Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

Histórias do Jazz n° 71 - Os "Icaraí Boys"

19 fevereiro 2010


Essa história foi extraída de uma matéria que escrevi para a revista da AABB, atendendo a pessoas que queriam saber a história de noso conjunto. Ei-la :
Atendendo a um pedido do amigo João Motta tentarei aqui relembrar alguma coisa dos “Icarai Boys”, conjunto musical integrado por jovens, que teve uma breve existência mas que divertiu quem tocava e quem ouvia. A época, meados da década de quarenta, quando ainda imperava o romantismo e a música era bela, fosse qual fosse a sua origem.
Reinaldo de Araújo Lima e Luiz Carlos Antunes eram vizinhos, gostavam de música e tocavam piano. Reinaldo estudara em conservatório,sabia música, mas Lula, embora tivesse tido aulas de piano,desistira porque não gostava de partituras e tirava tudo de ouvido. Quando conseguiu sua bateria, Lula, já atraído pelo Jazz , deixou de lado o piano. Nas conversas com outros amigos surgiu a idéia da formação de um conjunto, que contou com Tião Neto ao violão tenor e Eduardo Malheiros ao contrabaixo, O ritmo foi completado por Eduardo Castro Alves aos bongôs ,e Rafael de Araújo Lima e Urbano Antunes nos outros instrumentos de percussão. As vezes contavam com um segundo violão tocado por Moacir. Interessante notar que tudo era tocado de ouvido, não havia partituras e funcionava regularmente, somando a vontade dos músicos com a boa vontade dos ouvintes, nem sempre pacientes quando os ensaios eram na casa de Lula.
Vieram os bailes, geralmente nos colégios Anchieta e Bittencourt e no saudoso Hotel Ingá. Boleros, baiões, sambas e os antigos fox-trots compunham o repertório, executados dentro dos padrões da época que ,para os mais adiantados tinham a definição de “Quadrado”.

AS “SERESTAS”
Era hábito do grupo realizar serestas após os bailes,geralmente dedicadas as namoradas . Era interessante um coro de quatro vozes, harmonizadas por Tião Neto e acompanhadas por dois violões e o contrabaixo de três cordas de Eduardo Malheiros. Diga-se a bem da verdade que nunca houve qualquer reação contra os rapazes, como também nenhuma namorada abriu a janela para ouvir melhor.

AS “ESTICADAS”
Aconteciam após os bailes onde geralmente não se comia nem bebia. Algumas vezes iam para o Daniel (esquina de Moreira César com Miguel de Frias) comer uma deliciosa fritada de camarões acompanhada por uma cervejinha gelada ou para o Praia Bar (hoje Chalé), apreciar um sanduiche com refrigerante. Tudo dependia do dinheiro que cada um dispunha.


UM SUFOCO
Num dos bailes programados para o Hotel Ingá, Reinaldo adoecera e não poderia tocar. Tentou-se um substituto mas, todos os pianistas disponíveis estavam compromissados. Caberia a Lula “quebrar o galho”. Confesso que meu repertório não daria nem para cinco minutos de baile e após as duas primeiras musicas, já temendo um insólito desfecho, suspirei aliviado com a chegada de Tiãozinho, que era dentista e também um excelente pianista. Aliviado, assumi a bateria e Rafael voltou para as maracas, tudo terminando bem.
Com o tempo fui desistindo do grupo e o conjunto prosseguiu administrado agora por Eduardo Castro Alves. Lembro-me bem do ultimo baile que toquei. Foi no Grupo de Regatas Gragoatá, com o conjunto reforçado pelas presenças de Julinho ao clarinete e Afonso Chiozzo ao acordeon.
Dos integrantes dos “Icarai Boys”, Reinaldo continuou com o seu piano por aqui e depois Brasília, para onde se mudou definitivamente. Tião Neto seguiu carreira como musico profissional, atuando com Sérgio Mendes, o Bossatrês e finalmente com Tom Jobim, tendo falecido em 13 de junho de 2001; esse que escreve essas notas dedicou-se ao Jazz, mantendo por 29 anos um programa de rádio (O Assunto é Jazz) e escrevendo em órgãos de imprensa sobre o assunto; Eduardo Castro Alves continuou mantendo conjuntos musicais até o seu falecimento e Eduardo Malheiros,segundo soube, faleceu há algum tempo.
Não poderia omitir o prefixo do conjunto, um bolero intitulado “Estoy solo”, levado para o grupo por um rapaz chamado Laércio, que gostava de cantar com a gente nos bailes e era um sucesso.
A foto que ilustra a matéria foi tirada em 1948, durante um baile efetuado no Colégio Anchieta. Da esquerda para a direita Reinaldo de Araújo Lima,Rafael de Araújo Lima, Eduardo Castro Alves, Tião Neto, Urbano, Luiz Carlos Antunes e Moacir. Bons tempos aqueles.
Aqui fica o registro dos “Icaraí Boys”, grupo que deixou saudades,pelo menos para os seus integrantes que ,se divertiam tocando para os outros dançarem.

