Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DOIS ARTIGOS DO MESTRE LOC NO JB ONLINE

13 junho 2015

Mauro Senise e Peranzetta: 'Dois na rede'

por Luiz Orlando Carneiro, em 06/06/15

No ano passado (13/9/2014), registrei nesta coluna a edição do CD Danças (Biscoito Fino), comemorativo dos 40 anos de carreira do saxofonista e flautista Mauro Senise, realçando a sua condição de uma das maiores expressões da música instrumental brasileira, desde a década de 1980, quando fundou, com o baterista Pascoal Meirelles, o conjunto Cama de Gato.

Escrevi então: “Além disso, nos saxes alto e soprano, é um jazzman 'bilingue' do primeiro escalão. Ou seja, é tão fluente no chamado samba jazz como na linguagem do bebop. Se tivesse resolvido emigrar para os Estados Unidos, teria hoje, em Nova York, o mesmo prestígio conquistado pelos emigrés Duduka da Fonseca, Claudio Roditi, Hélio Alves, Romero Lubambo e Nilson Matta”.

Mas passa a ser irrelevante procurar rotular Mauro Senise, 65 anos, como ás do samba jazz ou como estrelado jazz samba quando se aprecia o seu mais recente álbum, intitulado Dois na rede (Fina Flor). Sobretudo por se tratar de um precioso registro, em duo, cara a cara, com o pianista-compositor-arranjador Gilson Peranzetta, 69 anos, aquele que Quincy Jones já disse ser “um dos maiores arranjadores do mundo”.

Dois na rede é um show – nos dois sentidos da palavra – de música instrumental de temática brasileira, muito bem selecionada, interpretada em níveis de qualidade técnica e de intuição criativa só atingíveis por excelentesjazzmen. O show teve lugar no Espaço Tom Jobim, lá no Jardim Botânico, Rio de Janeiro, na noite de 16 de outubro do ano passado. Senise e Peranzetta estavam também celebrando uma parceria de 25 anos,documentada em 11 CDs.

Na nota de apresentação deste novo disco comemorativo, Mauro Senise escreveu: “Foi um período de grande aprendizado, dedicação, admiração mútua, que acho ser o principal fator para esta parceria dar tão certo. Desde o meu primeiro ensaio com o Peranzza fiquei muto à vontade para tocar as composições dele. Elas têm uma riqueza enorme de melodia, harmonias muito bem encadeadas e um suingue danado de bom. Além do principal atributo de um grande artista: ter assinatura. A gente reconhece o músico no primeiro acorde, no primeiro sopro”.

Peranzetta assina cinco das 12 faixas do show gravado ao vivo. São elas: a meio camerística Paisagem brasileira (6m10), Senise na flauta; Braz de Pina, meu amor (5m45), saudades do bairro carioca onde nasceu,com o saxofonista no soprano; Forrozim, um chorinho pra Zé Américo (4m55), o parceiro no sax alto e no flautim (piccolo); Bilhete pro Guinga (3m35), tão envolvente como as canções do destinatário, Senise no sax alto; a faixa-título Dois na rede (6m25), que o crítico Roberto Muggiati considera “o gran finale” do álbum, “emlevada de frevo, uma amostra viva do virtuosismo da dupla, que destaca a afinidade de Mauro com o flautim”.


As outras sete faixas têm como base melódica itens cativantes do cancioneiro pátrio. Mauro Senise sopra o seu irresistível sax alto em Deixa (6m50), de Baden Powell/Vinicius de Moraes; Aqui ó (5m10), de Toninho Horta/Fernando Brant;História de Lily Braun (7m25), de Edu Lobo/Chico Buarque). O soprano é o sax escolhido para Jura secreta (7m45), de Sueli Costa/Abel Silva e Só louco (Dorival Caymmi). A flauta usual é o instrumento ideal para o allegro vivace deZanzibar (5m40), de Edu Lobo. A flauta baixo é soprada por Senise na sussurrante Canção que morre no ar (7m), de Carlos Lyra/Ronaldo Bôscoli).

