Série “PIANISTAS DE
JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas”
7ª Parte
ALGUMAS NOTAS
MAIS SOBRE O
PIANO (C)
O
piano é dos mais recentes instrumentos de teclado, com 88 teclas dispostas
horizontalmente que quando percutidas atuam sobre elementos de madeira forrados
com feltro, que vão golpear as cordas extendidas sobre um tear, gerando o som. Esses elementos são providos de “rebote”,
de tal sorte que a corda (ou cordas, até 03 por tecla afinadas em uníssono)
deixe de vibrar tão logo a tecla deixe de ser pressionada, evitando o
abafamento do som (que pode ser mantido pelo executante mediante acionamento do pedal direito). O
“rebote” permite, ainda, a repetição de toques na mesma tecla, imediatamente
“disponível” após cada toque.
A
diferença essencial entre o piano e seus predecessores (cravo, espineta) é o
fato do executante graduar a força, a intensidade de percussão sobre as teclas,
desde o “pianíssimo” até o “fortíssimo” (dai a
denominação original de “pianoforte” para o piano).
Como
citado anteriormente e após Bartolomeo
Cristofori muitos aperfeiçoamentos foram sendo introduzidos no piano original
(o alemão Gottfried Silbermann, o inglês Broadwood, o francês Erard), até
chegar-se à conformação atual: o piano
de cauda (“grand piano”) com tear horizontal e 88 teclas e o piano vertical (“upright piano”) com tear
vertical e 85 teclas.
O
“grand piano”, piano de cauda, mede de 120 a 290 centímetros sendo utilizado em
concertos e estúdios de gravação (no JAZZ
e na música clássica) e em apresentações mais especiais, revestidas de aspectos
solenes. As 88 teclas abrangem 07
oitavas e um pouco mais, sendo as teclas diatônicas brancas enquanto que as em
sustenido são pretas, num total de 12 notas por oitava (7 x 12 =
84 e mais 04).
Com
todas as melhorias que o piano atual incorporou em sua gama de recursos, de
matizes e de nuances, também passou a exigir do executante um preparo muito
acima de simplesmente “teclar” notas: o
aprendizado cada vez mais sistematizado, seja pelo profissional, seja pelo
músico amador, a técnica superiormente dominada paralelamente à expressão
tornaram-se inseparáveis.
Os
estudos, os métodos, os exercícios e os demais recursos para aprendizado
surgiram ao longo de muitas décadas objetivando o domínio do instrumento com a
prática quase obsessiva e diária, o fortalecimento das mãos e sua posição
correta no teclado com maior ou menor abertura entre os dedos, a independência
na articulação destes, a execução simultânea de acordes, a intensidade e o
ritmo com uniformidade, enfim, toda uma gama de técnicas voltadas para a
excelência do executante com a justa medida de estilo, de estética e de
expressão.
(09)
MONTY
ALEXANDER - Da Jamaica, Porque Não ! ! ! (Resenha longa)
O
excelente pianista Montgomery Bernard Alexander, artisticamente MONTY ALEXANDER, nasceu em Kingston, Jamaica, no dia 06 de
junho de 1944 e já com a idade de 04 anos “golpeava” calipsos e boogies no
piano.
Com
06 anos iniciou os estudos de piano clássico e aos 14 anos ouviu gravações de
Louis Armstrong e de Nat “King” Cole, apaixonando-se pelo JAZZ e a ele aderindo.
Com 16 anos formou no colégio sua primeira “orquestra”
com o título de “Monty And The Cyclones”, para atuar em bailes; o grupo, mais adiante, gravou com o título de
“The Skatalites”.
Todas
as noites freqüentava os clubes onde atuavam músicos de JAZZ e, entre outros e que o influenciaram, destacava-se o
guitarrista Ernest Ranglin, com quem anos mais tarde MONTY viria a gravar.
Com
18 anos e em 1961 mudou-se com a família para os U.S.A., mais precisamente para
Miami, atuando em clubes noturnos.
“Descobriu”
e tornou-se amigo de Wynton Kelly, ouviu sucessivamente a Bill Doggertt, a
George Shearing e a Eddie Heywood.
