Pequena resenha sobre um grande trompetista pesquisa e texto por Nelson Reis
Em atenção à “deixa” do Mestre Mario
Jorge Jacques, em seu “pod” de nº 305, nos propusemos a uma simples e
despretensiosa resenha sobre aspectos da vida musical agridoce de Chesney Henry “Chet” Baker Jr.
Nascido num sitio rural, em 23 de
dezembro de 1929, em Yale, no Oklahoma, ganhou de seu pai um trombone quando
tinha 10 anos de idade. Seu pai era um guitarrista e, o incentivou ao estudo de
teoria musical, passando a gostar da musica de jazz. Ao final dos anos 30 vai para Los Angeles,
Califórnia, passando a integrar pequenos grupos e tendo a oportunidade de
conhecer e trabalhar com Vido Musso e Stan Getz, ambos conhecidos executantes do
sax-tenor.
Chet teve uma vida atribulada e, não era
muito chegado às restrições da pauta musical (partitura). Red Mitchel, um
excelente contrabaixista, costumava aconselha-lo sobre seu aprimoramento,
sabedor de algumas dificuldades suas nesse sentido, pois Chet perguntava
somente pelo tom da musica, não se detendo demasiado aos arranjos. Nem por
isso, deixou de ter gravado e participado de uma “big band” (Pacific Jazz
1229).
Era um músico extremamente criativo,
passando a fazer gravações em vocal que eram quase um sussurro. Seu clássico “My
Funny Valentine” confirma isso. Quanto à sua interpretação vocal, há
controvérsias no sentido de “quem
influenciou quem”, quanto à maneira de cantar, comparativamente ao estilo
brasileiro da Bossa Nova. Se foram João Gilberto e Carlos Lyra que o
influenciaram ou vice-versa. Isto, dado ao fato de que maioria dos
“bossanovistas” no Brasil, apreciarem e ouvir o estilo “cool”, do Jazz West
Coast, uma vez que ambos movimentos musicais são contemporâneos dos anos 50, do
século passado.
As dificuldades de partitura fizeram, ou
influenciaram, a Chet a economicidade das notas e, com isso, aproveitar o
máximo o “tom nostálgico” nas suas execuções musicais. Ele explorava o tema
através do alongamento das notas com um fraseado extremamente melódico. Isso
caracteriza o seu estilo “cool” e, que foi sua chancela no movimento “West
Coast Jazz”.
O seu “jump” musical dá-se à partir de
1951, quando Parker vai à Califórnia e precisa de um trompetista, visto ter Gillespie
se atrasado para o compromisso.
Mais tarde, Gillespie diria em Nova
York: - “ Há um rapaz trompetista na Califórnia, que tem um futuro promissor.
Atentem para ele.”
Em 1952, Chet passa a integrar o
quarteto de Gerry Mulligan, em substituição a Art Farmer. Após o sucesso que
vinha fazendo com o “piano less quartet”, Mulligan e Baker se desentendem. Os
registros musicais dos grandes encontros nesse período que antecede à
discórdia, podem ser mormente ouvidos nas gravações feitas por Richard (Dick)
Bock para a Pacific Jazz, entre agosto de 1952 e dezembro de 1957, The best of the Gerry Mulligan Quartet with
Chet Baker (Pacific Jazz – remastered CDP 7 95481 2). Esse desentendimento
vai se desfazer somente em 24 de novembro de 1974, no “Concerto do Carnegie
Hall de Nova York” (CBS ZGK – 40689) onde se reúnem a Bob James (pi), Ron
Carter (bx), John Scoffield (gt), Ed Byrne (tb), Dave Samuels (vib) e Harvey
Mason (bat) e rememoram grandes temas de sucesso gravados, anteriormente, na
década de 50.
Assim como a grande maioria dos músicos
de jazz das décadas de 40, 50 e 60, Chet caiu no mundo das drogas, que acabou –
paulatinamente – com sua arte e sua vida. Por não haver pago a traficantes aos
quais devia dinheiro pelo uso das drogas, Chet foi espancado e perdeu parte da
arcada dentária prejudicando-o, não só fisicamente mas, pela impossibilidade
temporária do uso de seu trompete. O uso de entorpecentes em especial a
heroína, tiveram tal significado, que sua fisionomia (vide abaixo) veio
sofrendo, marcada por severas e frequentes transformações de semblantes.
