Observamos aqui que a “Lei Seca” nos U.S.A. foi
editada em 16 de janeiro de 1919 (ratificada pela 18ª Emenda à Constituição),
entrou em vigor 01 ano depois, em 16 de
janeiro de 1920 durante o 2º mandato do 28º Presidente americano, Woodrow
Wilson, tendo sido abolida em 05 de dezembro de 1933 (21ª Emenda à Constituição),
durante o 1º mandato do 32º Presidente, Franklin Delano Roosevelt; vale dizer que a “Lei Seca” permaneceu em
vigor por praticamente 14 anos.
BILLY BAUER passou a apresentar-se em rádio do Bronx e adotou a
guitarra como seu instrumento, tendo como orientador o guitarrista Allan Reuss.
Formou e comandou um quarteto
utilizando guitarra com amplificação (estávamos no período de 1933 a 1936).
Atuou na banda de Jerry Wald em 1939 (somente a partir
de 1941 Wald assumiu certa constância e projeção enquanto “big band”, com
arranjos de Ray Conniff e Jerry Gray, chegando a gravar para os selos Decca,
Majestic e Columbia), assim como nas
formações de Dick Stabile (cujo tema de apresentação era o delicioso “Blue
Nocturne”, teve como uma de suas vocalistas Paula Kelly e que anos mais tarde
atuou no “The Dean Martin and Jerry Lewis Show”) e de Abe Lyman (que tinha como
prefixo e sufixo, respectivamente, “Califórnia, Here I Come” e “Moon River
América”, gravou para a Brunswick, para a Decca e para a marca Bluebird, na
realidade um selo “econômico” da RCA
- ao longo de sua permanência
teve, entre outros, músicos do calibre de
Carmen Cavallaro, Jake Garcia, Fred Ferguson, Bill Clark e Si Zentner).
Essas experiências iniciais permitiram a BAUER melhorar consideravelmente sua
técnica.
Em 1941 ingressou na orquestra de Carl Hoff (cuja importância praticamente limita-se ao fato de nela ter
atuado BILLY BAUER, onde gravou seu
primeiro solo para o selo “Okeh”).
Ao lado do magnífico “Flip” Phillips
formou novo conjunto, para incorporar-se seguidamente à banda de Woody Herman
de 1942 até 1946 (o “first herd” – o “primeiro rebanho” de Herman). Então já era músico reputado, sendo clara a
influência direta de Charles Christian.
Sempre em New York atuou com Benny Goodman,
com Jack Teagarden e em pequena formação com Chubby Jackson e Bill Harris.
Uniu-se ao famoso grupo experimental de
Lennie Tristano e Lee Konitz, uma das bases mais importantes para a
consolidação do “cool jazz”.
Aqui fazemos um parênteses para assinalar
que BILLY BAUER gravou em diversas
ocasiões com Charlie Parker, as primeiras delas em 13 e 20 de setembro de 1947
no “Estúdio Mutual” de New York e integrando os “All-Star Metronome Jazzmen” de
Barry Ulanov, formado na ocasião por Dizzy Gillespie (trumpete), Parker
(sax-alto), John LaPorta (clarinete), Lennie Tristano (piano), Ray Brown
(baixo), Max Roach (bateria) e, claro, BILLY
BAUER á guitarra.
Nesse mesmo ano e no mesmo local (com
transmissão radiofônica pela “U.S.Treasury”) o grupo de Barry Ulanov foi
ligeiramente modificado, com Fats Navarro substituindo Gillespie, incorporado
ao grupo Allen Eager (sax-tenor), além de alterações na “cozinha” =
Tommy Potter no baixo e Buddy Rich na bateria. Essa gravação / transmissão possui
incalculável valor jazzístico, já que contou, também, com a “divina” Sarah Vaughan em dois dos temas
executados.
Em 03 de janeiro de 1949 Billy BAUER voltou a gravar com Parker, desta
feita no “Estúdio da RCA” em New York, integrando os “Metronome All-Stars”
(vencedores da enquete de 1948 da revista “Metronome”, sendo certo que BILLY BAUER foi vencedor de diversas
outras enquetes posteriores, tanto dessa publicação quanto da concorrente “Down
Beat”), com uma formação verdadeiramente “all-stars”: Dizzy Gillespie, Fats Navarro e Miles Davis
nos trumpetes, J.J.Johnson e Kai Winding nos trombones, Parker, Buddy DeFranco,
Charlie Ventura e Ernie Cáceres às palhetas e uma “cozinha” com BILLY BAUER, Lennie Tristano, Eddie
Safranski e Shelly Mane.