Em 1963 MONTY atuou com a banda de Art Mooney em Las Vegas, onde chamou a
atenção de Frank Sinatra, amigo de Jilly Rizzo, proprietário do clube “Jilly’s” de New York. Foi o passo imediato para ingressar no
“Jilly’s” acompanhando Sinatra e outros músicos.
Alí conheceu os integrantes do “Modern
Jazz Quartet”, em particular o vibrafonista Milt Jackson que o apresentou ao
baixista Ray Brown; com esses 02 ícones MONTY viria a atuar e a gravar mais adiante e vezes sem conta.
Em
seguida à sua atuação no “Jilly’s” passou a tocar no “Playboy Club” de New
York, ao lado de Les Spann, alí permanecendo por 02 anos.
Gravou
para a “World Pacific Records” os álbuns “Alexander The Great” e “Spunky”.
Atuou
em trio por uma temporada no “Playboy Club” de Los Angeles, ao lado de Victor
Gaskin (contrabaixo) e Paul Humphrey (bateria).
Atuou
também com Ray Brown e com Milt Jackson, com quem tocou seguidamente e gravou
ao vivo no “Shelly’s Manne Hole” (Hollywood, Califórnia) em 01 e 02 de agosto
de 1969 para o selo “Impulse”, devidamente escoltados por Teddy Edwards no
sax-tenor e Dick Berg à bateria. Foram
gravados 06 temas entre os quais o magnífico “Here’s That Rainy Day” da dupla
Johnny Burke e Jimmy Van Heusen, que MONTY
/ Ray Brown / Milt Jackson voltariam a apresentar e gravar ao vivo no “Jazz In
Montreux” de 1977, ao lado dos trumpetistas Dizzy Gillespie (então líder do
sexteto) e Jonathan “Jon” Faddis, mais o baterista Jimmy Smith. Nesse “Montreux” o sexteto apresentou um
“medley” com os temas “Once In A While” (solo de Gillespie), “But Beatiful” (maravilhoso,
antológico solo de Milt Jackson) e “Here’s That Rainy Day” (solo de Jon
Faddis); felizmente essa espetacular
apresentação ficou perpetuada em DVD dentro da série “Norman Granz Jazz In
Montreux”.
Aconselhado pelo grande Oscar Peterson o produtor Don
Schlitten do selo “MPS” interessa-se por MONTY
e o contrata. Aqui um parênteses já que
vale lembrar que o produtor americano Don Schlitten havia fundado anteriormente
em conjunto com Harold Goldberg e Julles Colomby o selo “Signal Records”
(gravou Gigi Grice, Duke Jordan e Red Rodney até o final da década de 1950,
quando vendeu a marca para a “Savoy Records”), passando Schlitten a trabalhar
como “free” para selos como “Prestige Records”; fundou o selo “Cobblestone Records” com Joe
Fields em 1972 (gravou Sonny Stitt e as
apresentações do “Newport Festival” de 1972), depois atuou para as
etiquetas “Muse Records” e “Onyx Records” e, ainda, fundou a etiqueta “Xanadu
Records” (gravou Barry Harris, Al Cohn, Charles McPherson e muitos mais).
No ano de 1974 MONTY
realiza temporadas pelos U.S.A. e em abril de 1975 sua primeira incursão
européia, iniciada em Londres nada menos que no “Ronnie Scott’s".
A partir de então o jamaicano instala-se na plataforma
onde mais se destaca, seja nas
apresentações em clubes, em concertos e em gravações: o trio com piano / baixo / bateria ou
guitarra. Herb Ellis e Ray Brown são seus
parceiros nessa formação, assim como vez por outra Mads Vinding no baixo e Ed
Thigpen à bateria.
MONTY não deixa de atuar em diversos contextos (metais,
solo, quarteto, quinteto), ou de contracenar em trio com Reggie Johnson, Robert
Thomas Jr. (percussão), Eugene “Gene” Wright, Emily Remler, Paul Werner (baixo),
Steve Williams e outros.
A inclinação de MONTY
pela fórmula “trio” é marcante, até mesmo por suas claras influências ancoradas
em Oscar Peterson (durante muitos anos MONTY
foi considerado o “novo Peterson” pelas semelhanças de timbre e fraseado o que,
convenhamos, não é pouco, tendo trabalhado com diversos acompanhantes do
canadense, como Herb Ellis, Ray Brown e Ed Thigpen, por exemplos) e em Ahmad
Jamal; ainda mais, seu pianismo
transita por Art Tatum, Wynton Kelly e Nat “King” Cole.