Em 1985, durante a época do “Free Jazz
Festival”, no Brasil, Chet apresentou-se ao lado de Sizão Machado (bx), Nicola
Stilo (fl); Bob Wyatt (bat) e Rique Pantoja (pi). Pouco antes do show, no então
teatro do Hotel Nacional (RJ), Chet foi encontrado vagando, solitário, de
sandália de chinelo, na praia de São Conrado (situada nas proximidades) quando
foi dali direto para o palco. Em São Paulo, na mesma época segundo se sabe, ele
se apoderara da maleta do médico que fora posto à sua disposição para uma
emergência, e encheu-se de droga. Em 87 gravaram juntos Rique Pantoja &
Chet Baker.
Chet Baker tem uma extensa discografia,
que vai de 1953 até 1988, perfazendo cerca de 140 álbuns de gravações. Damos
destaque aqui ao concerto na Universidade de Ann Arbor (“Jazz at Ann Arbor”) de
1954. A Apresentação da primeira noite, por impossibilidade de ocorrer no
teatro da universidade, deu-se no espaço cedido por uma loja maçônica de Ann
Arbor, para realização do concerto. Reparem na introdução do apresentador,
quando diz:
- “Boa noite. Benvindos ao Templo do
Sol. Por favor, não fumem. Apresentamos o músico do ano, considerado por várias
revistas de jazz. - Chet Baker e seu Quarteto”.
Jazz At Ann Arbor : Chet Baker Quartet : Chet Baker (tp], Russ Freeman {pi}, Carson Smith (b) Bob Neel (d)
Live "Masonic Temple", Ann Arbor, MI, May 9, 1954
Seu estado degradado de saúde pelo uso
de drogas, o levou ao falecimento com 58 anos de idade, de forma trágica e
estranha, ao se despencar de um andar de hotel em Amsterdan, Holanda, em 13 de
maio de 1988. Foi sepultado, em definitivo, na Califórnia.
Sobre essa situação trágica envolvendo a
morte de Chet, o escritor Bill Moody produziu um livro, publicado no Brasil em
2002 pela Zahar Editora, com tradução de Roberto Muggiati, intitulado “No Rastro de Chet Baker – Um caso de Evan
Horne”. Trata-se de uma obra um tanto ficcional, mas retrata aspectos que
podem ter, de certo modo, envolvimento com os fatos ocorridos.
Nelson Reis
6 comentários:
Grande NELSON:
Relato breve mas consistente e definidor do que foi CHET, um prisioneiro do vício e que chegou a ser preso na Itália por roubar receitas médicas que lhe facilitassem a aquisição da "porcaria".
Músico importante - gravou deixando-nos obra de fôlego e que nos permite entender cronologicamente como o vicio provocou-lhe progressivo declínio.
PEDRO CARDOSO
Obrigado Mestre Pedro.
Falar de qualquer grande "ás" de uma arte, não é necessariamente fazer-lhe uma completa biografia. Não gosto, pessoalmente, de criar "grandes luzes" sobre a degradação levada pelo vício ao mundo artístico em geral e, em particular, ao músico de jazz. Todavia, nota-se que existe uma "certa identidade" entre os "males do espirito .e da psique" com a genialidade do artista. Sobretudo, numa época em que julgou-se e/ou concebeu-se, que a droga despertava ou potencializava essa genialidade.
Ledo engano. Acredito que, tanto Billie como Parker seriam "geniais" com ou sem a droga. Ela deprime, subjuga e entorpece, provocando mutações degradantes como vimos em Chet e, tantos outros.
Olhemos a arte deles, que eles fizeram para nós e, peçamos a Deus que seus vícios e mazelas decorrentes, possam lhes ser perdoados aqui e na eternidade.
O pianista da faixa ilustrativa apresentada, do concerto em Ann Arbor, é Russ Freeman.
A todos que aqui me leiam, o meu MUITO OBRIGADO.
Nelson Reis
Perfeito NELSON e, infelizmente quando nos referimos ao vicio, é com a infinita tristeza de perdermos tão cedo artistas que ainda teriam tanto para criar, EDUCAR, abrir mais caminhos e perenizar seu trabalho.
A droga foi e é uma droga, um desvio de uma obra, um atalho para o abismo que nos roubou CHET, BILLIE, BIRD e outros tantos gênios que, menos mal, nos deixaram belos legados. Lamentamos pelo que deixaram de fazer.........
PEDRO CARDOSO
Estimado NELSON:
Para variar e como sempre, RUSS FREEMAN dá um senhor recado ! ! !
PEDRO CARDOSO
muito bom mesmo Chet grande musico e a materia muito boa
Carlos Lima
Amigo Major
Excelente matéria sobre o Chet. Parabéns.
Forte abraço
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