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Sal Mosca, um ilustre esquecido

Por Luiz Orlando Carneiro, em 13/06/15

O release da Sunnyside Records sobre o recém-lançado CD duplo póstumo The talk of the town, do pianistaSal Mosca (1927-2007), é conciso e preciso: “Alguns artistas nunca recebem, em vida, o crédito que merecem. Alguns até se esforçam na busca de maior visibilidade, mas a maioria voa abaixo do radar,trabalhando sem pressa, do seu jeito, revelando o seu mundo, apenas, a verdadeiros aficionados ou aafortunados ouvintes atentos. O pianista Sal Mosca foi, definitivamente, um destes últimos. Um mestre da música que aperfeiçoou sua arte, e cuja obra permaneceu sem maior repercussão, até recentemente. ASunnyside Records apresenta, com orgulho, um maravilhoso documento e um verdadeiro testamento dos talentos extraordinários do grande Sal Mosca, uma gravação ao vivo de uma performance de 14/11/1992, no respeitado Bimhuis de Amsterdã”.

Quem nunca ouviu Sal Mosca – ou dele nunca ouviu falar – saiba que ele foi discípulo do genial pianista Lennie Tristano (1919-1978), cego desde os 9 anos, fundador de uma pequena e sofisticada “escola” da qual foram também alunos uns poucos escolhidos. Além de Mosca, os bens mais conhecidos Lee Konitz (sax alto), Warne Marsh (sax tenor) e Billy Bauer (guitarra). Todos eles adotaram uma estética severa voltada para a estrutura harmônica do material temático, a melodia surgindo espontaneamente, porém como resultado de um processo de destilação harmônica. Mas sempre com aquele beat, aquele pulsar anímico que é a causa formal do jazz.

Da discografia inicial de Sal Mosca constam registros antológicos dos primeiros anos do chamado cool jazz, como as quatro faixas gravadas, em março de 1951, para a Prestige, pelo sexteto Lee Konitz-Miles Davis (mais Billy Bauer, Max Roach na bateria e Arnold Fiskin no baixo): Ezz-thetic e Odjenar, de George Russell;Hibeck, de Konitz; Yesterdays, de Jerome Kern.

Em junho de 1955, o pianista estava ao lado de Konitz e Warne Marsh em celebrado LP da Atlantic (Lee Konitz with Warne Marsh) que mereceu as então raras cinco estrelas da revista Downbeat. Os outros músicos eram Billy Bauer, Oscar Pettiford (baixo) e Kenny Clarke (bateria). Eles deram vida nova a temas batidos como Topsy e I can't get started, e interpretaram peças novas para a época como Donna Lee(Charlie Parker), Two not one (Tristano) e Background music (Warne Marsh).

A parceria Marsh-Mosca foi ainda documentada no álbum Warne Marsh Group (Discovery), contendo quatro faixas em duo, de 1979, e duas em quarteto (com Sam Jones, baixo; Roy Haynes, bateria), de 1977.

No CD duplo agora lançado pela Sunnyside, o pianista é flagrado, solo, na noite de 14/11/1992, no hoje quarentão (e reformado) Bimhuis, o mais famoso jazz place da Holanda e um dos melhores da Europa.

São, ao todo, 11 faixas no primeiro disco e sete no segundo volume, totalizando quase duas horas de música. Os temas são quase todos bem íntimos dos jazzófilos, tanto os standards (Sweet Georgia Brown, Ghost of a chance, Cherokee e I got rhythm, por exemplo) como os jazz originals (Donna Lee e Scrapple from the apple, ambos de Charlie Parker) .

Na segunda parte do álbum duplo The talk of the town, há quatro medleys, dos quais o mais longo (19m35) envolve nada menos de oito gemas do American Songbook: Stardust, Dancing in the dark, Too marvelous for words, I cover the waterfront, The talk of the town, Somebody loves me, I never Knew e Lullaby in rhythm.

(Cinco faixas do CD The talk of the town podem ser ouvidas, na íntegra, em http://sunnysidezone.com/album/the-talk-of-the-town)

Um comentário:

APÓSTOLO disse...

Prezado MauNah:
Mestre LOC acerta todas - com SENISE e PERANZETA passamos a contar com mais "a real masterpiece" disponível no mercado. Como bem escreve no texto "SENISE dispensa comentários" e "PERANZETA é um craque nos arranjos".
SAL MOSCA deixou-nos bela obra, ainda que pouco cultuada pelos críticos; daí porque as notas de Mestre LOC nos chegam mais que como memória, como CARINHO.