8 comentários:

LeoPontes disse...

Bem que estes bons tempos poderiam voltar, desde que, alguns meninos nem tão meninos assim pudessem renascer das cinzas. Há muita gente boa por aqui e aí. Pena que os desejos não sejam mais os mesmos, embora mais velhos, para musica, sempre seremos meninos.
A sorte está lançada !

Abrçs a todos
Leo

APÓSTOLO disse...

Mestre LULA:
Bons tempos, boa música, boa camaradagem e memórias que o tempo não apaga, nunca !
Essa já foi para o arquivo consolidado das "Histórias".

Andre Tandeta disse...

Arrasou,Lula! Lembranças muito bacanas e voces viveram uma epoca muito interessante da musica no Brasil.
E só agora que fiquei sabendo que somos colegas,mais o JoFlavio somos tres .
E lembrando do saudoso amigo Tião Neto,uma figura especial e um grande musico.
Mande mais historias,se possivel com fotos .
Abraço

Beto Kessel disse...

O Malheiros citado tem parentesco com o tambem musico e baixista, Alex Mlaheiros, que tocou com Joese Roberto Bertrami e Ivan Conti (mamao) no azimuth (pergunta)

Abracos,

Beto Kessel

Obs. Parece que OS CARIOCAS lancam novo album na segunda feira na MS

Anônimo disse...

Alô Beto,
Eduardo Malheiros era tio do Malheiros do Azymuth, cujo pai também era contrabaixista (Zezinho) que tocava no "Icaraí Serenaders".
abcs.
llulla

Mau Nah disse...

Mestre LLulla,
que beleza de relato, evocando tao belos tempos de amizade e musica saudavel. Minha estada no Rio neste Carnaval me mostrou o que pode haver de pior no que se considera "musica" e, mais catastrofica realidade ainda, a total falta de educacao do povo do (Estado do) Rio. "Porco", como disse o Paes, eh um elogio aa populacao que detonou a cidade.
Ainda bem que encontramos refugio numa viagem no tempo como essa que vc. contou, repertorio de nocoes de camaradagem e romantismo (pouco eficiente, pelo visto, hehe).
Parabens!
P.S.: parece que esta em votacao uma lei que transforma o Turismo em "atividade exportadora", o que faria com que o setor pudesse receber incentivos e subsidios, hoje nao aplicaveis. Quem sabe abre uma vertente para a volta dos grandes festivais de jazz? Afinal, estes sao atrativos de peso em inumeras cidades mundo - civilizado - afora. Abracos.

John Lester disse...

É. Marcial, o poeta latino, dizia que 'o homem bom amplia o espaço da sua vida: poder usufruir da vida passada é poder viver duas vezes' e, mais recentemente, disse Pavese, o escritor italiano: Le cose si scoprono attraverso i ricordi che se ne hanno. Ricordare una cosa significa vederla - ora soltanto - per la prima volta.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Grato a todos pelas manifestações de carinho.
Abcs.
llulla