Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

YANKEE JAZZ WEEK 2 E 3

10 novembro 2010

Pulei deliberadamente o dia de ontem e deixei para fazer uma resenha comparativa entre dois bons guitarristas do cenario jazzistico americano, numa tentativa de contrapor o novo ao antigo e dai tirar alguma coisa que pudesse ser relevante. Nao consegui, confesso.

Acabo de chegar do Birdland, um dos templos sagrados do jazz, onde fui assistir a Jim Hall, esse icone inconteste da guitarra jazzistica. E o que tenho a relatar eh desanimador... Hall chegou ao palco apoiado numa bengala, a postura curvada de um anciao, em cena desanimadora para a plateia quase que inteiramente composta por japoneses. E se, particularmente, ja nao gostava muito dele, agora posso informar: Jim Hall esta quase morto e nao sabe.

Mesmo acolitado por jazzistas de qualidade como Greg Osby (as), Steve LaSpina (b) e Joey Barron (dr), o alquebrado Hall nao conseguiu sequer espantar o sono dos presentes. Para uma plateia de amantes, afinal o set das 23:00 nao eh para os fracos, o guitarrista, que nunca foi uma das minhas particulares escolhas, ofereceu aqueles mesmos surrados standards de sempre - Bag's Groove, In a Sentimental Mood, All the Things You Are, etc etc -, de forma muito burocratica. E o pior, numa guitarra cuja sonoridade remetia a um violao Gianinni rachado, a despeito de um pedal de efeitos que acionava com a mao! Nas melhores passagens, as mais "juvenis" de sua performance, nos riffs mais ousados ou em velocidade "alta", ainda continuava a demonstrar o mesmo cansaco que demonstrou ao subir no palco, e nem as intervencoes mais animadas de Barron e Osby, com total liberdade de tempo, conseguiram despertar a plateia, que ja antevia a volta as modorrentas linhas de Hall. Ou seja, uma noite de esquecer, sobre uma - confirmada em pleno - implicancia historica com o estilo de Jim Hall. Eu recomendaria que se deixasse, finalmente, que o velhinho se aposentasse. Cotacao: @

Ja o jovem fenomeno da guitarra, que surgiu no show-biz aos 13 anos, depois de uma associacao em tudo positiva com o tambem excelente pianista Taylor Eigsti - pudemos assisti-los ainda do Mistura Fina - embora pareca ter derivado, e Deus queira que apenas momentaneamente, para longe do jazz, serviu aos presentes ao Jazz Standard um set diamentralmente oposto ao de Jim Hall, fazendo com o seu quinteto uma apresentacao vibrante do primeiro ao ultimo acorde. Com a sua banda Sounding Point, composta do saxophonista alto Ben Roseth, do cellista Aristides Rivas, do baixista Jorge Roeder e do baterista/percussionista Tupac Mantilla, Julian Lage foi energia criativa escancarada por todos os locais do braco de sua tambem surrada guitarra mas com todas as sonoridades desejadas de forma cristalina, ao contrario das trasteadas cansadas de Hall.

Voltado para uma sonoridade menos americana em suas composicoes, que abrem espaco para a execucao livre e sem amarras sem no entanto transitar pela via do jazz tradicional e sim por sendas de acento mais internacional, Lage ofereceu um belo espetaculo de tecnica e inventividade, secundado pelos demais jovens do grupo. Especialmente quando fez um duo com o baixista, quando puderam acompanhar-se em filigranas superpostas com timing preciso de velhos parceiros, divergindo em variacoes para reencontrarem-se adiante, em belo tema de lage cujo nome nao pude registrar, mas que consta do ultimo registro do bom time de musicos, com destaque para o bom sax de Roseth e ainda a energia de Mantilla na percussao nao barulhenta do cajon e de timbales de pequeno tamanho.

Nao foi todo aquele jazz que esperava de Lage como o havia conhecido mas foi musica instrumental de primeira grandeza, garra e arte misturadas num resultado final muito recompensador. Cotacao: @@@


9 comentários:

Felipe Tinôco disse...

Escrevo um blog com sugestões de bons jazz. Façam uma visitinha! http://felipe-guz.blogspot.com/

Obrigado!