Gravou
e atuou com inúmeros músicos e artistas ligados ao JAZZ, entre outros Frank Sinatra, Ray Brown, Dizzy Gillespie, Sonny
Rollins, Clark Terry, Quincy Jones, Ernest Ranglin, Barbara Hendricks, Sly
Dunbar, Robbie Shakespeare e muitos mais, assim como atuou e gravou em inúmeros
gêneros, formações e estilos, citando-se como exemplos seu acompanhamento a
Natalie Cole no álbum “Unforgetable” (07 Grammy’s) em tributo ao pai Nat “King”
Cole, sua atuação em “Rhapsody In Blue” de Gershwin sob a direção de Bobby
McFerrin e sua atuação na trilha sonora do clássico longa-metragem “Bird”, sob
o comando de Clint Eastwwod.
Em
agosto de 2000 MONTY foi agraciado
pelo governo jamaicano como “Commander” da “Order Of Distinction” por seus
relevantes serviços de embaixador musical por todo o mundo.
MONTY tem mantido rigorosa e intensa
programação de apresentações em clubes de JAZZ,
em salas de concertos, em gravações (cerca de 06 dúzias de álbuns nos mais
diversos e importantes selos) e em participações em festivais de JAZZ
(Montreux, África do Sul, Japão, Austrália e outros).
Em 2008 MONTY foi convidado por Wynton Marsalis para a produção e a
direção, dentro do “Jazz At Lincoln
Center”, do programa “Lords Of The West Indies” transmitido nacionalmente pela
“BETJ”.
Em 2009 e novamente pelo “Jazz At Lincoln
Center” um novo programa por MONTY,
“Harlem Kingston Express”, mostrando as interações entre o JAZZ clássico com os ritmos jamaicanos.
No ano de 2011 MONTY teve lançadas 02 coletâneas de suas apresentações ao vivo por
todo o mundo: “Uplift” pela “JLP
Records” e “Harlem-Kingston Express” pelo selo “Motema Music”.
Com todas as numerosas influências
arrebanhadas por MONTY, que soube aproveitar muito bem e amadurecer em estilo próprio, ele sempre nos
brinda com uma música de alta qualidade, agradável, plena de “swing”, alguns
toques caribenhos, total domínio nos acordes blocados e um “colorido” bem
especial.
É longa a
discografia de MONTY ALEXANDER, como
já citado cerca de 06 dúzias, e alguns dos títulos dessas muitas gravações
são: “Uplift”,
“Harlem-Kingston Express Live”, “Monty Alexander”, “Straight Ahead”, “Stir It
Up: Music Of Bob Marley”, “Impressions
In Blue”, “Calypso Blues: Songs Of Nat
King Cole”, “Steaming Hot”, “Ray Brown / Monty Alexander / Russell Malone”,
“Live At Iridium”, “Goin Yard”, “The Good Life:
Monty Alexander Plays The Songs Of Tony Bennett”, “Rocksteady”,
“Alexander The Great !”, “Echoes Of Jilly’s”, “Monty Meets Sly & Robie”,
“The Paris Concert”, “Solo”, “Soul Fusion”, “Ballad Essentials”, “Caribbean
Circle”, “Monty Alexander’s Ivory & Steel / Island Grooves” e “Yard
Movement”.
