ALGUMAS POUCAS LINHAS SOBRE A
GUITARRA E OS GUITARRISTAS - 33
Lloyd Tiny
Grimes, TINY GRIMES, guitarrista
norte-americano, nasceu na cidade de Newport News, estado da Virgínia no leste
americano e denominado “Old Dominion" e/ou “Mother of Presidents"(cuja
capital é Richmond e abrange mais 134 cidades, entre as quais e mais conhecidas
são Gloucester, Madison, Chester, Fairfax, Norfolk, Lexington e Bedford), no
dia 07 de julho de 1916, vindo a falecer aos 72 anos, vítima de meningites, em
New York e no dia 04 de março de 1989.
Iniciou-se na
música pela bateria que tocou nos grupos escolares, mas com 19 anos e em
Washington decolou profissionalmente como pianista, até completar 22 anos.
No ano de 1938
passou a residir em New York e a tocar e dançar no “Rhythm Club”.
Aprendeu a
guitarra de forma auto-didata para, em 1940, integrar o grupo “Cats And A
Fiddle” (Austin Powell / guitarra, George Steinbeck / baixo e Ernie Price /
ulelelê), inspirado no grupo “Ink Spots”.
Suas primeiras,
posteriores, contínuas e grandes influências foram Oscar Moore (do trio de Nat
“King” Cole) e Charlie Christian.
Em 1941 e na
Califórnia conheceu o grande Art Tatum em uma “jam-session” e, como nada
acontece por acaso, o pianista convidou-o a unir-se a ele e ao baixista Slam
Stewart; impossível para GRIMES melhor oportunidade, tanto que o
trio assim formado permaneceu “na estrada” até 1944, tornando-se mais que
histórico, emblemático para esse tipo de formação.
As gravações do
trio ou acompanhados (durante a permanência do trio Tatum / GRIMES / Slam ou em 1945) passam a
somar dezenas de obras primas, sendo válido indicar para os aficcionados o
estojo “Memories Of You” do selo “Black Lion”, tendo Art Tatum como líder.
São 03 CD’s: (01) “The V-Discs” com 14 faixas, Tatum / GRIMES / Slam este substituído por
Oscar Pettiford no contrabaixo em algumas faixas e mais “Big” Sid Catlett à
bateria no clássico “Sweet Lorraine”,
(02) “Standards” com 25 faixas em piano-solo de Tatum e (03)
“Tea For Two” com 20 faixas, Tatum / GRIMES
/ Slam com acompanhamentos do quilate de Roy Eldridge, Charlie Shavers, Vic
Dickenson, Benny Morton, Ben Webster e Edmond Hall. É item obrigatório para jazzófilos e
apreciadores da QUALIDADE.
No final de
1944 GRIMES retornou a New York e
montou seu próprio, grupo, o “Tiny ‘Mac’ Grimes and the Rocking Highlanders”,
que rapidamente tornou-se atração importante na “Rua 52” (“a rua que nunca
dorme”, como era conhecida e sobre a qual escrevemos mais adiante).
Ainda em 1944 e
sob a denominação de “Tiny Grimes Quintet”, GRIMES tem a oportunidade de entrar para a história do JAZZ, ao gravar para a etiqueta “Savoy”
em companhia de Charlie Parker, no dia 15 de setembro e ns “Estúdios WOR”, de
New York. Nessa ocasião o quinteto
formou com Parker / sax.alto, Clyde Hart / piano, GRIMES / guitarra, Jimmy Butts / baixo e Harold “Doc” West /
bateria. Foi a primeira gravação de
Parker em “combo” (anteriormente suas gravações ocorreram no contexto das “big
bands” de Jay McShann e de Billy Eckstine).
Foram registradas as faixas “Tiny’s Tempo” (03 tomadas), “I’ll Always
Love You Just The Same” (03 tomadas), “Romance Without Finance” (05 tomadas) e
“Red Cross” (02 tomadas).
No ano seguinte
e em 22 de setembro, GRIMES voltou a
atuar ao lado de Parker em uma “Symphony Sid Session And Dance” no “Fraternal
ClubHouse”, em show que contou com Buck Clayton, Dexter Gordon, Al Killian, Al
Haig, Billy Taylor e Trummy Young, entre outros. Esse tipo de show era promovido pelo
apresentador Symphony Sid.
