Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

Made In Europe

14 setembro 2011

Há ainda preconceito quando surge um bom jazzista na Europa. Os mais tradicionalistas, que viveram intensamente o Be-Bop, encabeçam essa corrente de reacionários. Tudo bem que às vezes é uma questão de gosto pessoal. Isso não se discute. Mas o que se percebe é um nítido desprezo por tudo aquilo que possa alterar um conceito pré-estabelecido, supostamente definitivo, que não suporta qualquer tipo de reconstrução, seja rítmica ou harmônica. Os europeus têm hoje feito mais pelo jazz do que os próprios norte-americanos. E esse é o ponto. Se a idéia é manter o jazz como um gênero atuante, crescente e sempre estimulante, o papel do jazz europeu torna-se fundamental. Claro que os americanos são magníficos, até como os pais da matéria. Mas a sobrevivência do jazz passa por um horizonte bem mais aberto e abrangente. Os pianistas europeus, por exemplo, estão em momento exuberante, com um "approach" diferente, inovador. Nota-se o foco em fazer do instrumentista antes de tudo um arranjador. Exibir um tema, como proposto em versões clássicas, já não é suficiente. Pianistas como Stefano Bollani, Stefano Battaglia (Italia), Simon Nabatov (Rússia), Frank Chastenier (Alemanha), Stefan Karlsson ( Suécia) e Christian Jacob (França), só para citar alguns, criam uma linguagem das mais frescas e revigorantes. Essa é a razão de um Bollani sozinho ao piano lotar seus shows pelo mundo, até mesmo no Brasil. Alguma mágica? Não. Apenas a vontade consciente de desafiar ouvidos e mentes preguiçosas, que adoram permanecer numa zona de conforto. É provável que se diga que essa concepção tenha sido já desenvolvida por Herbie Hancock. Sim, uma verdade. Assim como alguns novos pianistas americanos já aderiram também a essa refrescante escola, como John Beasley, destaque absoluto de uma geração pouco ousada. Nosso grande Sá cita Eric Reed, Mehldau, Cyrus e Jarrett como os maiores. São competentes, sem dúvida. Mas caminham pelo perigoso atalho da previsibilidade. Pelo menos para mim, o último CD do Cyrus (Journeys) teve o mesmo efeito de um Lexotan. Ao contrário, "The Christian Jacob Trio Live In Japan" é um primor em originalidade, técnica e bom-gosto. Espero que o assunto provoque algumas análises no blog. E, quem sabe, traga outras avaliações e conceitos. Tomara. Ninguém é dono da verdade, muito menos no jazz.
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PS. Som na caixa: Too Close For Comfort (intencional, rs..) - The Christian Jacob Trio Live In Japan


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15 comentários:

JoFlavio disse...

Aliás, nosso grande Sá pode falar de cadeira sofre o Jacob. Ele viu o mesmo trio em ação com a cantora Tierney Sutton.E Hélio Alves me disse que teve aula com Jacob na Berklee. Segundo ele, o francês é realmente um craque. Bene-X estava ao meu lado quando Helio falou isso depois de um show do CJUB.

Bene-X disse...

Welcome back, our dear Ambassador !

E voltando em grande estilo ! Parabéns e abs !

SAZZ disse...

Grandíssimo e sumido xará, que boa surpresa o seu retorno as "lides", será pelo clássico q se avisinha e pode ser definitivo tanto para o meu Fla como para o seu favorito Fogão...
Mas vamos ao q aqui fala mais alto a musica, primeiro para dizer que de fato os cd's do Cyrus como já mencionei são bem irregulares alguns até dignos de um ... mas outros de fazer arrepiar os pêlos do cu, como por exemplo o duo com o Reed de 2010 "ao vivo no Dizzy's" ou o com o Manhattan Trinity em homenagem ao Mancini.
Enfim é questão de ouvido, de dentro ou de fora como dizia nosso primeiro grande maestro.
Quanto aos pianistas realmente o Jacob é um craque como outros não citados fora da esfera norte americana, Enrico Pieranunzi, o argentino Adrian Iaies ou a japonezinha elétrica Hiromi,entre outos para não me alongar demais.
Bola dentro vou atras dessa sua dica na certeza de q vou gostar...

Abs,

Mario disse...