Anônimo disse...

Caros leitores do CJUB

Serei educado, como recomenda a chamada de comentários, embora não sinta o mesmo tom na postagem que acabo de ler.
Não ter muito (ou nenhum) interesse na música de determinado artista, por motivos que possam variar do estranhamento à incompreensão, é perfeitamente plausível e aceitável; a expressão desse sentimento, igualmente honesta. Entretanto, aproveitar-se de um momento frágil ou mesmo infeliz desse artista para comunicar e fazer valer uma opinião já de antemão construída sobre o mesmo, à guiza de preâmbulo para promover um nome mais jovem que, seja qual for, nem de longe inscreveu sua figura no cenário da guitarra jazzística de todos os tempos, é no mínimo um deslize.
Sugiro que na próxima vez o autor poste um assunto de cada vez, evitando aproximações infundadas e estéreis.

Seria, enfim, pelo menos mais educado com esse velhinho decrépito que nos seus melhores dias gravou (o único guitarrista a fazê-lo) dois memoráveis álbuns com Bill Evans, outros três com Sonny Rollins, outros quatro com Paul Desmond - todos eles referência para as carreiras desses próprios grandes músicos - além de ter merecido um "Tribute" de Keith Jarret por conta de sua incomparável (1975) interpretação do standard (também cansado?) "I Hear a Rhapsody"...
Também tenho minhas preferências. Costumo falar delas, e evitar os contra-exemplos.
Achei necessário dizer isto.

A todos os leitores, bom jazz, charuto (aos apreciadores), uísque e, principalmente, boa companhia!

Budi Garcia
Guitarrista (brasileiro) de Jazz

P.S. Seja educado, ou o banimento será o destino do blog...

Anônimo disse...

Ah, meus caros...


Ia me esquecendo!
Como mencionei o Paul Desmond, autor de um dos maiores sucessos comerciais de toda a história do Jazz - "Take Five" (que muitos imputam a Dave Brubeck, o líder do quarteto), gostaria de mostrar-lhes a que nível chegam o cuidado e o respeito com que os yankees tratam sua memória e protagonistas, visível em recente comemoração (in advance) dos 90 anos de Brubeck!

http://www.youtube.com/watch?v=H1jWlpMQW3Y

Isso ainda nos difere deles, e muito...

Saúde, sorte e som a todos!
Budi

Guzz disse...

Caro Budi
o espaço é aberto para isso mesmo, críticas principalmente

é fato que Jim Hall foi/é referencia para muitos guitarristas, teve um modelo de guitarra especialmente construido com seu nome pela Sadowski e como voce mesmo disse fez discos soberbos como sideman do Rollins e Chet Baker (Concierto) e nos seus duos não só com Bill mas com Ron Carter e Pat Metheny, que o tem como um ídolo
são discos obrigatórios, com certeza

em seu último concerto em video (com qualidade) que tenho, Baltica 2005, em quarteto, ele tambem deixou muito a desejar

a idade pesa, mas a intenção do post não foi desmerecer o músico Jim Hall, foi uma impressão

assim como voce eu tambem sou um fã das guitarras

MauNah disse...

Budi,
O que estressei aqui foi que - independente do meu gosto pessoal - Jim Hall não está mais gerando música agradável de se ouvir, menos pelo seu inatacável arsenal de conhecimento, mas porque, fisicamente, não se encontra em condições de transmitir, mecanicamente falando, suas idéias às cordas do instrumento. O resultado é ruim porque sua empunhadura está desgastada, seja pela redução dos movimentos das articulações da mão esquerda, seja por fraqueza dos dedos, gerando um som "sujo".

A consideração que fiz, quanto ao meu gosto pessoal - e que é e sempre foi NÃO GOSTAR do estilo de Hall - é própria e portanto inatacável. Sem prejuízo da sua (dele) importancia para o panorama jazzístico.

Em contrapartida, Lage, mesmo jovem e inexperiente, executa tudo de forma primorosa.

Sinto se não entendeu mas a intenção era dar esse viés à conversa.