Em janeiro de
1946 GRIMES integrou as gravações do
“Metronome All Stars”, constituído pelos músicos vencedores da enquete de 1945
e promovida pela revista “Metronome”.
Aqui abrimos um
parênteses para focar um pouco sobre a “rua que nunca dorme”, a famosa e sempre
citada “Rua 52”.
Um pouco distante do Harlem a “Rua 52”, no quarteirão entre as 5ª e 6ª
Avenidas, era formada por um conjunto de prédios datados do início do século XX,
de 04 pavimentos e com fachadas revestidas de azulejos marrons (esses prédios
eram “colados” lateralmente). Quando de
sua construção cada um desses prédios
pertencia a uma das famílias influentes da cidade, mas uma certa deterioração
desde o final dos anos 30 era evidente, com problemas permanentes nas
instalações elétricas, canalizações de água, de esgoto e demais
instalações. Os prédios passaram a
abrigar estúdios fotográficos, agências de detetives particulares, salões de
dança, ateliês de cartazistas, escritórios de importação / exportação e
outros. Foi aí que os “clubs” se
instalaram imediatamente antes e durante os anos da IIª Guerra Mundial. De dia a “Rua” parecia sombria, mas as
noites eram plenas de JAZZ, reunindo simultaneamente e espalhados nas diversas casas noturnas nomes
como Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Coleman Hawkins, Art Tatum, Sidney Bechet,
Bobby Hackett, Zutty Singleton, Max
Roach, Kenny Clarke, TINY GRIMES, Red Norvo, Howard McGhee, Thomas “Fats”
Waller e tantos e tantos outros.
Na “Rua 52” a quantidade e a
proximidade relativa das casas noturnas era impressionante e, além do mais e em
endereços praticamente vizinhos
(Broadway e Rua 48), outras casas noturnas transformaram a região em roteiro
obrigatório para os apreciadores da “Arte Popular Maior” do JAZZ.
Senão, vejamos:
C l u b e
|
E n d e r e ç o
|
P e r í o d o
|
Famous Door
|
35W 52nd Street
|
1935-1936
|
|
66W 52nd Street
|
1937-1943
|
|
201W 52nd Street
|
1943-1944
|
|
56W 52nd Street
|
1947-1950
|
Kelly’s Stable
|
137W 52nd Street
|
1940-1947
|
Downbeat
|
66W 52nd Street
|
1944-1948
|
Samoa
|
62W 52nd Street
|
1940-1943
|
Onix
|
35W 52nd Street
|
1927-1934
|
|
72W 52nd Street
|
1934-1937
|
|
62W 52nd Street
|
1937-1939
|
|
57W 52nd Street
|
1942-1949
|
Tony’s
|
59W 52nd Street
|
1934-1950
|
Yacht
|
38W 52nd Street
|
1934-1938
|
|
150W 52nd Street
|
1938-1944
|
|
66W 52nd Street
|
1944
|
Hickory
|
144W 52nd Street
|
1933-1968
|
Flamingo
|
38W 52nd Street
(*)
|
1938-1954
|
Spotlite
|
56W 52nd Street
|
1944-1946
|
Three Deuces
|
72W 52nd Street
|
1937-1950
|
21 Club
|
21W 52nd Street
(*)
|
1932
|
Leon & Eddie’s
|
33W 52nd Street (*)
|
1934-1954
|
Jimmy Ryan’s
|
53W 52nd Street
|
1940-1962
|
Birdland
|
1678 Broadway
|
1949-1967
|
Royal Roost
|
1574 Broadway
|
1948-1953
|
Ebony
|
1678 Broadway
|
1944-1948
|
The Clique
|
1678 Broadway
|
1948-1949
|
Bandbox
|
1680 Broadway
|
1953
|
Bop City
|
1619 Braodway
|
1948-1950
|
Cotton Club DT
|
200W 48th
Street
|
1936-1940
|
(*) Casas
noturnas não essencialmente de JAZZ
|
Se
forem observados os endereços anteriores, nota-se que quase na mesma época 08
“clubs” defrontavam-se na “Rua 52” entre
a 5ª e a 6ª Avenidas:
- no lado ímpar 21 Club (21W), Leon & Eddie’s (33W), Jimmy Rian’s (53W) e Ônix
(57W);
- na calçada par ladeavam-se o Spotlite
(56W), o Samoa (62W), seguindo-se o Downbeat (66W) e o Three Deuces (72W).
