Steve Turre: 'Spiritman'
Por Luiz Orlando Carneiro, em 25/04/15
"Steve Turre, 66 anos, e Wycliffe Gordon, 47, são
considerados pela crítica especializada os mais técnicos e criativos
trombonistas pós-bop, no mesmo nível de excelência de mestres J.J. Johnson, Kai
Winding e Frank Rosolino, que iluminaram o planeta Jazz nas décadas de 50, 60 e
70.
Mas o primeiro mentor de Steve Turre não foi um trombonista.
Quando ele tinha menos de 20 anos, e já tocava razoavelmente bem o trombone de
vara, ficou fascinado com a arte fora de série do saxofonista cego Rahsaan
Roland Kirk (1936-77) que, como escreveu Joachim Ernst Berendt, “tinha todos os
atributos de um selvagem e inculto músico de rua aliados à sutileza de um
jazzman moderno”.
Em maio de 2004, o então já famoso trombonista homenageou o
seu ídolo no CD The spirits up above (HighNote), à frente de um sexteto de luxo
integrado pelos saxofonistas James Carter (tenor) e Vincent Herring (alto),
recriando oito originais de Kirk. Antes disso, em 1999, Turre gravou o álbum In
the spur of the moment (Telarc) – um best seller dividido em três partes (“The
blues in jazz”, “Modern and modal” e “Afro-Cuban sounds”), com três estrelas do
piano em cada um dos estilos: Ray Charles, Stephen Scott e Chucho Valdés,
respectivamente.
Steve Turre reaparece agora em Spiritman (Smoke Sessions),
disco gravado em junho do ano passado, com uma seleção de 10 faixas em que
interpreta – no comando de um quinteto – cinco composições de sua lavra, mais
Peace (7m50), de Horace Silver, e quatro standards: Lover man (6m25), de Ram
Ramirez; 'S wonderful (5m30), dos irmãos Gershwin; With a song in my heart
(6m15), de Hart e Rogers; It's too late now (9m25), uma balada bem lenta de J.
Fred Coots, autor da muito mais conhecida You go to my head.
As peças assinadas pelo trombonista são: BU (6m35), tributo
ao lendário baterista Art Blakey, que adotava o sobrenome muçulmano de Buhaina
(“Bu” para os íntimos); Funky thing (7m50), que é exatamente isto; Nanga def
(5m45), que significa “como vai você?” em senegalês, e é africanizada pelas
congas de Chembo Corniel; Spiritman/All blues (9m05), uma incrível reinvenção
do All blues de Miles Davis, com Turre trocando o trombone por búzios (conch
shells) – “instrumentos” que ele “toca” como ninguém, principalmente quando os
sopra sobre as cordas do piano, com o som amplificado pelo pedal.
Ou seja, um cardápio bem variado, incluindo baladas, temas
bluesy, funky e hardbop.
Os sidemen de Steve Turre são o sax alto Bruce Williams (sax
soprano em BU e na faixa-título), o professor Xavier Davis(Juilliard, Michigan
State University) ao piano, Gerald Cannon (baixo) e Willie Jones III (bateria).
Mike Jacobs, da NPR (National Public Radio), anotou, com
propriedade, no seu comentário sobre o CD Spiritman: “Todos os músicos estão em
ótima forma no disco. Eles seduzem o ouvinte, e transmitem a sensação de que se
está no último set de uma noite num clube de Nova York, testemunhando um tipo
de química muito especial”.
(Dois minutos de duas faixas de Spiritman podem ser ouvidos
em http://steveturre.com/recordings/spiritman/) "
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Três vezes três Antonio Sanchez
por Luiz Orlando Carneiro, em 02/05/15
"O baterista-compositor Antonio Sanchez nasceu há 43 anos no
México, e radicou-se em Nova
York em 1999, depois de completar sua formação musical em
Boston, no Berklee College e no New England Conservatory. Ele mereceu especial
destaque na mídia, no início deste ano, por ter assinado e interpretado a
trilha sonora de Birdman, de Alejandro Gonzalez Iñarritu, filme que arrebatou
quatro estatuetas na premiação do Oscar:
melhor filme, direção, roteiro original e fotografia.
