 02 noites maravilhosas, com pianistas fora-de-série, inspirados - momentos inesquecíveis ! ! ! Escute-se MARIAN ao piano e os comentários do confrade MÁRIO JORGE sobre o espetáculo no Rio de Janeiro (também lá estivemos, de camarote) no “podcast 352” postado em 10/março/2017 
MARIAN atuava ao piano e recebia convidados, habitualmente pianistas, para entrevistas e execuções pianísticas, sendo que boa parte desses programas foi gravada em CD pela etiqueta “Concord” a que já nos referimos anteriormente, gerando a série “Just Friends In Piano Duets”, com Tommy Flanagan, Geri Allen, Gene Harris, Dave Brubeck, Gene Harris, George Shearing e outros.
Durante a década de 1980 MARIAN manteve-se em seu programa radiofônico mas dedicou-se, simultaneamente com muita vontade, ao ensino musical.
Ao completar 25 anos do programa em 2003, MARIAN o irradiou do “Kennedy Center” tendo como convidado Peter Cincotti. Em 2009 o pianista Ramsey Lewis foi o convidado do programa.
Enquanto compositora MARIAN legou-nos muitas e muitas peças, com destaque para as belas "Ambiance", "There'll Be Other Times", "With You In Mind", "Twilight World" e "In The Days Of Our Love", sendo que diversas composições suas foram gravadas por Tony Bennett, Peggy Lee e muitos outros.
A partir de 1983 MARIAN foi indicada e recebeu muitos e muitos prêmios e homenagens por sua obra, podendo citar-se como exemplos o “Peabody Award” em 1983, a indicação para o “International Jazz Association Of Jazz Education Hall Of Fame” de 1986, em 1991 o “ASCAP-Deems Taylor”, em 2000 o “NEA JAZZ Masters”, em 2001 os prêmios “Gracie Allen” (“American Woman In Radio And Television”) e “American Eagle” (pelo “National Music Council”), em 2004 e pela “Recording Academy” o “Grammy Trustees”(por sua obra como escritora, educadora e apresentadora do mais longo programa de rádio em emissora pública, o “Marian McPartland’s Piano Jazz” na “NPR”), em 2006 a indicação para o “Long Island Music Hall Of Fame” e em 2007 o “National Radio Hall Of Fame”. 
Os títulos honorários recebidos por MARIAN também impressionam, seja pela quantidade, seja pelo nível das instituições outorgantes: Ithaca College, Hamilton College, Union College, Bates College, Bowling Green University, University Of South Carolina, Eastman School Of Music, Berklee College Of Music e City University Of New York, como exemplos.
Em vias de completar 90 anos MARIAN compôs e apresentou a sinfonia “A Portrait Of Rachel Carson” (bióloga, zoóloga, ambientalista e escritora americana, 27/05/1907 a 14/04/1964, autora da obra “Silent Spring”, pioneira no enfoque sobre o movimento global de preservação do meio ambiente), comemorando o centenário de nascimento dessa figura. Em 2010 MARIAN foi agraciada pelo “OBE” (“Officer Of The Order Of The British Empire”).
MARIAN possui uma conhecimento enciclopédico do JAZZ, abordando ao piano e com propriedade os “standards” e os estilos mais variados da “Arte Popular Maior”, graças aos longos anos de “estrada” e à longa atuação em seu programa de rádio, em que recebeu e contracenou com os mais diversos ícones do “piano-.jazz”. Seu estilo pode ser definido como flexível e complexo, com improvisação muito inventiva tanto harmônica quanto rítmica e não centrado em uma única escola (percorre com fluidez desde o “dixieland” até o “bebop”), sempre com “swing” subjacente e sem afetação.
Há uma relação estilística com seu patrício George Shearing, no que se refere à elegância do toque e ao seguimento da forma do cancioneiro americano. 
Entre as publicações importantes com a obra de MARIAN inclui-se “The Artistry Of Marian McPartland” (coletânea de transcrições editada pela “Columbia Pictures Publications”) e “Marian McPartland’s Jazz World: All In Good Time” (publicação da “University Of Illinois Press”). No Brasil Sylvio Lago refere-se a MARIAN em seus 02 livros - ARTE DO PIANO, 1ª edição, 2007, 751 páginas, páginas 475 / 506 / 568 / 605 / 606 e UNIVERSOS DO JAZZ, 1ª edição, 2013, 02 volumes, 280 + 268 páginas, Volume II, Título XXIV, O Jazz na Europa, Parte 5, Inglaterra. As referências, óbvio que todas positivas, apontam que MARIAN é tida como a mais importante discípula de Teddy Wilson, cristalizando em expressão artística com técnica e inventividade mescladas, uma madura e eficiente linguagem jazzística
Entre as dezenas e dezenas de gravações importantes de alta qualidade de MARIAN apontamos “As The Hickory House – 1952/1953”, “Personnal Choise” de 1982 e o tratamento impressionista em “Willow Creek” em 1985.

Retornaremos nos próximos dias

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