Somente anos mais tarde, em 1954 e em uma
das últimas gravações de Charlie Parker, BILLY
BAUER gravou outra vez ao lado de “Bird”, no “Estúdio Fine Sounds” de New
York e para o selo VERVE, do produtor Norman Granz.
Fechado esse parênteses retornamos ao ano
de 1950, em que BILLY BAUER ministra
aulas no “New York Conservatory Of Modern Music” e a partir de 1953 passa a
atuar em diversos programas da rede radiofônica da NBC, assim como em
espetáculos da Broadway e para a televisão na banda de Bobby Byrne para o
“Steve Allen Show”.
No ano de 1958 junta-se a Benny Goodman, em
feliz reencontro para temporada européia na “Exposição de Bruxelas”.
De regresso a New York, em 1959 BAUER faz breve e brilhante temporada
ao lado de Lee Konitz no “Half Note”.
De 1961 até 1963 organizou formação própria
e apresentou-se em Long Island.
Passou a excursionar com o grupo “Ice
Capedes” (espetáculos sobre o gelo) para, em 1970, inaugurar sua própria escola
de guitarra em New York, onde organiza o “Guitar Players Club”.
No final de sua carreira BAUER apresentou-se no “JVC de 1997”, em tributo a Barney Kessel e a
Tal Farlow, liderando grupo ao lado de Jimmy Raney e do então iniciante Joe Satriani.
Escreveu alguns livros sobre seu
instrumento e sua técnica, destacando-se “Basic Guitar Studies” e sua
auto-biografia “Sideman”.
Já foi assinalado mas ampliamos o fato de
que BILLY BAUER tocou e gravou com muitos músicos “top” do JAZZ, tais como Charlie Parker, Lennie Tristano, Warne Marsh, Lee
Konitz, Miles Davis, J.J.Johnson, Flip Phillips, Jack Teagarden, Bobby Hackett,
Al Cohn, Woody Herman, Dizzy Gillespie e tantos e tantos outros.
Com sua guitarra foi músico inicialmente
filiado ao movimento “bebop”, mais pela presença e lógica influência de outros
músicos desse movimento, para identificar-se posterior e claramente ao “cool
jazz”, onde fincou âncora como um dos seus mais legítimos representantes.
Possuidor de técnica superior, BILLLY BAUER revela a influência do
notável pianista Lennie Tristano, do qual foi um dos mais importantes e
brilhantes alunos, desfilando em seus solos longas, sinuosas, complexas e
flutuantes linhas melódicas, com acordes dissonantes, uma sonoridade que podemos definir como “etérea”
e um fraseado muito refinado.
Como acompanhante é importante ouvi-lo na
seção rítmica da banda de Woody Herman, ao lado de Chubby Jackson no baixo e
Dave Tough na bateria (mais tarde Don Lamond), onde executa os acordes tal como
um pianista ou um naipe de metais.
Algumas das gravações em que podemos ouvir
a maestria de BILLY BAUER são:
- Blowin’Up A Storm, com a banda
de Woody Herman, de 1946;
- Igor, com a mesma banda e do
mesmo ano;
- Subconscious Lee, com Lennie
Tristano e Lee Konitz, de 1949
- Rebecca, com Lee Konitz, de
1950;
- Topsy
de 1956;
- The
Plectristde 1956;
- Blues
For Trombones, com J.J.Johnson e Kai Winding, de 1954;
- It’s
A Blue World, de 1956.
BILLY BAUER veio a falecer pouco antes de completar 90 anos, no
dia 24 de junho de 2005, mesmo mês e ano do falecimento da grande atriz Anne
Bancroft (lembra-se aqui o clássico “A Primeira Noite de Um Homem”, estrelado
por ela e Dustin Hofman).
Retornaremos à guitarra e aos guitarristas em próximo
artigo
apostolojazz@uol.com.br
4 comentários:
Mestre Apóstolo,
Bela e precisa resenha de Billy Bauer que, junto com Warne Marsh e Lee Konitz forma o trio dos "filhos escolásticos" de Tristano, a nosso ver "o pai do cool jazz".
Segue o excelente trabalho sobre s guitarristas que deixaram indeléveis seus nomes gravados na "Arte Maior".
Aproveito para desejar a vc. e aos seus uma Boa Páscoa.Outrossim, para os que aqui nos lêm e frequentam esse "cantinho do Jazz"
Abçs.
Nelson Reis
Prezado NELSON:
Paz, saúde, convívio familiar e muito JAZZ, são os votos com que retribuo os seus.
Abraços.
Que lindo esse meu avó!! Te amo.....
Ser amado por minha "primonétina" é um orgulho e uma alegria sem pares.
Postar um comentário