As "composições instantâneas" de Jean-Michel Pilc
por Luiz Orlando Carneiro
Nascido na França, há 54 anos, o pianista Jean-Michel Pilc
fixou-se em Nova York
em 1995. À frente de um trio integrado por François Moutin (baixo) e Ari Hoenig
(bateria), cativou a crítica especializada com os dois álbuns intitulados
Together, gravados ao vivo no antigo Sweet Basil, em 1999, e lançados em 2000 e
2001, respectivamente. Na mesma época, a Dreyfus francesa editou o CD Welcome
home, no qual Pilc exibiu a intensidade de sua intuição criativa – além de uma
técnica assombrosa, digna de um Martial Solal – na reinterpretação de cânones
sagrados do jazz moderno como So what (Miles Davis), Rhythm-a-ning (Thelonious
Monk) e Giant steps (John Coltrane).
Em 2011,
a etiqueta Motéma registrou, em Essential, duas
apresentações de Pilc, solo, na sala de recitais mantida pelos fabricantes dos
pianos Fazioli em Rahway, New Jersey. Ao todo, 18 faixas, com incríveis
reinvenções (“recomposições improvisadas”) de temas batidos como Take the “A”
Train, Someday my prince will come, Mack the knife, além de uma valsa de
Chopin. E também seis breves estudos (études-tableaux) da lavra do virtuose do
piano.
Agora, neste ínicio de ano, Jean-Michel Pilc reaparece num
álbum solo da Sunnyside ainda mais extraordinário. Trata-se de What is thing
called?, uma série de 31 variações (“composições instantâneas” como ele prefere
chamar) direta ou vagamente inspiradas nos contornos melódicos e/ou na
configuração harmônica de What is this thing called love?, de Cole Porter, um
dos 10 mais tocados e ouvidos jazz standards de todos os tempos.
As 31 faixas foram selecionadas pelo pianista ao fim de três
dias de gravações totalmente livres e espaçadas, num Yamaha CFX, no estúdio
exclusivo da Yamaha Artist Services, em Nova York. Estas
variações foram registradas no CD sem ordem cronológica e sem qualquer
preocupação de constituírem uma espécie de suíte. Todas elas receberam títulos.
Desde as mais breves ou brevíssimas, como Run (0:43),Quick (0:34) ou Dance
(0:38), até as mais longas, como Cole (4m), Prelude (5m20) ou Now you know what
love is (6m35).
Mas todas as “composições instantâneas” de Pilc têm alguma
relação com o tema What is this thing called love?, estivesse ele pensando
também, dependendo do momento, em Bach ou James P. Johnson, em Schubert ou
Keith Jarrett, em
Martial Solal ou Mozart.
A propósito, ele até interpreta (é a segunda faixa do
disco), em tempo lento, de modo bem explícito, o tema-base de Cole Porter. Mas
a faixa não dura mais de 1m17.
As notas de apresentação do novo álbum do pianista destacam
– com razão e sem exagero – que se trata de “uma incrível (amazing) coleção de
improvisações construídas em torno de uma única fonte musical”, sendo
“espantoso (astonishing) ouvir a variedade de sons,moods, e texturas que
emergem do mesmo material básico”.
O crítico de jazz do Los Angeles Times Don Heckman– que
também já foi músico profissional – serviu-se da pintura para sublinhar
aspectos da arte pianística de Pilc: “Interpretações cubistas da melodia, nas
quais o original é transfigurado numa perspectiva visual completamente
diferente; a cintilante densidade do impressionismo em algumas de suas ricas
harmonias”.
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