Conheci Christian Jacob pelo computador, fazendo contatos pela BBS, que foi predecessora da Internet. NAquele tempo a velocidade era muito baixa e os pacotes tinham que ser bem pequenos. Não podiamos enviar fotos, quanto mais vídeos, mas a música em arquivos midi ocupavam pouco espaço, e foi assim que o Christian me enviou algumas de suas gravações. Tenho dois ótimos improvisos e passei a gostar do seu estilo.
Em 2006 ele realizou algo que considero uma proeza digna de um ótimo pianista, gravou um CD chamado Contradictions, com músicas de Michel Petrucciani. Foi um ato de coragem que deu certo, as composições de Petrucciani normalmente amedrontam os pianistas pela complexidade. Jacob se saiu muito bem e depois dessa não há como não reputá-lo como um expoente do piano nos dias de hoje.

JoFlavio disse...

Mario.
O Christian nasceu em Lorraine (1958), tipo menino prodígio. Aos 4 anos já atacava o piano. Ele tem 5 CDs na sua discografia:
01. Maynard Ferguson Presents Christian Jacob (1997)
02. Time Lines (1999)
03. Styne & Mine (1994), com temas de Jules Styne e do próprio Jacob.
04. Contradictions - A Look At The Music of Michel Petrucciani (2006)
05. Trio Live In Japan (2008)
Além de todos os discos gravados pela cantora Tierney Sutton - parece ser a mulher dele -, onde atua como arranjador e pianista. São 9 CDS, incluindo-se o recentíssimo American Road, que ainda Não tenho. Abs.

Andre Tandeta disse...

Colega, que bom te-lo de volta ao nosso lar!
E achei perfeitas suas observações sobre a acomodação dos ouvidos.
Aproveitando o embalo mando aqui um link de uma gravação ao vivo de Aaron Goldberg ,no Village Vanguard com um super conjunto : Reuben Rodgers,baixo, o sensacional Eric Harland ,bateria(um dos meus favoritos contemporaneos, adoro!) e Mark turner ,sax tenor. Predominando um repertorio autoral , Goldberg é um excelente compositor, o quarteto literalmente quebra tudo. Tenho certeza que voce vai gostar.
http://www.npr.org/2011/02/03/133241510/aaron-goldberg-trio-1-live-at-the-village-vanguard
Abraço e não desapareça,por favor

Palmeira disse...

Muito bom esse som na caixa!! Também assino embaixo quanto à acomodação. Fascina-me no jazz a sua diversidade. E, apesar de não estarmos mais na "era de ouro", há um quê (um muito, melhor dizendo) de pan-estilístico no jazz atual de que gosto muito, e para o que os europeus têm um papel essencial. Mas não acho que seja uma questão de EUA x Europa. O panorama do jazz nos USA também é muito diversificado. Pegue-se Dave Douglas, por exemplo, jazz pra todos os gostos. Todo o pessoal da cena de NY. Iyaier e Manhanttapa. Toda a linhagem Andrew Hill, que não e éxatamente mainstream, como Jason Moran. Há a linhagem Brookmeyer, com Maria Schneider à frente. Há a linhagem de Chicago, desde a década de 70 músicos extraordinários que, ao contrário do jargão dos "não ouvi e não gostei", fazem uma música que se é por vezes livre improvisação, no mais das vezes é muito fundada na composição, na linhagem Muhal Richard Abrams, Henry Threadgill e Anthony Braxton. Mas o jazz pianístico (em solo e em trio) talvez seja o grande solo comum, o grande esperanto do jazz. Pianistas espetaculares de todos os países, tocando materiais tão diversos. Não acho Jarrett ou Mehldau "previsíveis" no mau sentido. Certo, são reconhecíveis em sua "uniqueness", mas assim o são Hines, Tatum, Monk, Bud Powell, Bill Evans e todos os outros "founding fathers" do piano jazzístico. Eu não deixaria de incluir entre os pianistas "top" nos EUA Fred Hersch e Kenny Barron. Mas a cada vez que sou apresentado a um novo não-americano desses ... parece que a lista é infindável! De Pieranunzi tornei-me fã de carteirinha depois daquela apresentação aqui no MAM. De Adrian Iaies ouvi falar pela primeira vez pelo Sá no programa do J.Carlos. Da última vez que estive em Buenos Aires trouxe um CD duplo, ao vivo, lindo de morrer já a partir do título, "Cuando Dejo La Lluvia de Ser Sagrada?". Tem até "Nostalgias", o tango famoso. Falando nisso, não é novidade, mas finalmente consegui achar há cerca de um ano "Lachrimae", do Andre Mehmari. Sua "Dindi" é linda de chorar!
Grato pela recomendação. Jacobs incluído na wish list.
Abraços

Anônimo disse...

Corrigindo, estava com o nome de Adrian Iaies na cabeça e acabei escrevendo errado: é Iyer, Vijay Iyer.

JoFlavio disse...