No
Norte da ilha (Manhattan, acima do Central Park North, no Harlem e
proximidades), localizavam-se os demais endereços de destaque, para o JAZZ e no circuito de espetáculos: Sugar Hill, Connie’s Inn (ao lado do
Lafayette Theater), Savoy Ballroom (no 596 da Lenox Avenue), Lenox Club (na Rua
135, que funcionava das 23.00 às 07.00hs e era ponto regular para “jam-sessions”), Cotton Club (no 644 da Lenox
Avenue), o Apollo Theater (na Rua 125) e, claro, o Minton’s Playhouse (210W 118th
Street, entre as 7ª e 8ª Avenidas).
O Minton’s
Playhouse abriu suas portas em 1938 (Henry Minton, um ex-saxtenorista era o
proprietário), tendo como Gerente a partir de 1940 um ex-bandleader, Teddy
Hill. Era habitual que as estrelas do
vizinho Apollo Theater, após o espetáculo, fossem jantar no Minton’s, cujos
pontos fortes, além da música, eram a cozinha à base de frango frito com
vegetais da estação e a dose gratuita de whiskey. É ponto histórico pacífico que esse foi o
berço e a primeira infância do “Bebop”.
Fechamos esse
parênteses, com GRIMES seguindo para
Cleveland em 1957, onde se estabeleceu e a partir de onde já havia realizado
numerosas temporadas de 1951 e até 1955,
para depois radicar-se na Filadélfia.
Em 1959 GRIMES gravou para o selo “Swingville”
com Coleman Hawkins, Charlie Shavers, Ray Bryant, George Duvivier e Osie
Johnson, com destaque para o tema “Hawk Eyes”, que deu título ao álbum.
No início dos
anos de 1960 GRIMES retornou a New
York, atuando regularmente em clubes do Harlem e de Greenwich Village.
Realizou
temporadas na Europa: em 1968 com Milt
Buckner, com grande êxito de público e de crítica principalmente em Paris, e em
1970 com Jay McShann.
GRIMES foi acompanhante em clubes, em
temporadas e em gravações, de vários músicos excelentes, entre os quais podem
ser destacados Buck Clayton, Coleman Hawkins, Jerry Valentine, Ike Quebec, Earl
Bostic, Cozy Cole e “Lady Day”, claro Billie Holiday.
GRIMES utilizava uma guitarra tenor de 04
cordas, instrumento típico para banjoistas em transição para a guitarra, com
muito “swing” e bastante vigor e tal como suas primeiras influências (Charlie
Christian e Oscar Moore), com um fraseado muito equilibrado, sóbrio e
extremamente musical.. Foi um
excepcional acompanhante, como um metrônomo preciso, imutável, ágil e vigoroso.
Ainda assim seu estilo nos lembra Lonnie Johnson e Eddie Lang.
Podemos destacar
como algumas de suas principais gravações, além das citadas ao longo dessas
notas:
- “Tiny’s Tempo” (com Art Tatum), 1944;
- “Body
And Soul”, 1944;
- “Flying
Home”, 1944;
- “Marchin’
Along” (com Coleman Hawkins), 1958;
- “Blues
Wail”, 1958;
- “Frank
And Johnny Boogie”, 1970;
- “Lloyd
And Lloyd Boogie” (com Lloyd Glenn), 1974;
- “Romance
Without Finance”, 1977.
O falecimento
de GRIMES em 1989 privou-nos de um
músico excelente, mas que nos legou discografia de qualidade, seja como líder,
seja como “sideman”.
Retornaremos à
guitarra e aos guitarristas em próximo artigo.
apostolojazz@uol.com.br
Um comentário:
Prezado Pedro, excelente a resenha sobre Grimes e principalmente o adendo
sobre a “rua que nunca dorme”. Abração
Postar um comentário