Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

WAYNE SHORTER: ACROBACIAS MUSICAIS SEM REDE DE PROTEÇÃO

26 fevereiro 2013

Coluna do Luiz Orlando Carneiro 
JB, 23 de fevereiro


Em junho de 2011, o quarteto do magnífico saxofonista-compositor Wayne Shorter eletrizou os jazzófilos que tiveram o privilégio de ouvi-lo no Festival BMW, realizado no eixo São Paulo-Rio. Escrevi então, neste JB, que “no mais requintado e criativo 'jazz combo' dos últimos 10 anos melodia, ritmo e harmonia se entrelaçam em linhas ao mesmo tempo distintas e convergentes, num inusitado processo de sístoles e diástoles”. E que se a voz do líder é preponderante, mestres Danilo Perez (piano), John Patitucci (baixo) e Brian Blade (bateria) são chamados a intervir no processo criativo com bravura, de maneira totalmente franca.
Reescrevo estas observações porque elas me voltam à mente depois de repetidas audições do recém-lançado CD Without a Net (Blue Note), que contém oito faixas gravadas durante aquele mesmo ano, numa tournée europeia, por esse grupo que se nivela, em termos de inventividade e de livre arbítrio, aos quartetos de Ornette Coleman e de John Coltrane do início da década de 1960. A nona faixa do disco, a mais longa, de 23 minutos, é uma peça na linha da Third Stream Music (vide Günther Schuller), com a participação do quinteto de sopros Imani Winds, tipicamente camerístico, nas partes escritas ou arranjadas “de cabeça”. Ou seja, o quarteto vira noneto em quase 2/3 da duração da peça, mas o sound of surprise que caracteriza o bom jazz e, em especial, a música de Shorter, é tão mágico que, a certa altura (7m18), um dos músicos não consegue se conter, e exclama: “Oh my God!”.

O novo álbum do quarteto de Shorter é o quarto, depois de Footprints Live! (2002), Alegria (2003) e Beyond the Sound Barrier (2005), estes três editados pela Verve. E o título Without a Net, ou seja, “sem rede de proteção”, é muito apropriado, pois os quatro jazzmen assumem todos os desafios e riscos inerentes à criação de uma música sem a habitual lógica das chords changes e da divisão de solos ou choruses a partir de um determinado tema, em geral na forma AAB (ponte)A. Aliás, o próprio ícone do jazz, que comemora 80 anos em agosto, disse em recente entrevista: “I'm not a composer, I'm a decomposer”.

Desde a primeira action playing de Without a Net, que é Orbits (4m45), tema escrito para o LP Miles Smiles (1967), daquele célebre quinteto modal de Miles Davis, as “decomposições” do saxofonista (mais no sax soprano do que no sax tenor) vão surgindo de maneira fragmentária. Às vezes, a partir de ostinatos sombrios do piano ou do baixo, em crescendos que chegam a cumes vertiginosos. Starry Night (8m45) abre com o piano de Perez, até os 2m30, insinuando-se então, em murmúrios, o contemplativo sax tenor do líder, que se torna mais e mais incisivo, num clima polirrítmico, até o zênite da faixa (lá pelos 6m), quando a bateria e o sax soprano promovem um exuberante final.

Wayne Shorter escreveu Plaza Real para o álbum Procession (1983), do grupo fusionista Weather Report, de Joe Zawinul. No novo disco, a melodia é inicialmente “decomposta” pelo tandem sax soprano-piano, e o quarteto é lava fervente em constante ebulição. S.S. Golden Mean (5m15) é outro momento fascinante dessa gravação ao vivo, na base do aqui e agora, com citações de Manteca (o tema Latin-bop de Dizzy Gillespie) e evoluções acrobáticas de Shorter no soprano. Myrrh (3m05) é a faixa mais curta do álbum, mas nem por isso menos hipnótica. Flying Down to Rio (12m45), tema de um filme de 1933 (!) da dupla Fred Astaire-Ginger Rogers, começa com um simples assovio de Shorter, mas logo depois o seu sax soprano “voa” por sobre a batucada de Blade e o piano percussivo de Perez.

Um comentário:

jazz como nós gostamos disse...

COISA HORROROSA DETESTEI ESTE DISCO ELE JA NÃO PRECISA ENTRA NO ESTUDIO DE GRAVAÇÃO PARA FAZER UMA GROSSA PORCARIA ... LAMENTAVEL.. DESDE DE JA RESPEITO A OPINIÃO DE TODOS POS GOSTO REALMENTE NÃO SE DISCUTE