Palmeira.
Lachrimae é CD muito bonito sim, concordo. Mehmari, um prodígio. Por falar em pianistas sul-americanos, vale citar o venezuelano Edward Simon e o colombiano Hector Martignon. Merecem atenção. Abs.

Andre Tandeta disse...

Voces conhecem um pianista americano radicado aqui no Brasil, vive entre Rio e BH, onde leciona na UFMG, chamado Cliff Korman ? Alem de super fera no jazz tambem conhece profundamente musica brasileira. Conheço ele de longuissima data, quando vinha ao Brasil de ferias.Toquei com ele ontem e posso afirmar que o homem é um fenomeno. Se ele passar perto de voces não percam.

JoFlavio disse...

Mr. Tenencio
Bom saber, colega. Se bem que hoje, assim como nosso Vitinho (Biglione), botafoguense da gema, estarei atento ao clássico contra a urubuzada. Assim como Mestre Raf. Sazinho vai sentir na pele a furia alvinegra.

Andre Tandeta disse...

Colega, veremos, o jogo só acaba no apito final do juiz . A Nação Rubro Negra ta mordida.
Futebol a parte, não deixe de conferir essa gravação ao vivo do Aaron Goldberg, maravilhosa performance do quarteto de feras. No site da NPR(radio publica americana) voce encontrara um arquivo incrivel de shows gravados no Village Vanguard.

Palmeira disse...

"Esse jogo não pode ser um a um" (Jackson do Pandeiro). Não podia, mas foi. O que acho incrível é o seguinte: outro dia, quando o Flamengo jogava contra o Corinthians, eu estava aqui naquela agonia de fim de jogo quando o Corinthians fez 2x1 no apagar das luzes. Ouvi foguetes! O Corinthians era o líder, o empate era ótimo pra todos os outros envolvidos, e alguém do arco-iris comemorava o gol que dava ao Corinthians mais dois pontos. Idiotice incrível!! Pra ser honesto, já vi isso acontecer ao contrário, Flamengo na frente do campeonato contra alguém e o Maracanã comemorando gol do São Paulo - que disputava com o Flamengo - no Vasco. Falando nisso, juro que não é secação, há algum tempo estou convencido que o Vasco é pule de dez. Depois do AVC então ... coisa de Nelson Rodrigues. Merecido, se for.

Voltando à música. Andei à cata do disco do Cliff Korman com Paulo Moura, Mood Ingenuo, depois de ter escutado Luiza, do Tom. Como é dificil comprar disco no Brasil. Se bobear, em Buenos Aires tem.

Saudações rubro-negras aos rubro-negros e cordialíssimas aos demais.

P.S.: Uma curiosidade. Como o Victor Biglione é botafoguense "da gema"? Ele nasceu no Rio?

JoFlavio disse...

Palmeira.
Conheceu alguém mais francês do que Yve Montand? Era italiano. Mais argentino do que Gardel? Era francês. Mais americano do que Irving Berlin? Era russo. Assim como Taiguara era uruguaio. E por aí vai...

Palmeira disse...

Caro JoFlavio,
De fato. Assim como Andre Previn era alemão e Frank Capra italiano. No cinema, aliás, os exemplos são abundantes. Muitos dos principais realizadores do grande cinema americano (e mesmo atores, como o romeno Edward G. Robinson e o inglês Cary Grant) não são nascidos nos EUA e alguns sequer lá foram criados. William Wyler era francês; Elia Kazan, turco; Fred Zinnemann, austríaco; Billy Wilder, austro-alemão-polaco, eu nunca soube direito; Michael Curtiz, húngaro e etc. Montand eu sabia que era italiano. E, falando em Argentina, Piazzola, "pintor musical de Buenos Aires", nasceu em Mar Del Plata e se criou ali e em Nova York. Mas saber que Gardel era qualquer coisa que não argentino me deixou estupefato!! A donde van las referencias? Aliás, segundo o Wikepedia, surpreendia até ele próprio, que era esquivo sobre o assunto e dizia ter nascido "aos dois anos e meio, em Buenos Aires". Mas, de qualquer forma, assim concluídas inquestionáveis a carioquice do Victor Biglione e sua condição de legítimo e fanático torcedor da estrela solitária, sempre entendi que "da gema" (só os cariocas parecem ser "da gema", nunca ouvi dizer-se de um paulistano ser "da gema") aplicava-se somente aos "nascidos e criados", aqueles que aqui já estavam desde que a gema se quebrou (ou, como diria o pernambucano carioquíssimo Nelson Rodrigues, desde o reinado de Ramsés II). Aliás, por falar em tricolores, "stricto sensu" nem Chico Buarque seria "da gema", se foi criado em São Paulo e seu ídolo de infância era Pagão.
Abraço