Uma nova estrela em
matéria de vocalese
Nascida na Rússia, Angelica Matveeva lança CD em selo
próprio
Por Luiz Orlando Carneiro
Há muita gente boa que ainda confunde vocalese com scat
singing. Ou com vocalização sem palavras. Mas é preciso esclarecer que nem toda
performance de um(a) vocalista em que não há letras (lyrics, em inglês) deve
ser chamada de vocalese ou de scat singing (improvisação vocal onamotopaica de
que foram mestres Louis Armstrong, Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan).
O vocalese, no jazz, consiste em acrescentar (e cantar)
letras (versos) em solos instrumentais previamente gravados que ficaram
famosos. Foi a forma de expressão que teve como pioneiros os vocalistas da era
do bebop King Pleasure, Eddie Jefferson e Jon Hendricks. Foram eles - mais o
saxofonista-tenor James Moody - que também inspiraram conjuntos vocais
posteriores de muito sucesso, como o Manhattan Transfer.
Isto posto, registre-se o lançamento recente do cativante CD
intitulado Vocalese (Chan Puma), da cantora Angelica Matveeva, 29 anos, nascida
em Moscou, mas já há algum tempo radicada na Finlândia, onde é dona da editora
Chan Puma House. O álbum - o terceiro da vocalista - contem oito faixas, das
quais quatro são interpretações de peças de vocalese já existentes, e as outras
tantas têm as letras escritas (sempre em cima de solos de jazzmen) pela própria
líder do conjunto integrado pelos instrumentistas europeus Manuel Dunkel (sax
tenor), Jukka Eskola (trompete), Fabio Giachino (piano), Davide Liberti (baixo)
e Ruben Bellavia (bateria).
As faixas em que Angelica Matveeva
recria - com sua voz potente e excitante - jazz originals de "repercussão
geral reconhecida" são as seguintes: Moody's mood for love, com as lyrics
de Eddie Jefferson em cima do solo de James Moody gravado na Suécia, em 1949, a partir do tema de
I'm in the mood for love; Joy spring, baseado no vocalese que Jon Hendricks fez
do solo de Clifford Brown (1930-1956) sobre o tema do próprio
trompetista;Scrapple from the apple, a célebre composição de Charlie Parker,
vocalizada em cima dos solos de Parker e de Miles Davis no registro original da
Dial, de 1947; Good bye pork pie hat, aquela pungente peça de Charles Mingus em
memória de Lester Young, com letra de Joni Mitchell escrita para o solo de John
Handy (sax alto), na gravação original de 1959.
Angelica, por sua vez, escreveu lyrics para solos do
trompetista italiano Franco Ambrosetti numa versão de Yes or no, tema de Wayne
Shorter; do próprio saxofonista Shorter em Ping pong, também de sua lavra; de
Clifford Brown e do sax alto Lou Donaldson numa versão da muito conhecida
melodia de You go to my head.
Uma mostra da arte de Angelica Matveeva tal qual registrada
no CD Vocalese pode ser ouvida no teaser de 3m48 disponível na SoundCloud
(https://soundcloud.com/angelicamatveeva). Ou no site da Chan Puma House
(www.chanpuma.com).
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