Dentre esses e tantos outros títulos são
destaques:
- “Montreux
Alexander Live !”, que nos presenteia MONTY com John Clayton no baixo e Jeff Hamilton na bateria (então
futuros acompanhantes da canadense Diana Krall), gravado ao vivo em 10 de junho
de 1976 e para o selo “MPS” (no qual ingressou por indicação de Oscar Peterson
para o produtor Don Sclitten), em que os temas “Nite Mist Blues” de Ahmad Jamal
e o tradicional e de domínio público “Battle Hymn Of The Republic” (uma
“pérola” em diversos andamentos) receberam tratamento de verdadeiros estudos de
“JAZZ-piano”;
- “Soul
Fusion”, gravação pelo selo “Pablo” em 01 e 02 de junho de 1977,
atuando MONTY ao lado de Milt
Jackson no vibrafone, John Clayton no baixo e Jeff Hamilton à bateria, com
destaque para o magnífico tema “Compassion” de Milt Jackson, novamente gravado
por MONTY em 30 de novembro de 1985
em Milão, no álbum “Threesome” para o selo “Soul Note”, desta feita comandando
trio com Niels-Heening Ørsted Pedersen no baixo e Grady Tate à bateria e vocal;
- “Facets”
para o selo “Concord” em 1980, com MONTY
ao lado de Ray Brown no baixo e de Jeff Hamilton na bateria, com destaque para o tema de Louis
Lambert “When Johnny Comes Marching Home”, repleto de citações à “Gerra da
Secessão” e em diversos andamentos.
- “Overseas
Special” gravado ao vivo no “Satin Doll Club” em março de 1982 para o
selo “Concord”, com MONTY ao lado de
Ray Brown no baixo e de Herb Ellis na guitarra, presenteando-nos com 06 temas
em longas execuções e destaque para os clássicos “But Not For Me” de Gershwin e
“C.C.Rider” da grande Gertrude “Ma” Raney;
- “Duke
Ellington Songbook”, selo “MPS” gravado em 29 de março de 1983, com MONTY ao lado de John Clayton no baixo,
com destaque para o clássico “Sophisticated Lady” de Ellington / Irving Mills /
M.Parish;
- “The
River” gravado em outubro de 1985 em Maryland para o selo “Concord”, ao
lado de John Clayton no baixo e de Ed Thigpen na bateria; nesse álbum MONTY gravou 10 temas que acostumou-se a ouvir e a tocar em sua
terra natal, Jamaica, em reuniões familiares e como tradição religiosa, como
“Stand Up, Stand Up For Jesus”, “Ave Maria” (a de Franz Schubert), “What A
Friend We have In Jesus” e outros, incluindo de sua autoria o tema “The
Serpent”;
- “Full
Steam Ahead” com 09 temas tomados em 1985 para o selo “Concord”,
trazendo-nos MONTY ao lado de Ray
Brown no baixo e de Frank Gant na bateria;
foram gravadas verdadeiras jóias de desempenho do trio e desfile de
hiper-clássicos, tais como “Freddie Freeloader” (Miles Davis), “Once I Loved”
(Tom Jobim), “Ray’s Idea” (Ray Brown), “Happy Talk” (Rodgers &
Hammerstein), “Hy-Fly” (um pérola de Randy Weston anteriormente imortalizada por Dexter Gordon no LP “Gotham
City”) e muito mais;
- “Steamin”
“ gravado em 14 e 15 de setembro de 1994 para o selo “Concord”, sendo MONTY coadjuvado por Ira Coleman no
baixo e Dion Parson na bateria, com 13 temas e destaque para o clássico de
Nikolaus Brodsky e Sammy Cahn “I’ll Never Stop Loving You”;
- “Echoes
Of Jilly’s” gravado em 20 e 21 de dezembro de 1996 para o selo
“Concord”, ao lado de John Patitucci no baixo e de Troy Davis na bateria, com
13 temas em que MONTY recorda seus
tempos no “Jilly’s” onde foi “descoberto” por Frank Sinatra, ao qual agradece
no texto do encarte, de sua autoria.
MONTY
pode ser apreciado em alguns DVD’s, tais como o já citado “Jazz In Montreux” de
1977, tendo MONTY ao lado dos
trumpetistas Dizzy Gillespie e Jon Faddis, mais Milt Jackson no vibrafone, Ray
Brown no baixo e Jimmy Smith na bateria e, também, no DVD da “EMI” “Barbara
Hendricks – A Tribute To Duke Ellington”, comandando trio com Ira Coleman no
baixo e Ed Thigpen na bateria, em gravação tomada ao vivo durante o “Montreux
Jazz Festival” de 1994 (dias 17 e 18 de agosto); durante cerca de 01 hora 08 temas do
repertório de Ellington são tributados com classe, elegância, bom gosto e muito
JAZZ.
Prosseguiremos
nos próximos dias
Um comentário:
Um dos meus preferidos e aqui toda sua história, muito legal.
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