No palco do jazz, Sanchez é considerado, já há algum tempo,
um dos melhores na sua especialidade. É o baterista preferido do guitarrista
Pat Metheny, com o qual gravou quatro celebrados CDs editados entre 2008 e 2014
pelo selo Nonesuch: Day Trip, Tokyo Day Trip, Unity Band e Unity Group/Kin.
Como líder, tem no seu currículo dois álbuns - ambos
editados pelo selo italiano CAM Jazz - que o credenciam também como relevante
compositor: Migration (2007), com os saxofonistas tenores Chris Potter e David
Sanchez, mais os ilustres convidados Metheny (duas faixas) e Chick Corea (uma
faixa); New life (2012), no qual assina as oito peças do disco, em quinteto com
David Binney (sax alto) e Donny McCaslin (sax tenor).
A mais recente peripécia de Antonio Sanchez registrada em
estúdio, também pela CAM Jazz, no ano passado, é o excelente CD duplo Three
times three.
Três vezes três, no caso, significa não só que a coleção tem
um total de nove faixas. Mas também que se trata de três trios integrados pelos
seguintes craques: o pianista Brad Mehldau; o guitarrista John Scofield; o
saxofonista Joe Lovano; os contrabaixistas (acústicos e/ou elétricos) Christian
McBride, John Patitucci e Matt Brewer.
Baterista ouvido em 'Birdman' lança CDs em trios com
Mehldau, Lovano e Scofield
Baterista ouvido em 'Birdman' lança CDs em trios com
Mehldau, Lovano e Scofield
O primeiro CD apresenta o trio com o incomparável Mehldau e
Brewer (baixo acústico), em originais do líder Sanchez, desenvolvidos em longas
improvisações, ricas em troca de ideias e confabulações: Nar-this (12m30), tema
inspirado emNardis, de Miles Davis; Constellations (13m50), com tratamento
extrovertido, às vezes rockish; a balada Big dream (8m10).
No segundo volume, a atmosfera é bem diferente, sujeita a
“descargas” elétricas da guitarra de Scofield e do baixo plugado de McBride,
principalmente em Nook and crannies (8m45). Nas duas outras peças deste trio, o
clima é bem mais ameno em Fall (8m30), tema de Wayne Shorter, e harmonicamente
bop em Rooney and Vinski (6m20), com McBride no baixo acústico.
Nas últimas três peças do segundo CD, o líder Sanchez, o
magistral saxofonista tenor Joe Lovano e o contrabaixista John Patitucci formam
um trio que os franceses chamariam de sans pareil. Eles interpretam mais duas
composições do baterista – a turbulenta Leviathan (8m55), que decola depois de
uma lenta abertura, e a envolvente Firenze (8m30), em moderato cantabile – e
concluem o programa com uma dissecação temática de I mean you (7m50), de
Thelonious Monk.
Antonio Sanchez assim explica a sua concepção de trio e do
álbum duplo Three times three:
“Para mim, o trio é o veículo ideal no jazz. Tem tudo o que
você precisa para fazer a música soar forte, viçosa e cheia, e também para soar
de modo esparso, minimalista e aberto. Toquei durante anos numa penca de
grandes trios que me inspiraram a escrever para todas essas três configurações
diferentes. Além disso, compor especificamente para vozes individuais tão
fortes foi um desafio muito interessante e divertido”.
(Samples das nove faixas deste CD duplo podem ser ouvidos em
http://rippletunes.com/album/Antonio-Sanchez/Three-Times-Three/918042524/t0) "
2 comentários:
MESTRE LOC sempre na frente, sempre presente com as boas novas.
À propósito, alguém tem notícias recentes do Stephen Scott, além das que Mestre LOC nos trouxe? Abs, Mau Nah
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