Todo debate é bom, e gostaria que vc. voltasse sempre para expor seus pontos de vista, embora eu me reserve o direito de escrever da maneira que me parecer mais adequada. O que me sujeita, claro, a todos os tipos de entendimento, ou não.

Abraço!

Anônimo disse...

Caros Guzz e MauNah,


Fico feliz em ler essas linhas de acolhida e apoio, eu que já havia escrito ao blog tentando me retratar e até pedindo pra que removessem meus comentários...
Gostaria de registrar o desconforto que me trouxe escrever aquele P.S. do primeiro comentário, pelo que peço desculpas aqui publicamente ao MauNah.

De volta a Hall, tenho certeza de que o músico não produz mais suas melhores notas, e não discuti isso em momento algum. A idade pesa sim, e pode ser que ele precise mesmo se aposentar, mas ainda prefiro celebrar sua contribuição para a guitarra jazzística a registrar o seu movimento de queda.
É uma questão de opção. Também, prefiro falar dos músicos de modo amistoso, por isso estranhei o tom da postagem, e que se estende à parte que fala do Lage, com aquelas comparações que continuo achando impróprias. Mas, é apenas um debate.

Aliás, Jim Hall nunca primou pelos dedos, e sim pela cabeça, potente e articulada, de escolhas pouco convencionais. Ele não se fez refém de suas próprias fórmulas, levando-as à exaustão como faz a maioria dos músicos de jazz que obtém algum grau de notoriedade logo cedo. Ao contrário disso, foi um artista inquieto, mutante, que conseguiu manter uma ativa interlocução com músicos de várias correntes por mais de cinco décadas, sendo observado e respeitado por gerações de guitarristas de jazz.

Jim Hall não é um guitarrista modelo, nem burocrático, tão pouco sintático. É crítico, agudo, bem humorado, leve, tudo o que a guitarra e talvez o próprio jazz têm deixado de ser. É prova de sua capacidade de elaboração e síntese a citação de "Round Midnight" em meio ao solo de "Blue Monk" (Live at Village West, 1982, duo com Ron Carter), simplismente um disparate! Torto, brilhante.

Talvez seus dedos nunca tenham conseguido verter plenamente em música suas ousadas idéias musicais e de arte.
Faltam-lhe os dedos.
Talvez seja mais sensato dizer
"Jim Hall: Guitarrista. Proprietário de um cérebro".

Abraços,
Budi

SAZZ disse...

É minha gente não posso deixar em branco, principalmente quando aqui comentei a apresentação que assisti esse ano também em N.York, do Frank Wess nos seus 88 anos e principalmente pelo pianista convidado de sua última noite no Dizzy's que foi o Hank Jones aos quase 92, no seu último concerto em vida onde fiz questão de enaltecer o respeito do publico presente do qual me incluí, independente da qualidade musical em que pese suas idades.

E VIVA OS OLD LIONS ! ! !

Anônimo disse...

Prezado SAZZ,


E viva "all the lions"... rsrs

Abraço,
Budi

Anônimo disse...

Olá, caros todos,


Sem tristeza, com muita gratidão, escrevo aqui para registrar a passagem do maior guitarrista de jazz de todos os tempos, JIM HALL!
Ontem, em meio às buscas por detalhes de sua morte, bateu uma saudade curiosa por novidades do mestre, e me deparei com o registro de uma associação com o jovem Julian Lage.
Lembrei-me imediatamente deste episódio aqui, um pequeno desconforto que logo, eu e o prezado MauNah, tratamos de contortnar, afinal, o jazz nos une, não nos separa…
E a paz fica selada em definitivo com o que verão abaixo, em grande estilo:

http://www.youtube.com/watch?v=m--NGJ12lgs

- Aos 4'00" Hall inicia sua fala de admiração por Lage;
- A 9'08" o breve olhar terno de Hall em aprovação a uma passagem musical de Lage;
- A partir dos 9'45" é a vez de Julian falar do mestre, como todo reconhecimento que ele tem e merece. Faço minhas algumas de suas palavras sobre Jim Hall: "He's my number one heroe" e "He plays the better stuff I've ever heard".

Fraterno abraço a todos, em especial ao Mestre Raf.

Budi Garcia