Correndo atrás do meu atraso. Sorry, Mestre!
Melissa Aldana, a nova estrela do sax tenor
por Luiz Orlando Carneiro
"No ano passado (21/9/2013), esta coluna registrou a vitória
da saxofonista chilena Melissa Aldana, então com 24 anos, na competição anual
do Thelonious Monk Institute of Jazz – o mais importante concurso aberto a
jovens músicos de talento, em busca de renome. O vencedor recebe um
prêmio-bolsa de US$ 25 mil, mais um contrato de gravação com o selo Concord.
A especialista no sax tenor - nascida em Santiago, e formada
no Berklee College of Music de Boston - foi a primeira mulher-instrumentista a
ganhar o cobiçado prêmio, lançado há 27 anos. E o seu feito valorizou-se mais
ainda em face da relevância dos jurados: os eminentes Wayne Shorter, Jimmy
Heath, Bobby Watson, Branford Marsalis e Jane Ira Bloom. Vale anotar que o seu
pai, Marcos Aldana, também saxofonista tenor, participou da Thelonious Monk
Competition em 1991, e foi um dos três semifinalistas do concurso.
Pois bem. A Concord Jazz vem de lançar o CD Melissa Aldana
& Crash Trio, o terceiro e mais significativo de uma discografia iniciada
na etiqueta Inner Circle (Free fall, 2010, e Second cycle, 2012), sob os
auspícios do influente saxofonista Greg Osby, que foi professor de Melissa.
Agora, no comando do Crash Trio, ela dá um show de
autoconfiança e de domínio técnico do sax tenor, sem esconder sua devoção ao
patriarca Sonny Rollins, e sua confessa admiração por Michael Brecker
(1949-2007) e pelo também magistral Mark Turner (que tem o dobro da sua idade).
Os companheiros de Melissa na nova empreitada são o seu
compatriota Pablo Menares (contrabaixo) e o cubano Francisco Mela (bateria),
cuja cotação na cena jazzística subiu ainda mais quando passou a integrar o
quinteto US Five do grande saxofonista Joe Lovano, que gravou para a Blue Note
os álbuns Folk art (2009), Bird songs (2011) e Cross culture (2013).
Das 10 peças do disco da Concord, quatro são assinadas pela
líder, duas por Mela e outras tantas por Menares. A balada You're my everything
(5m05) e Ask me now (4m15), joia de Thelonious Monk, completam a seleção
temática.
As composições de Melissa são: M&M (4m55), um “cartão de
visitas” que realça o seu sopro seguro e encorpado, concluído com uma destemida
coda; Turning (5m40), de construção melódica sofisticada, mas sem overdressing,
à la Joshua Redman;
Bring him home (5m05), idem; New points (6m35), a faixa mais longa do CD,
levada num balanço meio bossa nova.
Pablo Menares contribui com Tirapié (6m05) - cuja abertura é
um solo de quase dois minutos do excelente baixista – e Perdón (4m15) – em
clima mais meditativo. O baterista Mela escreveu Peace, love & music (5m45)
– com referências rítmicas explícitas ao flamenco – e Dear Joe(3m55) – um dos
momentos mais animados da sessão.
Deve-se sublinhar que, apesar das origens nacionais de
Aldana, Menares e Mela, o envolvente Crash Trio não deve ser rotulado como um
conjunto que toca Latin jazz, muito embora o tempero rítmico caribenho ou
brasileiro seja acentuado, aqui e ali, pela seção rítmica superatuante, que
responde prontamente às provocações da saxofonista-líder, no mesmo nível de
excelência. É música previamente escrita e arranjada, mas desenvolvida
(improvisada) em action playing, sem o radicalismo do free jazz.
Na faixa final do álbum, Ask me now, Melissa Aldana dispensa
o apoio dos sidemen para uma brilhante recriação, totalmente a capella, da
inesquecível balada de Monk."
Nenhum comentário:
Postar um comentário