Republicação da sempre deliciosa coluna do Mestre LOC de sábado último, para quem não a leu o JB-Online
Duo Keith
Jarrett-Charlie Haden, 2º volume
por Luiz Orlando Carneiro
"Em março de 2007, o pianista Keith Jarrett participou, como
entrevistado, de um documentário sobre o contrabaixista Charlie Haden. Os dois
grandes músicos aproveitaram o reencontro para tocar um pouco em duo, bem à
vontade, no estúdio da casa de Jarrett, relembrando os tempos (década de 1970)
em que o pianista era patrão do baixista naquele memorável American Quartet
(Dewey Redman, sax tenor; Paul Motian, bateria).
O primeiro registro dessas sessões reservadas – que
felizmente foram gravadas – só foi lançado pela ECM, sob o título Jasmine, em
2010, por ocasião do 65 º aniversário do virtuose do teclado. Foi o 41º item
seguido da sua discografia para o selo de Manfred Eicher, desde Sun Bear Concerts,
uma série de concertos (solo) no Japão, em 1976, e que rendeu uma caixa de
cinco volumes.
As oito faixas de Jasmine (comentado nesta coluna em
13/6/2010) eram meditações musicais a partir de temática acessível,
transferidas para as teclas do piano e as cordas do baixo acústico pela
magnífica dupla. Dentre os
temas, destacavam-se Body and Soul, For All You Know, No Moon at All e Where
Can I Go Without You?.
Pois bem. No último dia 13, a ECM disponibilizou, nas
lojas virtuais, o segundo volume daquelas sessões intimistas de março de 2007.
O novo CD chama-se Last Dance, e é um pouco mais longo (74 minutos) do que
Jasmine (62 minutos). Tem também uma faixa a mais do que o primeiro volume,
embora haja a repetição - em takes só um pouquinho diferentes - de dois
standards muito tocantes e caros a Jarrett: Where Can I Go Without You? (Victor
Young/Peggy Lee) e Goodbye.
Mas quem se deliciou (e ainda se delicia) com os momentos
eminentemente melódicos, de profunda reflexão, de Jasmine não pode deixar de
adquirir (no todo ou em parte) a sequência daquele feliz tête-à-tête de dois
músicos extraordinários que extraem de seus instrumentos, num fluir contínuo, a
nota perfeita, o tom impecável.
Mas em termos de cardápio, Last Dance tem dois “pratos”
especiais para os jazzófilos: uma reinvenção muito original de Round Midnight
(9m30) – a célebre balada de Thelonious Monk – que leva Jarrett a aumentar o
volume daqueles seus espasmos meio vocais, meio nasais, que são um misto de
gozo e de aprovação; uma versão arrebatadora, bem bop, como não podia deixar de
ser, daquela obra-prima de Bud Powell chamada Dance of the Infidels (4m20).
Os velhos standards do Great American Songbook que são
objeto de culto da dupla neste segundo volume – além dos “retocados” acima
citados – são: My Old Flame (10m15); My Ship (9m35), de Kurt Weill; It Might as
Well Be Spring (11m50), de Richard Rogers; Everything Happens to Me (7m10),
aquela canção lançada por Tommy Dorsey e Frank Sinatra, na década de 1940;
Every Time We Say Goodbye (4m25), do eterno Cole Porter.
Como escreveu Victor Aaron, no site Something Else, é
irrelevante saber se o álbum Last Dance é, realmente, a “última dança” do par
Jarrett-Haden: “A importância de Last Dance, assim como de Jasmine, é que temos
o souvenir de um encontro de dois velhos amigos magistrais num momento em que
ambos estão ainda no topo de suas capacidades”."
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